quinta-feira, 31 de julho de 2008

Frase do dia

"Só trabalha quem não sabe fazer mais nada."
(pelo poeta Gabriel).

Eu não aprendo

Mas quem é que me manda meter-me com tropas?!
A primeira vez que fui para o Gerês com a P. e o N. acabei a fazer uma caminhada de 12 Km (e fui a refilar o tempo todo). Desta vez acabei a subir quedas de água (estilo free climbing) com a outra irmã (malucas dum raio!).
Ver o B. a escorregar até lá abaixo e a cair desamparado dentro de água, porque lhe escapou uma mão durante a subida, pregou-nos um susto de morte (mais a nós do que a ele, que saiu da água a rir). Não tivesse o fato de mergulho ainda vestido e tinha ficado com uma pele nova nas costas.

Mas valeu a pena, só para descobrir um canto do paraíso, inexplorado (pudera, a única forma de lá chegar é descer uma parede de rochas) com uma ilhota de areia a um canto, as quedas de água límpida e morna, onde peixinhos minúsculos nos vinham picar os pés e as pernas ( e a P. a passar-se "Eles estão a comer-me viva!!")

Vai ficar-me na memória o som da água a cair, o único que se ouvia num silêncio só possível no meio da serra, longe de qualquer estrada, num sítio que nenhuma placa indica que existe, e que nenhum roteiro turístico anuncia.

Na serra... (VIII)

... não há ondas de mar, mas água brilhante do rio


... não há areia da praia, mas pedras redondas, brancas, negras e ocre
... não há guarda-sóis coloridos, mas a sombra verde das árvores


...não há hotéis de 5 estrelas, mas umas águas furtadas de onde se ouvem as badaladas do relógio da igreja
...não há almoços buffet, mas ceias de bolachas e iogurtes às tantas da manhã.
E há os amigos que partilham todos estes momentos connosco, que têm os mesmos ritmos e gostos.


Enquanto escrevia isto, a P. estava deitada ali ao meu lado, a ler uma revista, no mais completo silêncio sem constrangimentos, só possível de alcançar com aqueles que nos são queridos. Abrimos os pacotes de Oreos e biscoitos de manteiga, ela ía-me lendo excertos que achava interessantes, eu ía escrevendo letras verdes no meu caderno de linhas forrado com a imagem de um anjo.

Na serra (VII)

Voltamos, e voltamos a ser recebidos da mesma forma: com sorrisos rasgados e abraços sinceros. Não somos de lá, não temos lá parentes, mas somos tratados como "um dos nossos".
Queria sair de casa, mas ir para um lugar que mantivesse a paz e tranquilidade, sem as hordas de turistas e avecs que invadem a maioria dos destinos nesta altura do ano. Não podíamos ter escolhido melhor destino (neste caso, foi o destino que nos escolheu).

Férias

Pela primeira vez desde que estamos a viver juntos, deixei-o decidir como seríam as nossas férias de Verão. No final da primeira semana já dizia mal da minha vida, e jurava a mim mesma (e a ele) que não voltaría a acontecer.
Até compreendo que, para alguém que durante todo o ano não tem tempo para estar em casa descansado, a ideia de passar duas semanas no mais puro sossego do sítio mais acolhedor que conhece (a sua casa) seja muito apelativa. E nos primeiros dias até me soube bem, vi os filmes que estavam já há algum tempo "prometidos", dormi a sesta, comi o que quis e às horas que me apeteceu. Mas comecei a sentir falta das patuscadas com os amigos, do sol, dos pés na areia e do cheiro a sal na pele.
O convite para voltar à serra veio na altura certa (quando eu já pensava em fazer a mala e ir sozinha para a praia). Ele ainda hesitou, acredito piamente que preferia ter ficado em casa, mas uma relação também é feita de cedências, de compreensão, de pôr os interesses do outro à frente dos nossos (esta parte é um recado, sei que ela vai perceber).

domingo, 27 de julho de 2008

Naquele tempo

Chegámos a horas, no meio da multidão que descia a rua, todos movidos por um mesmo objectivo. Encontrámos um lugar à sombra, de onde tínhamos uma visão privilegiada.

