terça-feira, 30 de setembro de 2008

Ouvir e sentir (XXIX)

Não estou triste, não estou deprimida, nem sequer excessivamente preocupada ou ansiosa. Sei que o meu pai vai ficar bem, como soube que ele ía conseguir voltar a estudar, e como soube que nem sequer tinha de me preocupar quando ele se despediu, porque ía correr tudo bem.
Não sei que nome lhe dar, é uma sensação de calma que não me permite pensamentos negativos, mas não é um estado de negação; ele chama-lhe fé, mas não "fé" no sentido de rezar para pedir ajuda quando estamos em apuros (também o faço). É algo que se sente à partida, uma espécie de paz interior, algo que diz "não stresses, não é preciso". E que até agora não me deixou ficar mal.
Mas continuo zangada com ele.

Jewel

"Foolish Games"

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Revolta

Mais uma vez tenho o meu pai no hospital.
No sábado soube que tinha uma ferida infectada numa perna "mas já andava a fazer o curativo". Quase gritei com ele ao telefone:
- Tu sabes que isso é perigoso, tu és diabético, sabes o que eu quero dizer, não sabes?
- Claro que sei, não sou burro.
- Não, tu não és burro, só teimoso!!
Prometeu-me que segunda feira (hoje) ía ao médico, e esta manhã, quando telefonei para confirmar, quando lhe perguntei se estava tudo bem, ouço a voz chorosa do outro lado:
- Não sei...
- Como não sabes? O que se passa?
- A médica disse que vai já mandar-me para Santa Maria, para ser internado.
Acalmei-o, disse que era o melhor para ele, se algo não estava bem ía ser tratado, e depois seguiram-se os telefonemas para os irmãos, pôr a rede familiar a funcionar.
E a notícia que eu já esperava chegou há pouco: fica mesmo internado, a ferida infectou porque já tem dois meses, foi o "pormenor" que o meu pai se esqueceu de dizer, como parece que se esquece que tem uma família que se preocupa com ele, os filhos estão criados mas ainda precisam de um pai, e querem um pai ao pé deles, e eu espanto-me e revolto-me com o pouco valor que o vejo a dar à própria vida, e só me apetece chamar-lhe nomes, porque não aprende ou não quer aprender, porque não cuida de si próprio e também não deixa que cuidem dele.

domingo, 28 de setembro de 2008

Há 15 anos...

... num banco de madeira corrido, na mesa do canto do café em frente à escola (que já não existe, agora é uma sucursal de um banco qualquer), eu sentada com as costas contra a parede, pés em cima do banco, abraçada às pernas, queixo quase a tocar os joelhos; e ele sentado à minha frente, uma perna de cada lado do banco, com os braços cruzados apoiados nos meus joelhos.
Finalmente a pergunta que eu aguardava há alguns dias (não era bem esta, mas serviu):
- Afinal o que é que tu queres de mim?
- Quero namorar contigo. Mas não quero que namores comigo só porque a R. anda a fazer de cupido. Quero que sintas o mesmo que eu.
Ele não me respondeu. Como tantas outras vezes, substituiu as palavras por gestos, e beijou-me. Um beijo seguro mas doce, como os milhares que se seguiram em 15 anos de vida em comum.
E hoje, como tantas outras vezes, agradeço a benção de acordar todos os dias ao lado da pessoa que amo, meu amigo e meu amante, sócio de gestão imobiliária e companheiro incansável desta viagem que é a nossa vida.

