quarta-feira, 31 de março de 2010

Fico tão feliz por saber

Telefonema a meio da tarde, só para saber como está a mãe.
Para minha alegria, ouço um "olha filha, estou a jogar dominó com os meus amigos". Já voltou ao voluntariado, às visitas aos "seus" velhotes. Está a recuperar a sensação de que é útil e ainda tem muito (mais do que ela imagina) para dar.
E eu acabei de ganhar o dia.

terça-feira, 30 de março de 2010

Esta cena vale pelo filme todo

Stacy "Fergie" Ferguson
"Be Italian"
Nine OST


Estou bem, obrigadinha

Eu sou tão esperta, mas tão esperta, que no dia em que tenho consulta da medicina do trabalho venho de vestido e meias de renda. Coisinha mais prática para se usar quando é preciso fazer um electrocardiograma, que inclui ventosas coladas no peito, debaixo do braço e nos tornozelos. Pouco faltou para me despir toda.

(e ficou medicamente comprovado que tenho um coração mole... 63 batimentos por minuto... compasso certinho e calminho, que é para não se cansar. O meu coração é que sabe...)

Pronto, agora é que estragaram tudo!!!!



E quem é que me leva a Lisboa num instantinho??

domingo, 28 de março de 2010

Algo vai mal no reino da Dinamarca

O que é que a je faz quando se apanha sozinha em casa?
Depilação. Creme de abóbora com muita hortelã (do meu vaso lindo oferta do sogro). E gelatina.
Ou seja, tudo coisinhas de que o menino vai poder usufruir quando voltar a casa cansado e enlameado de um passeio de TT para onde foi às 8 da manhã.

Preguiçar (II)

Tomar o pequeno almoço às 8 e voltar para a cama. Para ver o Parnassus. E voltar a dormir até ao meio dia e meia.

Mychael Danna & Jeff Danna
"Tango Amongst The Lilies"
The Imaginarium of Doctor Parnassus OST

sábado, 27 de março de 2010

Foi há um mês.
Pensei nisso quando me vi sozinha dentro do carro, e olhava Constância enquanto passava a ponte, no ponto onde a vista é mais bonita, parece uma ilha ao longe, com as casas todas aninhadas e a igreja lá em cima.
Fui ver a minha afilhada sabendo que não tiveste a oportunidade de levar um neto ao café, pela mão, e comprar-lhe um gelado, como fazias connosco. Sonhei-te tantas vezes assim, com uma menina de totós pequenina e com passos de boneco a pilhas pela mão, a atravessar a rua a caminho do café. Vais vê-los quando nascerem, sei que vais acompanhá-los e protegê-los, mas eles nunca vão ouvir a tua voz.
Sabes que é disso que sinto mais falta? Nem é tanto de ver-te, é de ouvir a tua voz. Ainda custa pensar que não vou voltar a ligar o teu número, porque guardámos o cartão numa gaveta, era o teu número, mais ninguém vai usá-lo.
Imagino-te agora com uma camisa clara, mangas arregaçadas, calças de ganga e um sorriso largo, como quando nos contavas piadas secas mas nós ríamos sempre.
De vez em quando surge-me assim do nada uma lembrança de um qualquer pequeno episódio, daqueles que uma pessoa só recorda depois, acho eu. Só os bons, aqueles que me arrancam um sorriso. Que foram quase todos. Foste um bom pai.

Momentos (CIII)

Com um sol maravilhoso a entrar a jorros pela janela, era um crime ficar em casa hoje.

Fofura

Visto aqui.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ouvir e sentir (CVI)

Porque hoje é sexta-feira!!!

Sigur Rós
'Inní mér syngur vitleysingur'

quinta-feira, 25 de março de 2010

Cativar



Christina Aguilera
"Save Me From Myself"

quarta-feira, 24 de março de 2010

Já me estão a estragar os planos...

- Olha, não pediste para me irem entregar flores ao trabalho, pois não?
(mania de ler o pensamento das pessoas, rais o partam...)
Depois de ver a minha cara retorcer-se sem saber se devia mentir ou não:
- Não faças isso, amanhã há auditoria... Podes dar-me as flores em casa...
- Mas não é a mesma coisa.

(Amuei. Não há flores para ninguém!)

Amanhã...