Não tivémos de esperar muito, aos primeiros batuques dos tambores surgiram os os cavaleiros cristãos, anunciando a sua partida. As mulheres ficavam na aldeia, entregues ao cultivo da terra.
Seguiu-se a invasão dos mouros, os trabalhos forçados,a diversão protagonizada por um dançarino egípsio de Tanura e por uma bailarina de dança do ventre (achei a dança tão sensual que tive vontade de ir ver se há algum sítio aqui perto onde eu possa aprender).

A chegada dos Cavaleiros dos Templários vem salvar a situação, e o amor da princesa moura pelo escudeiro cristão pode finalmente ser assumido, mas só consumado passados 40 dias "até lá, nada de fornicação" (e ouve-se do meio da multidão "oh pai, o que é fornicação?").
A reconstituição histórica da tomada do Castelo de Almourol termina com música de gaitas de foles e alaúdes, entre muitos e merecidos aplausos.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Conversas (logo de manhã)

- Porque é que não vestes o outro pólo amarelo?
- Porque gosto mais deste, e enquanto durar...
- Chama-se variar, sabias?
- Variar é da cabeça!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Ternura (II)

A princesa já foi embora, mas todo o meu quarto cheira a bebé.
Não me apetece sair daqui.

Ternura

Tenho a pequena princesa aqui ao meu lado, na cama, a dormir serenamente.
Já lhe tirei fotos, já a filmei (num momento de desassosego, talvez um sonho, com o que será que eles sonham?), já lhe beijei as mãos minúsculas de pele macia, já cheirei o seu cabelo escuro mil vezes. Perco a noção dos minutos passados, só a olhar para ela, a observar todos os gestos involuntários do seu corpo, os trejeitos dos olhos, os pequenos movimentos da cabeça, a forma como encosta as duas mãos à boca e os suspiros profundos que exala de vez em quando.
Ternura, pura ternura.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Momentos (XVII)

Ser mimada com um jantar feito por ele: esparguete com ameijoas (vietnamitas), servido numa travessa decorada com salsa e tudo.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Freeze!!

Já estão congelados!!
Esta manhã (acordar às 6.45 num dia de férias devia ser considerado crime) tivémos de ir a Coimbra para uma nova colheita, desta vez com ordem de congelação, caso existissem vivos e com motilidade.
À tarde recebemos um telefonema da médica encarregue do procedimento, a informar-nos que assim que viu ou dois primeiros, congelou toda a amostra. Aconselhou-nos a fazer nova colheita (basicamente, o que ela quis dizer foi que quantos mais saírem, mais são produzidos), mas preferimos esperar pela opinião do Dr. House (a consulta é daqui a pouco tempo).
Hoje acendi mais uma chama de esperança.

Bom ritmo

Em dois dias vi o Made of Honor, Hancook, L'Auberge Espagnole e Frida (e com sorte ainda vejo A Casa do Lago hoje).

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Pretexto


Ir ver Leonard Cohen foi só um pretexto.
Pretexto para rever amigos, para rir muito, para aprender um pouco mais sobre alguém, e ao mesmo tempo aprender um pouco mais sobre mim própria. Para passear à beira rio numa noite magnífica, parar para beber um copo (alguém falou em copo de leite) e acabar a noite já com saudades, com vontade de esticar o tempo, apesar do sono (que a idade já pesa para alguns).

Pretexto para ficar em casa dos pais, acordar cedo para estar com eles, ouvi-los, ver a alegria da mãe por ter a família toda reunida no almoço de domingo. Depois de assistir a uma partida de matrecos na Casa do Benfica e passar quase uma hora a escolher um perfume (Incanto, frasco azul, delicioso), voltar para casa e jantar ameijoas à Bulhão Pato e sapateira recheada (feitas pela je) foi a melhor forma de terminar os primeiros dias de férias.