Tim e Mariza
"Fado do Encontro"

Momentos (XXV)

Voltar a sentir o cheiro a bebé nas minhas mãos e no meu pescoço. Abraçar a pequena S. e beijar a bochecha de pele macia e cheirar-lhe o cabelo. Vê-la abrir a boquita num sorriso rasgado, e tentar um primeiro parlear para chamar a atenção, os seus olhos escuros muito abertos, a força que faz para levantar a cabeça, mesmo a pedir para ser pegada ao colo e mimada com carinho.
Sentar-me na cama da I., abatida pelos 39º de febre, e ficar a ver a Barbie Rapunzel enquanto lhe faço festas nos pés e ouço as histórias da escola nova e vejo o seu cabelo mais curto (ela tinha uns caracóis de anjo louro, lindíssimos).
Que saudades que eu tinha das minhas princesas!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Momentos (XXIV)

Já falámos por telemóvel e trocámos mais sms esta semana do que o mês passado inteiro. Mais uma consequência nova desta mudança, principalmente para quem (ele, claro) uma chamada com mais de 30 segundos já é conversa esticada. Mas as actualizações são muitas, o medo de se esquecer de contar algo importante impele-o a ligar logo (e voltar a ligar de seguida, porque faltou dizer alguma coisa).
E eu sou pior ainda, pela necessidade de coordenar tarefas e lembrar aniversários, ou só pela vontade de ouvir a voz dele durante o dia.
E depois há os sms que vai enviando e que me arrancam sempre com um sorriso:
" "Não herdamos as canções do invasor, herdamos a nossa voz para cantar a pátria. Não herdamos ouro para comprar a liberdade, herdamos ferro para a defender"... na t-shirt de um puto no Mac, não sei ao que era alusivo."
"Se és trabalhador-estudante... Respect... só és praxado se quiseres :)"
"E agora, senhoras e senhores... 3 horas de álgebra :)"

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Pura alegria!!

Foi o que senti durante o filme todo, foi o espírito com que saí do cinema, eu e todas as pessoas que enchiam a sala, e que íam cantarolando as canções ao mesmo tempo que Meryl Streep (poderosa, magnífica na interpretação de "The winner takes it all"), Amanda Seyfried (uma voz tão doce e cristalina) e Pierce Brosnan (ok, o senhor não canta bem, mas eu já desconfiava que ele tinha de ter algum defeito, ninguém é assim tão... perfeito).
E aquele cenário, aquela água tão azul, aquela sensação de uma vida a correr ao sabor das ondas e das paredes brancas e das flores nas ruelas estreitas. E a alegria de viver e de mostrar as emoções (nem que seja aos gritos e a dar espectáculo no cais).

Mamma Mia
"Dancing Queen"

Ocupar o silêncio

Ontem pus a máquina de lavar a trabalhar mais cedo, tomei um banho demorado, passei creme no corpo, estiquei o cabelo, pintei as unhas (das mãos e dos pés), liguei o rádio e acendi uma vela.
Hoje vou ver os últimos episódios do Grey's e depois vou ao cinema ver (finalmente) o Mamma Mia.
Tenho 21 filmes para ver, mais o Sexo e a Cidade (a série, completa) e o livro da Catarina de Aragão para terminar. Tudo para ocupar o silêncio.
Para preencher a presença dele, que me faz falta. Senti-lo em casa, mesmo sem o ver, sabendo que ele está na sala ao lado, a jogar um jogo qualquer no computador. Sentir o abraço dele enquanto vemos juntos o CSI ou o wrestling.
Tenho de me habituar a não esperar por ele para jantar (e a jantar sem ele, o que vai ser mais complicado).
Tenho de me habituar ao silêncio.

Obrigado

Telefonema dele a meio da tarde:
- Fui ter a reunião, e ele só me perguntou quanto é que eu queria para ir trabalhar para ele.
Assim, sem rodeios.
E eu acredito, acredito profundamente, que alguém lá em cima olha por mim.

domingo, 21 de setembro de 2008

Faltou...

... a P., a queixar-se a noite toda que tinha morto o rato do cunhado "e ele vai matar-me quando souber!!"
... rodadas de copos que nem sabíamos de onde vinham
... as danças, de pé em cima da mesa de madeira, mesmo com os tipos todos babados a olhar para as nossas pernas, até eu gritar com um que se estava a esticar (foi remédio santo)
... as gargalhadas, em maior quantidade e mais espontâneas.

