sábado, 3 de maio de 2008

Aguentar

A meio do almoço o assunto veio à baila, vem sempre, evito-o a todo o custo, mas eles não se esquecem. Ao princípio era só de vez em quando, mas agora é constantemente, sempre que me telefonam ou estamos juntos:
- Sabes quem esteve lá em casa esta semana? - pergunta-me ela com um sorriso meloso.
- Pela tua cara babada foi um bebé, de certeza. - respondo eu com ar de "pronto, vai começar".
- E foi mesmo, a filha do F. tão linda, tão pequeninaaaaa!!!
E eu não posso dizer nada do que quero, neste caso aprendi a ficar calada mais depressa do que nos outros, respondo meio torto, sem vontade de continuar a conversa, deixo-os ficar com a sensação que é assunto que não me interessa. Acho que eles pensam que sou eu que não quero ter filhos, é essa a mensagem que transmito, é essa a minha defesa.
Mas eles não desistem, já não é só a minha mãe, o meu pai também começa a falar nisso (a irmã dele já é avó, e o outro irmão será em breve, só falta ele) e a minha avó aproveitou a deixa "Não me deixes morrer sem um bisneto". Melodramática ao máximo.
Eu vou cortando a conversa como posso, com umas piadas pelo meio, muito evasiva, sem dar nenhuma resposta ou explicação. E o assunto acaba por morrer ali. Morrer não, fica só adormecido, à espera de uma nova oportunidade de surgir. Enquanto fôr assim aguenta-se bem, tenho medo do dia em que eles quiserem falar disso a sério, perguntar porquê. Não queria chegar a esse ponto, mentir-lhes descaradamente, inventar uma desculpa que não existe.

7 comentários:

  1. Nao será melhor abrir o jogo com eles? Assim paravam de te torturar, não?

    PS: Só estou mesmo a perguntar, não a criticar, aconselhar ou qualquer outra coisa que possas pensar! É um assunto muito delicado e cada um o gere como acha preferível tendo em conta a sua personalidade e a dos que compõem a família!

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  2. free, infelizmente não posso fazer isso porque a minha mãe, por questões de saúde, não está preparada para aguentar os nossos problemas, e fica a sofrer mais do que nós. Faço isto para a proteger.
    Ao meu pai, não posso contar porque mais cedo ou mais tarde desbroncava-se todo à minha mãe, que eu bem o conheço.
    Obrigado pela preocupação.
    Um abraço

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  3. é tocante a tua preocupação com os teus pais :)
    Um bjo*

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  4. S., preferia que não tivesse de ser assim, era sinal que eles eram mais fortes e eu podia pedir-lhes colo em vez de estar sempre a fazer-me de forte.
    Um abraço

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. mcg, sem querer apaguei o comentário, mas o que interessa está guardado. Obrigado pelas palavras reconfortantes :)

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