Ouvir e sentir (ao vivo II)

Leonard Cohen
"Dance me to the end of love"




A única música que não ouvi (é o que dá ficar a comer gelados na esplanada e ter de ir tirar senhas de códigos de barras para poder ir ao WC).
Por alguma razão lhe chamam "voz de cama", passei (quase) todo o concerto a imaginar como sería ter uma voz daquelas a sussurrar-me ao ouvido (mas não fui a única). Fiquei rendida à qualidade da banda que o acompanhava, às backup vocals (o solo delas foi magnífico), mas principalmente ao charme de uma música intemporal.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Serviço público

Ter um informático pessoal tem as suas vantagens: o meu computador nunca tem vírus e tenho sempre as actualizações (bem) feitas. De vez em quando pergunta-me se quero o programa xpto que faz sei lá o quê. A maior parte das vezes não ligo, desde que o portátil dê para ir à net e ver filmes, para mim está tudo bem. Mas hoje conseguiu surpreender-me.
O PicLens é um add-on do Firefox (também funciona no Internet Explorer e no Safari, e o download é gratuito, é claro que eu só sei isto porque ele me disse) que permite um ecrã de visualização em 3D. É como estarmos a olhar para uma galeria de quadros (sem todo o ruído visual que a maior parte das páginas tem), e podemos ver os videos do Youtube e os trailers em fullscreen (acabei de ver o do novo 007). Estou deslumbrada!!

É oficial

Estou de férias!!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Ouvir e sentir (XXII)

Pela letra, pelas vozes, pelo significado...

Da Weasel e Manel Cruz
"Casa (Vem fazer de conta)
"

Avós

O Continente fez um folheto com artigos para oferecer no Dia dos Avós. Entre eles, dois livros: "Avô, conta outra vez" e "Para uma Avó muito especial".
Fiquei a pensar em comprá-los e guardá-los.
Fiquei a imaginar-me a oferecê-los aos meus pais, bem embrulhados, e a expressão nos seus olhos ao perceberem, e os sorrisos e os abraços, e poder dizer-lhes "vão ser avós".

Sorte

Hoje em conversa com um cliente, fiquei a saber que demora uma hora e meia a chegar ao emprego. Três horas diárias passadas a conduzir, um desgaste físico e psicológico que transpareceu na forma como o disse, para além de que, em caso de emergência (como já lhe aconteceu) ter de pedir a familiares que acudissem a situação, porque ele não conseguia chegar a tempo.
Deixou-me a pensar na sorte que tenho. Eu demoro 5 minutos da casa ao escritório (vá, 7 se apanhar algum camião pelo caminho). É claro que em Lisboa ganhava o triplo (mas também pagava o triplo por uma casa).
Em Abril deste ano (no dia das mentiras, ao qual eu não ligo nenhuma), a A. disse-me com o ar mais sério deste mundo que estavam a pensar transferir-me para o escritório de Lisboa, e que eu tinha de aceitar desde que me pagassem todas as despesas de deslocação. O meu primeiro pensamento foi "se me fizerem isso despeço-me logo." Não o disse, mas os meus olhos devem ter falado por mim, porque imediatamente a A. descansou-me, que era brincadeira, com uma cara de "tu tem lá calma contigo". Mas caso não fosse brincadeira, não tenho dúvidas qual sería a minha decisão.
Feitas as contas, aquilo que (hipoteticamente) ía ganhar a mais não compensa a qualidade de vida que tenho aqui. E já não me imagino a viver de outra forma.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Ouvir e sentir (XXI)

Ana Carolina e Seu Jorge
"Pra rua me levar"

terça-feira, 15 de julho de 2008

Conversas ao jantar (XIII)

- Tenho de ter uma conversa comigo próprio debaixo de uma folha de couve.

domingo, 13 de julho de 2008

Na serra (VI)

Na aldeia de casinhas de pedra e ruas estreitas decoradas de hortências, voltámos a sentir-nos acarinhados, como se fôssemos da família.


Ficam-me as imagens e os sons da animação dos almoços e jantares com 20 pessoas na mesa, e comida que chegava para 40 ( e vinho que chegava para 120!!), do riso das crianças a arrancar ervas para pôr dentro de um alguidar cheio de água (para fazer uma sopa, claro), da serenidade da S. a dormir na sua cadeirinha, quase 3 kilos de gente no meio daquela algazarra toda, sossegada, sempre sossegada.