A alegria não foi a mesma, parece que as pessoas mudaram, estão mais sérias, com mais preocupações. Como ele diz, toda a gente tem problemas, e hoje, com amigos que não via há alguns meses (porque não temos tempo, nunca temos tempo, porque não calha ou por pura preguiça de reservar meia hora para um café para pôr a conversa em dia) constatei essa verdade: todos têm problemas, uns mais velados que outros, uns ditos e outros sentidos nas reacções.
Mas as caipirinhas e a música continuam iguais.

Iron Maiden
"Fear of the Dark" (Live 2005)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Isto hoje...

... vai doer. Ai vai, vai!!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Orgulho (II)

O meu puto grande já tem horário de aulas e passaporte de caloiro.

Momento (XXIII)

Sms recebido às 9 da manhã:
"Consegui encontrar o boletim de vacinas sozinho :o)"
(tenho um puto grande em casa).

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Nem assim

Depois de ter dito ao B. que tinha entrado com 19, resposta por sms:
"Não estiveste mal. Agora pergunta a ela se já te deixa comprar o jipe."

Ouvir e sentir (XXVIII)

E neste caso ver, ver mesmo, todos os movimentos, a força e a raiva e a libertação da dança. Sempre tive um fascínio especial por dança, todos os tipos de dança (vá, tirando o folclore...), por isso fiquei siderada com os bailarinos da Madonna. Não há palavras, só o poder e a energia que se soltam através do corpo deles.

Madonna
"Isaac"
Confessions Tour (Londres)




Madonna

"Live to tell"
Confessions Tour (Londres)

Orgulho

Já saiu a relação de admitidos em Eng.
O nome dele é o 1º da lista, com classificação final de 19 valores. Imprimo uma cópia, para guardar, para um dia mais tarde lhe mostrar, para o lembrar sempre que, se ele quiser, pode fazer qualquer coisa, conseguir atingir qualquer objectivo.
Analiso o resto dos nomes: nem um feminino (e um sorrisinho de satisfação na minha cara).

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Momentos (XXII)

- Não foste ver o concerto da Madonna ao vivo, mas tenho aqui um para veres.
E eu sorrio só pelo facto de ele se ter lembrado de mim, ter tido o cuidado de escolher algo que não aprecia, só porque sabia que eu ía gostar.

sábado, 13 de setembro de 2008

Ossos do ofício

Faltam dois meses para a Feira do Cavalo, mas a Golegã já mexe. Já há largadas de toiros, provas hípicas e ranchos folclóricos. Já há tasquinhas e bancas de artesanato.


Pelo segundo ano tivémos um stand na Mostra Gastronómica, e hoje cravaram-me para lá estar, tipo promotora, a vender garrafinhas e frasquinhos do que temos de melhor, a sorrir para quem passava e a explicar o que fazemos, a dar a provar, mesmo aos mais cépticos, para mostrar que não é tudo igual.

Vendi mais hoje do que as minhas colegas nos dois dias anteriores, ser fim de semana ajudou, e ainda bem, senão tinha sido uma seca de morte. Mesmo assim, passar o dia a ouvir música tauromática e (pior ainda) o Festival de ranchos à noite, quase que deu vontade de pedir uma faca de serrilha a alguém. Até as galinhas cantam melhor.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Mais um passo

Voltei a Coimbra mais cedo do que pensava, para o passo seguinte, que não foi mais do que tirar sangue. Tão simples como isso, mas tinha de ser num dia específico, senão tería de esperar mais um mês, e se esse dia tivesse calhado num sábado ou domingo, tería de esperar mais um mês, mas nada disso aconteceu, e lá fui eu ás 7 da manhã, em jejum e sem cafeína nas veias, e com o rádio no limite para garantir que não adormecia ao volante na A1.
Às 8.1o hrs a minha senha tinha o nº 107 (tendo em conta que os serviços de recolha abrem às 8.oo hrs)!!, pelo que tive a feliz ideia de perguntar se tinha mesmo de ficar em jejum. Quando ouvi a resposta corri para o bar, e depois de um copo de leite e um café esperei pacientemente duas horas até ser a minha vez. Uma picada, um penso rápido e um sorriso de despedida não demoraram mais de 3 minutos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Ouvir e sentir (XXVII)