... será um dia quase normal. Este ano não planeei nada. Mentira, planeei o presente, comprado hoje mas pensado desde o Natal, sabia bem o que lhe queria oferecer, algo que ele valorize, uma experiência inesquecível como foi o baptismo de voo. Mas será talvez a única coisa diferente num dia que eu gostaría de fazer especial, que eu faría especial (como fiz noutros anos), se não estivesse ainda um bocadinho de nada magoada e desapontada.
You get what you give, e se calhar não é a altura certa para o dizer, devia estar a preparar mimos para o meu companheiro que vive para o trabalho, sonha com amortecedores para o jipe, e sofre de um estado permanente (e cada vez mais preocupante) de cansaço crónico. O meu marido que faz amanhã 36 anos. E que diz que não liga nenhuma ao dia de aniversário.
Estou a ser má e um pouco (ou muito) injusta, tenho noção disso, há sempre duas versões da mesma história (para blog cheio de energia positiva, isto hoje está bonito, está...), só ainda não percebi se estou irritada com ele ou comigo por não conseguir mais, não arrancar mais sorrisos, não tornar o dia-a-dia mais alegre e leve, não ser prioridade. Tento fazer o mesmo, ser também assim, afinal "aquilo que dás a uma mulher ela vai devolver-te multiplicado", é certinho, o pessoal pensa que é gozo mas não é, temos esta capacidade única de guardar tudo, não esquecer nada, o bom e o mau (principalmente o mau) porque um dia pode fazer-nos falta, um dia pode servir para atiçar um fogo infernal ou gelar um sentimento.
Mas eu sou fraca e um coração mole e não consigo ficar indiferente. E lembro-me da frase que não gosto de ouvir porque sou caprichosa, mas que é a mais pura verdade e faz todo o sentido, só tenho de a aceitar: "Só porque alguém não te ama da forma como gostarías, não quer dizer que não te ame com tudo o que tem". Vou fazer um ramo de chupa-chupas. E escrever PARABÉNS!! numa folha A4 e colá-la na parede da banheira, para ser a primeira coisa que ele veja quando se levantar de manhã. E mandar entregar-lhe um ramo de 6 rosas brancas no local de trabalho. Para o envergonhar à grande. E para mostrar que ele é amado. Ainda e sempre.

terça-feira, 23 de março de 2010

Fantasia

(Eu também devia ter um bocadinho mais de "muiticidade"...)

The All-American Rejects
"The Poison"
Alice in Wonderland OST

segunda-feira, 22 de março de 2010

Estado de sítio

Tenho uma porca barricada debaixo da mesa da cozinha (e já estive mais longe de ir buscar a arma de airsoft e espetar-lhe uma BB entre os olhos).

Melhorar

1 da manhã - arrastei-me para fora da cama para trocar o pijama ensopado em suor.
6 da manhã - levantei-me para trocar o pijama ensopado em suor.
9.30 hrs - ganhei coragem para tomar um banho e ir trabalhar (mas antes troquei os lençóis ensopados em suor).
10.00 hrs - recebo um sms da cunhada "o teu irmão tá de cama".
- Deixa-me adivinhar, febres altas e dores no corpo todo.
- Nem mais. 39.5º e não baixa. Tu também?
- Sim, mas já estou melhor (enquanto ouço a minha mãe pelo telefone a dizer que não lhe bastava um com que se preocupar).
19.30 hrs - fazer um bolo de iogurte com raspas de chocolate, enquanto nos rimos com o espectáculo das porcas tresloucadas à solta pelo chão da cozinha, aos saltos de contentamento mas que mais parece que lhes estão a dar choques eléctricos (tentar apanhá-las daqui a bocado vai ser outro espectáculo inesquecível...).

Chamar o Verão

"Solário" com cheirinho a sal do mar...

Daniela Mercury
"Ilê Pérola Negra"

domingo, 21 de março de 2010

Demasiado tempo livre...

... dá nisto...

Isto não estava no programa

Náuseas, diarreia, febre que chega para ensopar um roupão em suores frios, dor de cabeça, dores no corpo todo.
Ele foi um querido , fez-me chá, deixou-me sossegada a dormir no sofá e foi às compras, trouxe espetadas grelhadas para o almoço e pôs uma máquina de roupa a lavar.

Desejar *

Só queria um. Um qualquer.

* Com água na boca e olhos de Gato das Botas arrependido e miserável...


sábado, 20 de março de 2010

Momentos (CII)

Passar a manhã de pijama, a dormitar no sofá, com a cadela aos meus pés e a mãe sentada ao meu lado. Sempre que abria os olhos ela estava a olhar para mim, embevecida.
Folhear a Playboy de Março no café da rua e discutir com o dono a problemática da intelectualidade exagerada da revista "quem compra isto não está interessado em ler entrevistas com o José Luis Paixão!".
Acabar o dia com duas chávenas de chá verde com jasmim (para a próxima experimento o chá de prata...), conversa boa e companhia calorosa, numa noite morna que já lembra Primavera.