As conversas do Mau e do G. a tentarem picar os "meninos da cidade", e o rio com uma água tão límpida, onde podíamos ver as pedras no fundo, e os peixinhos pequenos que nos vinham picar os dedos dos pés, e as miúdas a chapinhar na água até ficarem com os lábios roxos do frio, para depois se virem aninhar no meu colo, enroladas em toalhas e a comer bolachas.


Ficam na memória os momentos hilariantes: o bolo de aniversário do B. e gelado de arroz doce espalhados na cara (e cabelo, e ouvidos, e camisola) da P. e do G. ; a I. que trancou o pai na casa de banho, sem querer, e depois vem a correr para a mesa para nos avisar (esta tinha mais piada se ele não fosse claustrofóbico e não tivesse entrado em pânico e partido o vidro da janela com a mão, nos 2 minutos que demoraram a chegar ao pé dele, mas como não se magoou, acabámos todos a rir); acordar no domingo ao som de 40 morteiros a serem lançados a poucos metros de distância (alvorada para a procissão) seguidos da banda filarmónica a percorrer todas as ruas da aldeia (na altura não achei muita graça).


Na serra, mais uma vez, vivemos momentos de amizade, partilha e animação que não serão esquecidos.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Carpe Diem

Hoje disseram-me (escreveram-me) algo que me deixou a pensar: tudo aquilo que deixamos de fazer enquanto esperamos por algo que tarda em chegar. Deixei de fazer planos a longo prazo, sempre na expectativa. Não digo que tenha perdido grandes oportunidades ou deixado de viver normalmente, mas talvez pudesse ter aproveitado mais, divertido mais.
E por causa disso amanhã vou para Oliveira de mota. Não é bem de mota, é de bmw do N. (uma porra com punhos aquecidos não é uma mota de verdade, é uma trotineta para meninos!!) Mas tem as malas laterais, e dá muito jeito para não ter de levar com o peso da mochila o caminho todo. E sinceramente, deve ser mais confortável que a nossa CBR. E claro que ele tem sempre a desculpa que só aceitou andar "naquela coisa" porque eu quis (mas a ideia até foi dele).

terça-feira, 8 de julho de 2008

Mimos

A princesa S. já está em casa. Já cheira a bebé, já reage a sons mais altos, mas continua a ser uma paz d' alma, não chora, mama e dorme e volta a mamar (e adormece pelo meio). Mexemos-lhe nas mãos, nos pés, nas bochechas, no queixo, e nada. Se a chatearmos muito faz um esgar de beicinho, a cara contrai-se e fecha os olhos com força, para logo a seguir as feições se suavizarem novamente, como se o mundo inteiro não tivesse interesse nenhum, como se o mais importante fosse simplesmente o aconchego que está a sentir.
Todos nós já passámos por isto, e é uma pena não guardarmos recordação dos primeiros meses (ou então é melhor assim, senão passávamos o resto da vida a chorar).

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ouvir e sentir (XX)

E o espírito continua...

Coldplay
"Viva la Vida"

Já nasceu!!

A Miguela já nasceu. É claro que não se chama Miguela, tem nome de princesa. Ainda não é linda, (como todos os recém nascidos, tem a pele enrugada e cheia de pontinhos), mas vai ser. Um anjo de caracóis louros, a cópia da irmã, tirada a papel químico. E é um doce, sossegada, andou de braços em braços com uma placidez desarmante, só ameaçou começar a chorar quando levou com o flash da minha máquina (esqueci-me de o desligar antes).
Uma vida que começou agora, todas as possibilidades em aberto e já a certeza do amor incondicional dos pais e dos amigos.
Podia tentar descrever o que senti quando lhe peguei ao colo, mas não consigo. Sei que não senti um pingo de tristeza, nem mágoa, nem inveja. Só uma vontade imensa de acarinhá-la e sussurar-lhe ao ouvido: Bem vinda.

domingo, 6 de julho de 2008

Jump!!

Hoje o espírito é este!