Colbie Caillat
"The Little Things"

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Respirar fundo

Fomos visitar a avó, ritual quinzenal cumprido religiosamente, eles ficam à nossa espera nas escadas da antiga escola primária (agora o único cafézinho do lugar), viram as cabeças de cada vez que passa um carro, pode ser o "seu" neto a chegar. E nós gostamos mesmo de lá ir, ver se eles estão bem, apesar de todos os problemas típicos dos quase noventa anos de cada um.
Na terra da avó, escondida atrás do sol posto, onde nem sequer há rede de telemóvel, o silêncio só é interrompido pelo som dos pássaros e pela brisa que abana os ramos das oliveiras. Sempre foi assim, desde a primeira vez que lá fui, é um lugar de abstracção pura, capaz de acalmar o mais inquieto dos espíritos (tipo... o meu).
Mas desta vez foi diferente, desta vez ouvi um silêncio tão profundo e apaziguador que me deu uma sensação de paz que não sentia há bastante tempo. Fiquei ali sentada no muro baixo caiado de branco, sem pensar nada, só a ouvir aquele silêncio que me deixou de alma lavada.
- Isso pode ser prenúncio de alguma coisa, algo de bom - diz-me ele, quando comento o que estou a sentir.
- Achas que sim?
- Porque não? É sempre bom acreditar.
E mais uma vez, dou-lhe razão.

Para animar

- Tu és stressada por natureza, quando não fôr isto será outra coisa.
- Achas mesmo?
- Claro, hás-de ver, hei-de estar eu descansado no sofá a ver-te correr de um lado para o outro e dizer "vês filha, a mãe é mesmo assim, o pai não te disse?"

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Desilusão

A médica volta e faz o historial todo do casal, faz muitas perguntas e vê os exames anteriores que eu trouxe mesmo sem ninguém me indicar. É uma ajuda, mas tenho de os fazer todos de novo, e lá mesmo em Coimbra, bem como ele, que não se safa de lhe tirarem sangue mais uma vez, para novas análises. Começa a explicar-me os procedimentos que tenho de fazer, o objectivo de cada um e quando deve ser feito, sempre em função do ciclo, uns no 3º dia, outro no 23º, outro ainda exactamente um mês antes da próxima consulta. É nessa altura que um balde de água glaciar cai em cima de mim: a médica pega numa agenda de 2009, e procura os últimos dias do mês de Fevereiro. A consulta fica marcada para essa data, e eu não consigo conter as lágrimas, são quase 6 meses de espera. Ela explica-me o porquê, se os dias em que devia fazer os exames calharem ao fim de semana, por exemplo, já não podem ser feitos nesse mês, só no seguinte, por isso dão esse prazo para que o processo fique completo.
Mas isso não diminui a minha desilusão: já não é este ano, já não é antes dos 31.

Toda a diferença

Finalmente mandam-me entrar para um vestiário e vestir uma espécie de saca de batatas de pano onde cabiam três de mim, bem arrumadinhas. Ouço a médica a chamar-me da outra porta, e assim que me sento explica-me a situação: a colega dela está de baixa, ela ficou com algumas das doentes da colega e daqui a 10 minutos tem de ir assistir a uma prova oral (esqueço-me que isto também é uma Universidade) "mas garanto-lhe que não sai daqui hoje sem ser examinada!", por isso pede-me para esperar no gabinete.
Uma auxiliar vai buscá-lo ao corredor, para eu não estar ali sozinha, vestida de saco de batatas. É isto que eu continuo a elogiar neste Serviço: a atenção ao bem-estar dos utentes. Há atrasos, claro que sim (estamos em Portugal) mas explicam porquê, pedem desculpa pelo incómodo, preocupam-se se precisamos de alguma coisa. Quem recorre a esta consulta vem à procura de um sonho (que eu vejo concretizado nas fotografias de bebés e mensagens de mães que a médica tem num quadro atrás da secretária), vem cheio de medos e expectativas frustradas e muito ses no pensamento. E chegar aqui e ter alguém (neste caso é todo o pessoal do Serviço) que se preocupe, em vez de nos tratar como um número imbecil que só vem dar trabalho (maravilhosos centros de saúde e maioria dos hospitais públicos) faz toda a diferença.

