quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ouvir e sentir (CLXXVII)

Andrew Ripp
"You Will Find Me"


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Momento (CLXXXIV)

Sardinhas de alfazema para as gavetas de Peter Pan, para os cestos de verga que (finalmente) acolhem os meus sapatos, e para o novo armário, carregado de casacos.
Depois de nos benzermos com os orçamentos de mais de mil euros por um armário feito à medida para o hall de entrada, descobrimos no sotão do meu sogro um guarda-fatos antigo. Sogro devidamente cravado, ainda fez o enorme favor de partir o espelho da porta do meio enquanto desmanchava o móvel, o que para mim foi uma sorte, porque já andava a dar voltas à cabeça para descortinar como é que ía esconder aquilo. Assim, bastou uma mão cheia de nozes (dica infalível - miolo de noz faz desaparecer todos - mas mesmo todos - os riscos da madeira) e uma dose maciça de vaselina para termos um armário porreiro e com toda a arrumação que precisamos agora (bem, toda toda não, porque continuei sem sítio para pôr os sapatos. Daí os cestos.  Mas enquanto não mudarmos para uma casa com um closet só para mim, vai ter de servir...).


Um dia hei-de mostrar-lhe...

"Carta para um rapaz que está a caminho de vir ao mundo
Não ouças o que todos te dirão, que isto está difícil e que o mundo está como nunca esteve por causa disso da crise, eu sou um incorrigível optimista e isso não mudará agora que estou a caminho da idade em que os homens compram Porsches descapotáveis, e é por isso que eu, meu rapaz, te recomendo que sejas gentil com todos os que estão à tua volta, principalmente com aqueles que estão numa posição menos forte que a que tua, prefere sempre a física e a matemática, vai ajudar-te-a sistematizar os problemas mesmo que venhas a ser actor de teatro ou funcionário das finanças, sê cortês com as mulheres, trata-as com deferência, nunca perdendo de vista que elas são, serão sempre, melhores que tu, nunca te esqueças de tirar as meias antes de teres sexo, ouve música exacta assim que possas e tenta ler Eça, os Maias ou a Cidade e as Serras, ajudar-te-ão a entender as subtilezas da vida, preocupa-te com os pormenores, chora sempre que precises, de preferência sem que ninguém esteja a ver, habitua-te a ir a Alvalade pelo menos uma vez por mês, tornar-te-à mais resiliente, pede que te ofereçam um cão grande e habitua-te a respeitá-lo, verás que ficarás com um amigo para a vida, escolhe com parcimónia aqueles que queres que se tornem teus amigos, não te metas com o facebook, seja colocando lá a tua vida, os teus sentimentos, o que tens de mais precioso, seja comprando acções daquilo, acredita no amor, as vezes que forem necessárias, se não acreditares no amor não terás préstimo, trata dos dentes e esquia pelo menos uma vez por ano, aperta com firmeza a mão de quem te cumprimenta e olha as pessoas nos olhos, principalmente se estiveres a jogar póquer, sorri, preocupa-te com os teus pais, liga-lhes sempre que tiveres dúvidas, eles vão ajudar-te incondicionalmente, mesmo quando não parece, aprende a trabalhar sob tensão e muda para um canal de desenhos animados sempre que esteja na hora dos telejornais, não te esqueças de usar protector solar e aprende a dançar, vai ser útil no teu casamento, sorri, aprende a usar os talheres desde cedo e pede que te ensinem a escolher vinhos que dêem sentido com a refeição que vais tomar, compra uns bons sapatos castanhos e outros pretos, nunca digas a uma mulher que a amas se isso não for rigorosamente verdade, pensa nos outros, beija de olhos fechados sempre que possível, não compres carros italianos, aprende pelo menos três nós de gravata diferentes e mantém sempre os sapatos rigorosamente engraxados, não te preocupes se mais ninguém entender a piada que disseste e, se perceberes que uma mulher entendeu a tua piada, casa-te com ela se hesitar."


(Não fosse Alvalade e os carros italianos, e sería a carta de valores perfeita).

terça-feira, 29 de maio de 2012

Momento (CLXXXIII)

Trazer para casa duas caixas de cerejas vindas directamente do Fundão. Grandes, pretas, suculentas. Para comer até ficar com as pontas dos dedos manchadas.




(Observação dele: "só isso? Uma caixa comes logo na primeira noite..." - o pior é que tem razão...).

Conversas por sms (V)

"e então? os nossos 2 kilos de açucar?"

(Não sou a única em estado de deslumbramento...)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Momento (CLXXXII)

Ver a cara do nosso filho naquele ecrã a preto e branco. Ok, isto está um bocado romantizado, porque na verdade mais parecia uma caveira bolachuda, mas é ele, é a cara que vou beijar daqui a um mês e meio, a mão que não vou querer largar até ao último dos meus dias, a materialização dos dois kilos (?!?!) de gente que não vejo mas sinto em cada murro e pontapé que levo.
Ele tem uma cara. Rechonchuda. Tem olhos, e nariz, e orelhas. Eu sei que isto é básico, tão evidente, é claro que o puto tem uma cara, mas é um ser humano completo que está a crescer aqui dentro! Eu olho para a minha barriga redonda e tento imaginá-lo, o tamanho que terá, os braços e as pernas, os movimentos. E hoje vi-lhe a boca a mexer, a chuchar. A mão a tentar esconder os olhos. As bochechas (aquelas bochechas, meu Deus...) que hei-de encher de festas e cheirar até à exaustão (dele, evidentemente).
E não sou capaz de deixar de me maravilhar com o milagre que estou a viver.