Gnarls Barkley
"Going On"

Perdição

Eu não me posso juntar com os meus irmãos muitas vezes. É a desgraça total.
Sexta à noite saí com os dois, passei o tempo todo com a sensação de ter dois guarda-costas (se bem que os guarda-costas não pagam copos a quem estão a proteger).
Sábado ao meio dia estava a beber martini na Casa do Benfica (aka, ir à missa).

Alívio

Não sei bem se é isto que eu sinto, mas não andará muito longe. Deixei-me envenenar antes de ver com os meus próprios olhos. O pai já foi ao médico, mas tal como eu e os putos, continua a proteger a mãe das verdades. Basicamente tem o fígado todo lixado.
Uma solução será um transplante, mas ele não está muito convencido, enquanto esteve no hospital viu 4 pessoas morrerem depois de se terem submetido ao mesmo. A outra é a medicação, tomada religiosamente. Para já prevalece a segunda, não lhe vai acrescentar anos de vida, mas permite-lhe manter uma vida normal. Não está tão magro como me anunciaram de uma forma tão dramática, explicou-me o porquê, os nervos que sentiu, a perda de apetite, até finalmente se convencer que não era o fim, é concerteza uma má notícia, mas não completamente inesperada, nada que ele não estivesse já à espera.
Contei-lhe a minha verdade depois de me ter aconselhado com o puto mais velho. Não contei à mãe, por conselho dos dois. Mas tive a coragem de lhe dizer que é isso que nós fazemos, passamos a vida a protegê-la para ela não se passar, e que no dia em que tivesse algum problema ela não iría saber, ou só tería conhecimento quando já estivesse tudo normalizado. Mostrou-se chocada, mas espero que fique a remoer um pouco isto, acho que nunca é tarde para mudar, e ainda tenho esperança de vê-la um dia como uma mãe forte em quem eu me possa apoiar.
Depois fui para os copos com os putos.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Conversas ao jantar (XII)

- Na próxima vida vou ser um gato.
- Não vais nada, vais ser uma gaja.
- Porra, uma gaja não, isso é muito confuso!!
- Confuso porquê?
- Porque vocês pensam com os dois lados do cérebro ao mesmo tempo, isso deve ser uma ganda confusão!

Verdade

Não tenho escrito nada. Para ser sincera, parece-me que não tenho feito nada estes dias. Não tenho tempo para nada, os dias escorrem por entre os dedos, passam numa vertigem. Trabalho-casa, quando dou por ela é uma da manhã e penso que tenho de ir dormir, tenho de descansar, e não tenho tempo para nada.
Ansiava pelo fim de semana, ficar sossegada, dormir até não aguentar mais, arrastar-me da cama para o sofá e ali ficar, só ficar. Já tenho os planos furados. Um telefonema de uma amiga da mãe (enfermeira, o que torna tudo mais sério e preocupante) estragou tudo, o pai continua a emagrecer a olhos vistos, sem explicação para tal. Ele diz que se sente bem, não lhe dói nada, não se sente cansado, come bem. Mas não pára de emagrecer. Não é normal, eu sei que não é, e ele também sabe, só ainda não percebi se sabe mais alguma coisa que nos esconde, ou se está simplesmente a esconder a cabeça na areia. Recusa-se a ir ao médico, e qual é a solução? A filha pródiga ter de se chatear, ter mais uma vez de mostrar que é forte.
Amanhã sigo para Lisboa, e não vou com vontade de falinhas mansas. Apetece-me gritar com eles todos, com o pai por se estar a portar como uma criança, sem pensar na preocupação que causa ao resto da família, com a mãe porque não é forte e temos de andar com ela nas palminhas das mãos, com medo que se quebre ao menor impacto, com os putos por não serem capazes de resolver um problema, com todos por estarem à espera que eu lá vá "tratar do assunto". Apetece-me gritar-lhes "E eu, se tiver algum problema quem é que vai resolvê-lo?"
É claro que não vou fazer nada disto, já tenho o discurso mais ou menos preparado, só ainda não decidi se conto toda a verdade. Já que estou numa de pôr as cartas na mesa ao menos que seja o jogo todo. Não sei como é que a mãe vai reagir. A verdade nem sempre é agradável, mas liberta-nos. E eu acho que preciso de me libertar deste segredo que escondo deles há quase 3 anos.