E aqui estamos nós

Estou na sala de espera há uma hora e meia e começo a irritar-me um pouco. O Dr. House não nos fazia esperar tanto tempo. Mas esta consulta já não será com ele, mas sim com uma médica de aparelho nos dentes (sei porque ela veio à porta buscar as fichas). Esta consulta é mesmo de Infertilidade, o início do processo de Reprodução Medicamente Assistida. É a consulta que o Dr. House disse que não valia a pena marcar se ele não tivesse melhoras. E aqui estamos nós.

domingo, 7 de setembro de 2008

Liberdades

"Hei-de ter um gato, sem ter medo que me chamem bruxa, vou poder dançar sem receio de que me chamem prostituta. Posso passear com o meu cavalo e hei-de ir para onde me aprouver. Hei-de andar por aí a pairar como um gerifalte. Vou viver a minha vida e fazer as coisas de que gosto. Serei uma mulher livre."

Ana de Cléves in Herança Bolena


(e hoje começo a ler "A Princesa Determinada", sobre Catarina de Aragão).

Contrastes...

... entre um sábado de sossego e calma (just for girls), e um domingo de completa agitação e cansaço.
O plano estava traçado e foi cumprido à risca: sábado de manhã pegámos no B. e no P. e arrancámos de novo para o Furadouro, pela última vez (pelo menos este ano), sem os fatos de banho mas com vontade de aproveitar a companhia dos amigos. O P. ía um pouco nervoso por fazer a viagem tão "rasteirinho" (pudera, está habituado ao Frontera) e ainda por cima à pendura. Depois de passar algum tempo a analisar a condução dele, descontraiu.

Depois de um típico rodízio brasileiro num restaurante que o outro B. (mania de terem todos o mesmo nome) e a P. descobriram atrás do sol posto, sabíamos que íamos ficar sozinhas (só com o pequeno D. como companhia, puto que acha que já é grande, mas não deu muito trabalho) até ao dia seguinte. Eles fizeram-se à estrada, direitos a Ponte de Lima, para assistir ao Rainforest Portugal.
Nós fomos assofar até nos doer as costas, cada uma com o seu livro, cada uma a fazer comentários esporádicos, cada uma a saborear o sossego e o silêncio. depois do jantar a vontade de sair não era muita, mas o apelo para ir comer uma tripa foi mais forte. Bem me lixei, a combinação de chocolate com caramelo não me caiu bem, e passei o resto da noite a água com gás (ninguém me manda ter mais olhos que barriga).
Perto das quatro da manhã, depois de três episódios de CSI e de eu ter acabado o meu livro, ligámos para eles a desejar boa noite. Apesar de terem levado sacos-cama, andavam à procura de uma pensão para dormir (eles não admitiram, mas devem ter apanhado tanto frio enquanto viam as provas!!). Uma hora e meia depois aparecem em casa, o tipo da pensão (rasca, muito rasca) pediu-lhes cinquenta euros por quarto, e eles mandaram-no $%#$%#$ no %$. Áquela hora ainda ficaram pela sala a comer percebes e a contar à P. o encontro imediato de terceiro grau com o o Sr. Pimenta. Eu nem me levantei, para que a fama que tenho (que o meu espírito demoníaco se solta violentamente quando me acordam) não fosse comprovada ao vivo e a cores.
Passadas poucas horas estava tudo levantado e pronto para ir palmilhar kilometros para o Porto.

Estacionámos o carro num bairro tão manhoso que a primeira coisa que ele disse quando nos afastámos foi "não tarda nada e as nossas jantes já estão vendidas". Descemos até ao rio, do lado de Gaia, procurámos um bom sítio, dentro do possível, no meio dos milhares de pessoas com bocados de cartão amarelo enfiados nas cabeças, e outras tantas vestidas como se fossem para a missa de domingo (quem é que vai para o RedBull Air Race de saltos altos, ou vestida de Dolce & Gabbana - imitações cof, cof - dos pés à cabeça?).