Babar(-me)

"Eu tenho de te dizer uma coisa. Eu adoro o teu blog. A sério, quando estou triste vou lê-lo. Vês sempre o lado positivo de tudo."

(se não o fizesse dava em doida...)

Onde é que eu já vi isto?

Em vez de cerveja foi moscatel. Em vez de um irmão tive a companhia dos dois. E uma bebé com dentinhos de mentirosa e que quer correr quando ainda mal sabe andar. Em vez de snooker treinei a mudança de fraldas. Uma cagada até ao umbigo (cruzes, credo!). O palmier foi recheado com creme de ovos e não com o maravilhoso creme de natas que é a minha perdição (já estava esgotado). O carocho não apareceu. E a C. passou com uma roda do carro por cima do pé do N. (foi sem querer).
De resto, a noite foi igual à da semana passada.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Superar

Hoje custou um bocadinho. Não telefonar. Não ouvir a voz dele. Não desejar um Feliz Dia do Pai.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Inesperado (V)

Ir experimentar o brinquedo novo para as 52 curvas que ele conhece como a palma da mão e que põem à prova a perícia de condutor, não eu, claro, se não tive vontade de conduzir a Alfa Romeo linda de morrer, não ía agora estragar as minhas unhas nesta carrinha que pode ser um bicho mau a acelerar - que é mesmo, e agarra-se à estrada como uma lapa - mas é feinha e eu estou cansada e não me apetece (adorei o pormenor dos mostradores):


Uma açorda de marisco acompanhada de flutes de Vinha das Garças branco fresquíssimo. Pena a conversa não ter sido melhor, mais ligeira e sobre nós, por exemplo, mas é natural, há assuntos sérios a serem resolvidos, e a opinião dele é importante, dá-me uma perspectiva mais isenta e objectiva.
Uma planta mimosa à minha espera em casa do sogro, prenda de anos atrasada mas nunca esquecida.

O sorriso da minha afilhada bem-disposta e cheia de vontade de andar, que chama o pai por tudo e por nada e está a ganhar caracóis (vai ficar ainda mais bonita, se é que isso é possível).

Se ele tivesse ido para as aulas não tínhamos saído para jantar. Se não tivéssemos seguido naquela direcção da IP não tínhamos ído àquele restaurante. Se não tivéssemos jantado ali não tínhamos feito as curvas. Nem parado em casa do meu sogro. E se não tivéssemos demorado mais alguns minutos a apanhar folhas de couve para as porcas, não tínhamos visto o carro do Z. no cruzamento, na altura exacta em que ele ía para casa. E eu não tinha visto a princesa.
Tudo acontece por uma razão.

Assim não há condições!

Como é que querem que eu me concentre no trabalho quando tenho de ver imagens destas, hum?

quarta-feira, 17 de março de 2010

Ouvir e sentir (CV)

Amy Macdonald
"Don't tell me that it's over"

Espantar o Inverno

Abro as janelas para deixar entrar os últimos raios de sol do dia. Limpo a lareira. Limpo a casa. Acendo uma vela com cheiro a morango. Dou folhas de couve às porcas que ficam histéricas quando ouvem um saco de plástico ou a porta do frigorífico a abrir. Ouço-o falar do brinquedo novo "aquilo é o demónio com rodas, a sério, parece um jogo de computador!". E mudo as minhas plantas para vasos maiores.
Sabe-me a recomeço.

Momento (CI) *

Entro na oficina onde deixei o carro de manhã porque um pneu andava a perder ar. O rapaz explica-me com um ar meio envergonhado que tinha mudado a câmara de ar, etc e tal. Pergunto quanto devo. Responde-me "não é nada". Eu insisto, mas o rapaz diz que fica para a próxima. Desisto quando o vejo corar.
(Quando era loira não me aconteciam coisas destas...).