É sempre bom saber...

Uma das actividades da formação de Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho desta manhã, era escrevermos "nas costas" dos nossos colegas uma característica que os definisse (fiquei sem perceber o que é que uma coisa tem a ver com a outra, mas enfim...).
É engraçado (e muito útil) ter a percepção da imagem que têm de nós.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Momento (CLXXXI)

A maioria das pessoas acha isto tão banal que nem vale a pena ser mencionado. São capazes de ter razão, é só mais uma tarefa a desempenhar antes de a vida como a conheci deixar de existir para sempre (já me estou a habituar, o corpo humano é uma máquina fabulosa que já me está a preparar para acordar de 2 em 2 horas, e para não conseguir estar deitada a partir das 7 ou 8 da manhã, mesmo ao fim de semana... já me convenci que só volto a dormir até ao meio dia quando o puto fôr para a faculdade...). Mas enquanto pendurava, perfeitamente alinhados nos arames, as fraldas de pano, as toalhas e mantas, os lençóis cosidos pela avó, os babygrows minúsculos e as meias microscópicas, comovi-me a pensar no quanto tinha esperado e ansiado por este momento tão banal.
Pela primeira vez, há roupa de bebé pendurada no nosso estendal.

domingo, 20 de maio de 2012

Crescer

7 meses e 1 semana. Crescemos de dia para dia com a mesma cadência frenética com que vejo diminuir o tempo que falta para o ter nos meus braços.


domingo, 13 de maio de 2012

Momentos (tantos, todos...)

Muita família, muitos amigos, pouco descanso, tudo ao molho, tantos momentos dignos de memória.
Começou na 6ª feira, com um lanche de bifanas e caracóis na melhor tasca da zona e na melhor companhia, que se prolongou até à meia-noite com moelas e pica-pau. Foi preciso a Paula vir lá do Alentejo para nos juntarmos outra vez, a P. e o N com as pequenas princesas, as conversas non-sense, a vida do dia a dia contada com todos os seus pormenores anedóticos, afinal é isso que fica, o que nos faz rir. Ter ali à mão os amigos que nos acompanham há quase dez anos, retomar os assuntos como se os tivessemos interrompido ontem, mesmo que já não nos víssemos há meses, dá-me uma sensação de conforto e segurança sem descrição possível. Naquele momento (como em muitos outros já vividos com eles), a frase "Os amigos são a família que escolhemos" fez todo o sentido. 
O almoço de sábado organizado pela mãe (agora habituou-se a convidar meio mundo para casa dela, e não quer outra coisa). Conhecer o meu primo (em segundo grau, isto agora começa a ser uma confusão de parentescos...) R.F. de quatro meses, redondo, maciço, simpático e bonacheirão, que correu os colos todos na maior alegria até chegar ao meu, onde começou a chorar. Disseram-me que foi por ter um menino na barriga (a competição começa cedo...). Rever o meu padrinho, que não via desde o funeral do pai (como é que já passaram dois anos?). Está muito mais magro, mas se há algum problema, ele não quis dizer, e também não insisti num dia cheio de sorrisos. O que devia ter sido um almoço rápido prolongou-se até às sete da tarde, com muita conversa (quase tudo sobre as  "maravilhas" da maternidade, as descobertas diárias e a vivência com um novo ser humano, que está agora a aprender a comer papa - coisa linda de ver, ele a tentar chuchar na colher, a cuspir metade, e a ficar furioso porque aquilo lhe estava a dar muito trabalho) e a mente a registar cada gesto, cada reacção, e a imaginar que dentro de pouco tempo (como é que só faltam dois meses?) serei eu a dar-lhe beijos, será ele a fazer-lhe cócegas na barriga, será o nosso filho ao nosso colo, o centro das atenções, o foco de todos os mimos.
Passar um serão a conversar com a R. sem adormecer a meio (só isto já é um feito admirável). Ter pena dos gatos meiguinhos que só querem saltar para o nosso colo e pedir atenção, porque de cada vez que lá vou eles são obrigados a sair do seu canto (eu já lhes prometi que assim que puder, os encho de festas para compensar...).
O almoço de domingo em casa do B. e da A., casa cheia de cor e num estado de agitação permanente, ou não fosse habitada por três crianças, a mais nova com um mês e meio. Mais conversa, muitas dicas de quem já passou por isto tudo (três vezes), e nos vai ensinando tanto, alertando para as manhas e contando episódios caricatos. Brincar com a M. e o Z. Videos da Heidi e balões pelo ar. Falar sobre o dia previsto para o nascimento do Peter Pan e de como achamos que não vai chegar às 40 semanas. O B. abre um calendário e "escolhemos" uma data. Sexta-feira 13. Sempre gostei das sextas-feiras 13. Para mim são dias de sorte. Mas o pacote de açucar de pouco mais de um kilo, que se mexe descontroladamente dentro da minha barriga como se estivesse a apanhar choques eléctricos (mas só quando ninguém está a prestar atenção, porque assim que fixo o olhar na barriga, ele pára - parece mentira, mas não é...) é que vai decidir quando quer nascer (só peço que esperes até às 38 semanas, filho, deixa-te estar sossegadinho aí dentro...). Arrancar a A. de casa para uma hora de compras, roupas de bebé, pois claro, mas uma lufada de ar fresco para uma recém-mãe que também precisa de (e merece) um pouco de distracção.
30 semanas. 7 meses completos. "Festejados" de forma simples e calorosa. Rodeada (rodeados) de pessoas que gostam de nós.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Cada dia melhor (e maior...)