O B., como sempre, encontrou o spot ideal: Magreb Tea House, com cerveja a cinquenta cêntimos (ao contrário do euro e meio que toda a gente pedia de uma forma vergonhosa por uma garrafa de água de 0.33 cl, do LIDL) e sanduiches de pão pita comidas enquanto víamos as provas num ecrã gigante dentro do bar, sentados em almofadões colocados em cima dos tapetes marroquinos.

Bastava vir à porta para vê-los na manobra do looping (não sei se é o nome correcto, paciência) a uma velocidade tão vertiginosa que mal os conseguíamos fotografar. Mas fora a sensação da velocidade real a que eles andam, e o barulho dos motores, que não se vê na televisão, nada mais é apelativo o suficiente para eu lá voltar para o ano. É como ir ao Moto GP no Estoril: vivi a experiência uma vez, achei engraçado, mas não mais do que isso, e a ideia de repetir não me seduz. Se lá voltar será com um plano mais elaborado que inclua almoço numa sala do primeiro andar com vista para o rio.

(E quando voltámos as jantes ainda lá estavam).

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Ouvir e sentir (XXVI)

India Arie
"The Heart Of The Matter"
(Sex and the City OST)

Devia...

... ter rido mais com ela, ter aproveitado as gargalhadas contagiantes que enchiam aquela sala sem janelas
... ter conversado mais com ela, ter-lhe contado quem sou, do que gosto
... ter aberto o meu coração e ter deixado entrar a sua amizade, que ela me foi oferecendo subtilmente.
Não lhe dei oportunidade de ser minha amiga, só colega de trabalho cheia de vida e de alegria, e hoje que foi o seu último dia naquela sala que partilhámos durante 5 meses, que vai para Praga aproveitar a oportunidade de uma vida, pedi-lhe desculpa por me ter fechado tanto, disse-lhe que tinha pena de não termos mais tempo para nos conhecermos, e desejei-lhe de coração cheio toda a felicidade que ela merece.
Talvez para compensar tudo o que ficou por viver, gravei um CD com as músicas que ouvíamos ali, as músicas preferidas dela, e fiz uma capa com uma dedicatória e com uma foto minha e da R., as nossas caras em grande plano , para ela se lembrar sempre dos momentos que passámos as três.
Talvez um dia lhe dê o endereço do blog, nunca é tarde para cultivar as amizades, e esta merece ser acarinhada.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Desalento

Dói-me a cabeça do esforço de conter as lágrimas. Mais uma amiga grávida. 10 anos mais nova do que eu. Eu até estava bem disposta, deixei umas larachas num blog amigo, fomos ter com a família dele para o jantar de aniversário do A., e assim que nos sentamos à mesa surge o anúncio. Dou os meus parabéns sinceros, com o melhor sorriso possível, mas não pergunto nada, nem de quanto tempo está, nem se foi planeado, nem como soube, nem se está feliz. Passo o resto do jantar como se nada fosse, defesas criadas à força, rio e brinco e vejo-a a pedir a picanha bem passada, a recusar a salada, a ser mimada pela família, com aquelas pequenas brincadeiras dirigidas às grávidas "Se a polícia vos manda parar apanham multa, vão com 6 pessoas no carro". Nem dois copos de Casa de Santar nem o bolo de chocolate com gelado de baunilha me conseguem consolar, mas ninguém nota, ninguém tem de notar, não tenho o direito de estragar o maravilhoso momento que eles estão a viver. Depois do bolo e do champanhe já só quero sair dali, vir embora, mas a conta demora uma eternidade a chegar (o serviço do restaurante foi miserável). Fazemos o caminho de regresso a casa em silêncio, ele ainda me afaga a perna com a mão, mas hoje não quero falar, não quero repetir tudo outra vez, alimentar a tristeza e a revolta.
Hoje sou eu que me afasto para lamber as minhas feridas sozinha.

Linkin Park
"Leave Out All The Rest"