* Ou "tenho de ser eu a levar os carros à oficina, está visto..."

terça-feira, 16 de março de 2010

Conversas ao jantar (XXII)

Sobre o facto de ele ir receber este carro de substituição


enquanto o jipe vai ser arranjado depois da passa que lhe espetaram a semana passada (8 e meia da manhã, polícia a bater à porta outra vez, "O jipe estacionado aqui em frente é seu? É só para avisar que lhe bateram"):
- Até estou com nervoso miudinho...
- Pareces os putos na véspera de Natal!
- Como é que eu te consigo explicar: imagina que ías sair de casa amanhã com umas botas xpto e uma mala do Luis 21. É algo diferente dos outros dias, uam quebra da rotina...
- Oh amigo, mas se tu queres uma quebra da rotina, é só dizeres.
- Mas tem de ter rodas... e tu agora dizias "o aspirador também tem rodas", com essa calavas-me num instante.
- Eu ainda não atingi o teu nível de respostas na ponta da língua.

- Amanhã vou começar aos gritos dentro do carro, vais ver...

domingo, 14 de março de 2010

Momentos (C)

Dar colo e mimos e milhentos beijos nas bochechas macias da minha afilhada linda e terrorista, que está quase a fazer um ano, já dá uns passitos sozinha, faz birras descomunais e atira ao chão tudo o que consegue agarrar com as mãos pequeninas, para depois apontar com o dedo enquanto olha para nós com o ar mais inocente do mundo, à espera que apanhemos.
Ver um balão de ar quente passar por cima de nós, e apontar para o céu para lho mostrar.
Ver o barco de madeira a remos que o avô dela fez ali mesmo no quintal, está perfeito, pintado de branco e com o nome "Avô", só falta pô-lo no Tejo para uma pescaria à moda antiga.
O mesmo avô que há uns anos atrás se lembrou de plantar cannabis no quintal, junto ao muro. As plantas chegaram ao metro e meio de altura, antes da polícia entrar por ali e arrancar tudo. Encheram o jipe da GNR com 50 kilos de erva. Devem ter feito uma festa.

sábado, 13 de março de 2010

2 semanas

Ainda conto os dias.
E falo com ele como se ele estivesse a ouvir.
Porque acredito que ouve mesmo.
Boa noite, pai.

Eu avisei...

No regresso a casa depois do jantar, ele decide fazer um desvio "só para ir ver como está a ribeira".
- Não devias ligar as 4?
- Não, vamos devagar...
Passados dois minutos estamos atascados, jipe enfiado numa vala e só seguro por um balseiro. Lindo. E enquanto saio e enfio as botas de cavaleiro arraçadas de galochas na poça de lama peganhenta, só penso que estive quase quase a escolher uns saltos altos para o jantar (e também pensei porque é que ele nunca me dá ouvidos e não ligou logo a porra da tracção às 4!).

Conversas ao jantar (XXI)

Sentados na mesa do canto no sítio do costume, em frente ao enorme aquário cheio de sapateiras e lagostas:
- Em vez das porcas podíamos ter duas sapateiras como animais de estimação.
- ???????????????
- Sim, comprávamos um aquário, mas em vez de peixes tínhamos sapateiras. Só tinha de descobrir o que é que elas comem...

Momentos (XCVIII)

Ir com a mãe ao cabeleireiro e convencê-la a mudar de corte (valeu a pena só dormir 3 horas e meia).
Descobrir a Obra do Padre Abel, uma instituição que acolhe crianças em risco para além de prestar outros apoios a grupos carenciados, onde fomos entregar as roupas do meu pai. À entrada uma carrinha estava a deixar um grupo de crianças e adolescentes, e no meio deles, uma menina pretinha de 8 ou 9 anos dava a mão a outra, talvez com 5 anos e muitos caracóis louros. Que ternura. Estacionamos o carro debaixo do alpendre e começamos a descarregar os sacos, um puto de 10 ou 11 anos vestido à dread vem perguntar se precisamos de ajuda. Assim que entregamos tudo, desaparece com um meio sorriso e sem uma palavra.
Trocar um saco cheio de fruta por um casaco de pêlo macio com 20 anos (não foi bem uma troca, a mãe ía dar-me o casaco à mesma, está guardado no armário há pelo menos 10 anos, por a faz parecer "ainda mais gorda").

Conversa de mãe...

... e resposta de filha...

- Querida, sabes o que é que eu estive a pensar? Isto pode não querer dizer nada, mas eu nasci a dia 3, o teu pai nasceu a dia 4, e nós fizémos 34 anos de casados, e não chegámos a fazer os 35. Se calhar já estava destinado só estarmos juntos durante 34 anos.
- Deixa cá ver, eu nasci a 23, ele nasceu a 25, quer dizer que vamos estar juntos 2325 anos... tá bem....