Pareço um pinguim a andar...

terça-feira, 8 de maio de 2012

O amor é (muito mais do que) f%$&#&

“Voltámos para casa anteontem [sexta-feira], nesse dia sagrado. Não há no mundo maior delícia do que a normalidade. Cada palavra da Maria João soa-me a música amada. Nos livros avisam que a remoção de tumores cancerosos do cérebro pode provocar alterações de personalidade.
Eu tinha medo que ela deixasse de ser a Maria João que eu amo. Mais medo ainda tinha que ela deixasse de me amar. A primeira vez que a vi, poucas horas depois da cirurgia, no remanso dos cuidados intensivos, perguntei-lhe se ela me reconhecia. E ela recuou a cabeça ligada, fez uns olhos de surpresa repugnante e perguntou, com convencimento: “Mas quem é o senhor?”
Nem sequer foi o sentido de humor a primeira coisa a regressar. Nunca se foi embora. A Maria João não recuperou: manteve-se. O milagre não lhe era exterior. O milagre é ela. Ela e todas as pessoas de quem ela gosta, que gostam dela.
Eu bem que tento guardá-la como um segredo. Mas só estou bem, quando tenho a sorte de ouvi-la e a vê-la e a vivê-la. Escrever sobre ela é a coisa mais fácil que faço: é uma preguiça e um prazer, como se conseguisse enganar quem me lê. É virar as costas ao mundo, que vai tão mal. Mas que é um mundo que ainda contém a Maria João, a pessoa que eu amo, que ainda aceita o amor que lhe tenho. Que cresce, ao contrário do cabrão do cancro, previsivelmente, certamente, sem fazer mal; fazendo bem.
Meu grande amor: seja de que maneira for, continua. Mesmo deixando de gostar de mim. Mas continua. Vive!”

Por: Miguel Esteves Cardoso

domingo, 6 de maio de 2012

Cumprir a tradição (VI)















 

(As primeiras 11 fotos são dele, as outras são minhas).

Ser mãe

"E este ano este dia é ainda mais especial por tua causa. Já és uma mãe maravilhosa. Uma mãe coragem, uma mãe guerreira. Feliz dia."
Tenho um anjo de caracóis morenos que me vê pelos olhos de uma ternura imensa, que me torna mais do que sou, do que me sinto. Não sei se algum dia chegarei a ser uma mãe maravilhosa. Não sei se lhe chame coragem ou teimosia. Serei guerreira sim, para defender o meu filho de tudo o que lhe possa tirar o sorriso da cara. De resto, só espero, um dia, ouvi-lo dizer "Sou feliz". Nesse dia saberei que estou no bom caminho.

"Acho que és mais mãe agora do que alguma vez serás. Ele agora é só teu."
Tenho um marido que está a crescer de dia para dia, a preparar-se para dar um salto no desconhecido, que tem tanto de aterrador como de fascinante, mas sem nunca perder o humor que lhe é tãaaao próprio...
(Tenho imensa curiosidade de ver que tipo de pai se vai tornar...)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Todo o meu amor

Para quem me deu e continua a dar todo o seu coração.
(59 anos de Mãe. A minha.).

Maria Gadú
"Dona Cila"


terça-feira, 1 de maio de 2012

Novo projecto

Agora que acabei as fraldas de pano (a única reacção dele, como perfeito espécime do sexo masculino foi "sabes que isso é para ficar cheio de vomitado e leite azedo, não sabes?"), tenho de arranjar alguma coisa para entreter as mãos nos tempos livres. Queria mais um quadro para o quarto de Peter Pan, para juntar ao urso de peluche que fiz há mais de 20 anos, mas qualquer coisa que tivesse a ver com a decoração escolhida para ele, aviões e balões de ar quente.  Dei a volta a todas as imagens do Google à procura de ideias, e esta encheu-me as medidas (as cores vão ser um pouco diferentes, claro, mas a base é perfeita).


Como não tenho paciência para pontinhos de ponto cruz que mal se veêm, isto vai ser feito com lãs em talagarça, e cada quadrado ali de cima vai corresponder a quatro pontos cruz. Vai ficar grande, colorido, e já tenho com que me ocupar no próximo ano e meio (no mínimo...).