Isto merece ficar registado

A sério, tenho de escrever para não me esquecer desta noite surreal, daquelas que não são planeadas nem previstas, mas que acabam por ser as melhores.
Enfiei-me no comboio para Lisboa, uma visita de médico para ver como estava a mãe e os putos, mas que de médico não teve nada, porque foi tudo menos saudável. À minha espera na Gare do Oriente, no lugar de sempre, o puto mais velho, que me levou à casa que voltou a ser dele também porque se mudou de novo, com a minha cunhada e o D., para a mãe não estar sozinha. Agora, só sai de lá para ir para a primeira casa dele, aqui perto de mim.
Carro estacionado e ele sai-se com um "e que tal um aperitivo antes do jantar?". E assim começou a noite, no café da Ti Maria que já foi a tasca mais tasca daquele bairro, mini para mim, média para ele, garrafas numa mão e cigarro na outra (à porta, claro), ouço-o falar no amor que sente (aliás, passei a noite toda a ouvi-lo babada de felicidade por sabê-lo feliz), e nisto aparece um carocho que mora perto, a pedir uns trocos. O meu irmão conhece todo o pessoal que pára ali à volta, dos velhotes que passam horas a jogar às cartas ou ao dominó aos janados que não fazem mal a ninguém a não ser a eles próprios, como este, que continuava a insistir que só precisava de 60 cêntimos, e que amanhã lhe pagava. E ele com uma paciência de santo lá lhe ía dizendo que não, dinheiro para copos de tinto não lhe dava, "dou-te um cigarro, se quiseres, vai mas é para casa enquanto ainda estás bonzinho, olha para essa cara toda negra, ontem não estavas assim" e o carocho a dizer que não, ontem tinha caído dumas escadas, e nós a trocarmos olhares e a pensarmos a mesma coisa sem o dizer "levaste foi um arraial de porrada". Quando viu que não ía receber as moedinhas virou-se e acho que só nessa altura é que percebeu que eu estava ali, e fez tenção de se aproximar para me pedir a mim o guito. E num gesto instintivo que possivelmente nunca vai desaparecer, o N. segurou-o pelo ombro "oh, com ela não te metes" e diplomaticamente convidou-o a ir dar uma volta.

Depois de jantarmos só os três, porque é "fim-de-semana de pai" para o D. e dia de curso para a C.; e de eu confirmar com alívio e gratidão que a minha mãe tem mais força do que nós sonhamos e está a aguentar-se bem, saímos para beber café no outro lado da rua, e quem é que está à porta desse cafézinho? O carocho, pois claro!
Descemos a avenida a pé para levantar dinheiro, e falamos do fim do mundo e de como a Natureza se anda a chatear cada vez mais. O N. tem uma teoria sobre isto, diz que o planeta Terra é como um orgão vital do corpo humano, um rim ou um fígado por exemplo, que ao longo da sua vida vai sofrendo ataques de vírus e bactérias que o fazem adoecer, o planeta cria anti-corpos e defende-se como pode, mas vai enfraquecendo e envelhecendo, até que um dia simplesmente deixa de trabalhar. Neste caso os vírus somos nós, a espécie humana, a única estúpida o suficiente para estragar o meio em que vive (o único que tem).

O puto desafia-me para um jogo de snooker, temos tempo "a C. deve ir beber um copo com os colegas, só vai chegar às duas da manhã, vais ver" (enganou-se, a C. assim que saiu do curso veio a correr para os braços dele, fardada e tudo). Entramos no salão de jogos refundido numa praceta sombria atrás do descampado que já foi um cemitério, subimos as escadas estreitas e abrem-nos a janela para podermos fumar mesmo sem autorização. Estávamos no segundo jogo quando um vulto conhecido sobe as escadas: o carocho ("mas este gajo anda a seguir-nos?") vem rondar as mesas a pedir cigarros, e pára na nossa a dar palpites sobre como devíamos jogar. Nessa altura a paciência do meu irmão já se estava a esgotar, e houve ali um ou dois momentos que ele teve vontade de lhe enfiar o taco pela garganta abaixo, mas o coitado (porque é mesmo um coitado, naquele estado só suscita pena, mais nada) acabou por ir embora. Resultado final: 3 - 2 ganhou o puto (e os 2 que ganhei foi porque ele meteu a bola branca a jogar à preta, pronto...).

Voltamos ao café do costume onde a C. está à nossa espera, e para chegar mais perto do nosso grau alcoólico bebe dois Licor Beirão de enfiada. Distraio-me a ler uma revista e a beber a minha cerveja enquanto eles matam saudades um do outro (eu também já fui assim...), depois vejo o Zé a preparar os folhados ultra-congelados que a sogra (acho que é sogra...) vai pôr no forno às 6 da manhã, e sei que não tarda nada vai convidar-nos a sair. Dito e feito, dá-nos mais uma rodada que é bebida cá fora, porta fechada e luzes apagadas. E passamos quase uma hora ali na esplanada vazia com as mesas e cadeiras encostadas a um canto, cigarro atrás de cigarro e conversa atrás de conversa, desta vez são coisas sérias, que têm de ser discutidas e decididas, e eu não fazia ideia que era preciso decidir tanta coisa, quem disse que a morte é um fim, não é, é o princípio da burocracia.
Apercebo-me que alguém vem a descer a rua aos ziguezagues (juro!) na nossa direcção e começo a rir, é outra vez o carocho, faz uma festa quando nos vê, braços no ar, pede mais um cigarro para o caminho, diz que vai buscar o carro, agora que conseguiu fugir à polícia. Eu olho para o N. com ar de pânico, sem querer acreditar que aquele tipo em estado de quase morte cerebral ía mesmo pegar num carro pondo em risco a vida de outras pessoas, e ele sossega-me com um abanar de cabeça, o gajo está a inventar, não tem carro nenhum. E continua a descer a avenida como se estivesse a andar contra ventos ciclónicos.

Perto das 2 da manhã precisamos de tabaco. Próxima paragem: bombas de gasolina, as mesmas que já nos safaram noutras vezes. E que por acaso também têm cerveja. Boa! Encostamo-nos ao pequeno balcão junto do guichet de segurança por onde o empregado porreiro nos passa os maços de tabaco e as garrafas pedidos, e ficamos a apreciar a rapariga que tenta desesperadamente andar nuns saltos de 10 cm de uns sapatos de verniz vermelho. Assim que ela vira costas, nós e o empregado atrás do vidro rimos como perdidos. E do nada a C. pergunta "Quanto custa uma garrafa de Licor Beirão?" e por baixo do guichet passa a garrafa, copos de plástico e um copo cheio de cubos de gelo que não me seduziram, não sou muito adepta de misturas, comecei com cerveja e termino com cerveja.

"Sabes o que me apetecia agora? Um bolo quente!!" A melhor sugestão e a última paragem antes de casa, a mini-fábrica que todas as noites, a partir da 1 da manhã, enche a rua com um cheiro indescritível de bolos quentes. Quando a porta abre, entramos para um espaço minúsculo onde cabem no máximo 6 pessoas (magrinhas), o resto está ocupado pelo balcão cheio de todas as gulodices que uma pastelaria tradicional tem o orgulho de fazer: pastéis de nata, palmiers, almofadas a transbordar de creme branco, rins, folhados mistos e de salsicha, croissants de tudo e mais alguma coisa... um sonho!
Saímos para o frio intenso da madrugada (para dar lugar a mais clientes) com um saco cheio, e logo ali comi um croissant de chocolate e um palmier recheado, enquanto ficava a saber que devo voltar a ser madrinha em breve, pelo menos eles estão a fazer por isso, decisão pensada e não devaneio, porque querem muito, porque é a altura certa.

Acabo a noite a fazer o impensável, a fumar um cigarro à janela da casa da minha mãe, sem o medo adolescente de que as vizinhas vejam e lhe vão contar ("pelo amor da Santa, são 4 da manhã, ninguém está a espreitar atrás das janelas!!").
E a frase da noite foi " Esta não é a mulher que eu andava à procura, é a mulher que eu estava à espera (de encontrar)".

sexta-feira, 12 de março de 2010

Pormenores (XI)...

... tão familiares...

quinta-feira, 11 de março de 2010

The cuttest thing

Adoro! Todas as fotos! Tão fofos!!

Qualidade de vida

Anda agora um anúncio na rádio sobre "o que é para si qualidade de vida".
Qualidade de vida é morar a 7 minutos (de carro) do trabalho (e mesmo assim chego sempre atrasada). Já me disseram que eu devia levar uma malha todos os dias de manhã, só por ter o desplante de dizer isto, mas é verdade. Se podia ganhar mais dinheiro na capital ou noutra cidade grande? Claro que podia, mas não podia sair às 4 e meia para ir ao dentista no centro da cidade, e ter entrado no consultório às 4 e 40, depois de estacionar à porta, pôr a moedinha no parquímetro e fumar um cigarro.
Lá dentro já não foi tanta qualidade de vida assim, o dentista brasileiro que é amoroso e já me tratou quase todos os dentes que tenho na boca (e arrancou os três do sizo, e tratou a infecção que o carniceiro de Odivelas me deixou quando arrancou o primeiro e eu desesperei a tomar 9 Benuron's por dia porque não aguentava com dores - isto tudo para dizer que o juízo foi-se com os dentes...) diz-me que as minhas gengivas estão a desaparecer devido aos meus maus hábitos: fumar (claro, tenho sempre de levar com esta) e lavar os dentes à bruta (verdade, eu sei). Como é que isto se resolve? Fácil, corta-se a gengiva ao meio, implanta-se uma membrana acelular dérmica (trocado por miúdos, é pele de outra pessoa tratada!), fecha-se como se fosse uma sanduiche, e cose-se. Passou-se!!!! A derrota do Porto fez-lhe mal ao cérebro, de certeza!! (é claro que eu não lhe disse isto, ele é muito boa pessoa mas ainda tinha a broca na mão e eu ainda estava deitada na cadeira reclinável, de boca escancarada, e eu assim não brinco, o juízo pode ter ido com os dentes do sizo, mas tenho amor à vida!). Disse-lhe que ía pensar no caso, receitou-me um gel para as gengivas e uma pasta dentífrica especial e voltou a dizer que tenho de deixar de fumar (e novidades, há alguma?).
Voltando à qualidade de vida, é ter um supermercado a 5 minutos de casa (a pé) e um hipermercado a 5 minutos de casa (de carro). Digam o que disserem, dá muito jeitinho, às 5 e 50 já estava em casa, com um saco cheio de mercearias, mais uns pacotes de chá (branco, verde, verde com aroma a baunilha e Kenya), bolachas com pepitas de chocolate e uma caixa maravilhosa da Ferrero Rocher RondNoir que está aqui ao lado a rir-se para mim.

Lembrar (II)

A concentração ainda não quer trabalhar, dou voltas e voltas à base de dados que é suposto dar-me milhares de euros quando eu me dignar a usar o meu melhor francês, mas a vontade é nula, não me apetece fazer conversa de circunstância, não me apetece fingir que estou alegre e contente ao telefone e bajular uma cambada de marroquinos com nomes impronunciáveis.
Em vez disso perco-me na janela clandestinamente refundida no canto do ecrã, numa vida onde nada de extraordinário acontece ("É a cidade, T, a cidade dói-me menos com a banda sonora certa."), e vou-me lembrando de pormenores que me escaparam na altura, nestes últimos dias que estouraram com as minhas reservas de energia e ânimo (que já ando a repôr, a bateria está quase carregada a 100%):
A retrosaria onde encontrei as pegas para as malas que já procurava há duas semanas, duas malas lindas que tinha pena de deitar fora só porque as alças se estavam a desfazer de tanto uso (e de tão carregadas, eu trago um mundo dentro da mala, sempre, e é um mundo pesado), e completamente do nada e a despropósito, depois de sair da Loja do Cidadão onde demos início à odisseia que é a habilitação de herdeiros, o meu puto mais novo pára num multibanco para levantar dinheiro, e logo ao lado, uma retrosaria, moderna sim, mas cheia de mil e uma cores e texturas, e no meio de lãs e fitas e botões e contas de vidro, os dois pares de alças que deram nova vida às minhas adoradas malas, que assim podem cumprir o seu destino de carregar o meu mundo para todo o lado (pelo menos por mais um ano ou dois).

A casa cheia de gente, nove pessoas à mesa do jantar (e duas cadelas, não me posso esquecer das bichezas, a da minha mãe, velhota e mimada até à exaustão, com um manto de pêlo liso cor de mel até ao chão, e a da minha avó, cachorra ainda, minúscula sem pêlo e de olhos esbugalhados) no dia em que descemos a serra, e oito no almoço do dia seguinte, as mesmas oito que dormiram por estas divisões, que encheram a casa com risos, sim, risos ora nervosos ora sentidos, e com boas memórias e planos para o futuro.
O saco cheio de lãs que devolvi à minha mãe, para a entreter, pu-la também a fazer quadrados atrás de quadrados de lã de todas as cores, que mais tarde serão uma manta quentinha, mais uma para puxar nas tardes de Inverno em frente à lareira acesa, enquanto me aconchego para dormitar no sofá.
O silêncio depois da minha família voltar para casa, o silêncio que me fez sentir que estava "em casa", segura e serena.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ouvir e sentir (CIV)

Porque desde que liguei o portátil está a passar em repeat. Transmite alegria. Faz-me bem.

Florence and the Machine
"Cosmic Love"

O terceiro homem da minha vida

Não perdi a capacidade de sorrir, de me (re)erguer e seguir em frente, e dou-me conta disso nestas pequenas coisas, na gargalhada que solto assim que o meu irmão me chama borrega quando eu lhe digo que pintei o cabelo, que estou ruiva, e ele sai-se com um "és mesmo borrega!!", ele é como o nosso pai, que a esta hora está a abanar a cabeça e a dizer que eu não devia mexer no meu cabelo lindo, mas eu tinha que o fazer, se não posso mudar a minha vida, pelo menos posso mudar o meu aspecto.
Penso nisto enquanto janto, um copo de leite e um requeijão com doce de abóbora e pinhões, e para sobremesa um crepe recheado de chocolate; enquanto vejo o pacote de açúcar pregado no quadro de cortiça dos recados que nunca tem recados nenhuns, só frases soltas que dão que pensar (mas se calhar esses são os melhores recados), o pacote de açúcar que o puto mais velho guardou para me dar, porque se lembrou de mim e dos mimos que trocamos há anos, eu chamo-lhe "mostro", ele chama-me "monstra" ("borrega" é novo).
E enquanto punha no forno o tabuleiro com o bolo de maçã com canela (que vai para o escritório, não posso ter mais bolos em casa, senão a minha próxima alcunha vai ser "lontra"), lembrei-me que num destes últimos dias ele perguntou-me do nada "Gostas de mim?" e eu respondi "Mais do que tu sabes".
É a verdade. Na nossa forma despreocupada de o mostrar, é a verdade.

Eu disse...

... que o fazia...

terça-feira, 9 de março de 2010

Ouvir e sentir (CIII)

Quase que gosto desta música (mas só a música, porque o videoclip é pavoroso).

Rihanna
"Russian Roulette"

segunda-feira, 8 de março de 2010

Aos poucos...

... retomo as rotinas que me dão segurança.
As bichezas tresloucadas já guincham quando nos ouvem entrar em casa. Comem feno como se não houvesse amanhã. E correm e saltam como se estivessem a ter ataques de epilepsia.
Recebo um saco cheio de pêras Rocha e maçãs Bravo de Esmolfe que me enchem a cozinha com um aroma caseiro e bom.
Faço um jantar improvisado, empadão de arroz de cenoura com um resto de frango de cerveja desfiado, linguiça, muita cebola e pickles, tudo ao molho. E um bolo grande e fofo.

Troco as flores do arranjo que recebi no aniversário para uma jarra, para tentar manter a beleza delas por mais uns dias.

E acendo uma vela no hall de entrada, só para poder ver a luz quente do meu lugar cativo no sofá.

domingo, 7 de março de 2010

Fazer festinhas

E com tudo isto só agora começo a dar atenção e festinhas às novas bichas malucas cá de casa, a minha prenda de anos querida, a Pipoca e a Chiclete.

sábado, 6 de março de 2010

Cumprir (IV)

Depois da missa de sétimo dia, cumprimos a última vontade do meu pai, a sua última viagem à Serra que tanto amava. Depois de depositar as cinzas na campa dos meus avós, subimos à Torre com um maravilhoso arco-íris por companhia, e lá em cima, a maior camada de neve que me lembro de ter visto por ali, e um vento cortante e sem piedade para quem, como nós, não estava armado com fatos de neve especiais até aos dentes.

Enquanto descíamos pela Covilhã, de regresso a casa, e via pelo vidro embaciado do carro aquele manto branco leitoso de uma beleza sublime, só conseguia pensar como o meu pai ficava inchado de orgulho e alegria quando nos levava a ver neve, e que naquele momento ele devia estar a sorrir de satisfação, pois ali estávamos todos, encharcados e enregelados mas divertidos, com sacos de ofertas com queijos da serra, regueifas e meias de lã, na melhor tradição das viagens que fizémos com ele.

E agradeci-lhe.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Confortar(-me)

"O Céu ganhou mais um anjo". Eu não me esqueço.
(há sms's que só falta terem braços).

segunda-feira, 1 de março de 2010

Em vez disso...

... acabei de passar pelo que ninguém quer, ninguém espera, ninguém está preparado.
Pura violência.
Agora estou em paz. E tenho a certeza que ele também está.

Supostamente...

... a esta hora estaría por aqui (fica para a próxima...).

Foto daqui