domingo, 31 de outubro de 2010

Ouvir e sentir (CLVII)

Joseph Vincent
"That girl"


Lamentar

Enquanto víamos no ecrã as imagens do (mais um) atentado na Praça Taksim, aquela onde apanhámos os três taxistas desgovernados que nos levaram numa viagem alucinante até próximo do hotel que nenhum deles sabia onde ficava (próximo porque assim que reconhecemos o bairro gritámos para eles pararem e preferimos ir a pé o resto do caminho, a rir com o video que alguém gravou do interior de um dos táxis) e ele me dizia com olhos assustados disfarçados pela ironia da voz "Vês? Volta a ir lá... ", eu só pensava que aquela cidade fervilhante e bela não merece ser palco de tanta brutalidade e tanto ódio. E que continuo a ter vontade de lá voltar.

Conversas no carro (VI)

No regresso do aeroporto, já com a S. e a minha afilhada (está mais alta e tem o cabelo cheio de canudos loiros, está linda e pediu colo e recebeu beijos sem fim) no banco de trás, a ultrapassarmos um Quasquai:
- Não!! (enquanto o meu olhar de ligeiro agrado acompanha as linhas do dito cujo)
- Porquê? Servia para as duas coisas...
- Quais duas coisas?
- Para andar na estrada e para fazer mato! (nem eu acredito nisto, mas pronto, temos de utilizar todos os recursos...)
- Aquilo?! Tropeçava numa pedra e caía para o lado...

(Isto tudo porque o jipe afinal entrou em estado de coma e está ligado à máquina).

As bruxas saíram mais cedo

Depois de uma sessão contínua de trabalhos manuais até às 4 e meia da manhã (eu disse que tratava da capa cinzenta, pois bem, agora tem um belo acabamento em crochet de lã - é claro que o meu irmão disse logo que eu tinha trazido a manta para a rua...),

 
e de o ouvir sair de casa cedo para ir ver a Baja (não regula bem, só pode, com esta chuva vai fazer o quê? ver carros a atravessar rios de lama? Depois de ver as fotos que ele tirou, só posso assumir que há mais, muitos mais, o que não falta por aí é gente doida, chiça...), acordei da melhor forma que conheço (bem, a segunda melhor...): a ouvir o som da chuva a bater na janela, e a pensar que ainda era cedo, e podia ficar por ali, entre o calor dos lençóis. Só me enganei na hora, meio-dia e meia não é cedo, mas como a minha única preocupação do dia era ter de me vestir para ir comprar tabaco, não me ralei muito.
Depois de um lanche tardio com pastéis de nata gigantes e canela a voar pelos ares, fui com o puto grande e a família a uma festa organizada pelo R. Não me lembro há quantos anos não nos juntávamos, os quatro primos que passavam os verões na terra da avó, os três primos que chegaram a morar juntos com ela, e eu, "a mais velha" como eles fazem questão de dizer, vejo o F. agora com 22 anos e a namorada ao lado e lembro-me (mesmo, não é só de ver nas fotografias antigas) de pegá-lo ao colo no dia em que foi baptizado, e do verão em que largou a fralda (a avó deixou-o andar de Junho a Setembro só em t-shirt e ténis ou descalço, foi remédio santo); e o R., parece que foi há pouco tempo que partiu a perna e chorava com medo de andar com as canadianas, ou que começou a gravar cd's de música que vendia a 5 euros aos colegas, e afinal já tem 30 anos e um emprego que o está a desgastar a olhos vistos, mas como não é capaz de estar quieto ainda vem ao fim-de-semana para "a terra" dinamizar uma vila abandonada ao marasmo. Foi o grupo dele que organizou a festa, duas bandas de garagem (uma dali da zona, outra francesa) e dois DJ's à desgarrada para acabar a noite. 


 Mas não foi a música que fez a minha noite, nem a cara de pânico da C. a dizer, mal a 1ª banda começou a actuar " A miúda sossegou. Ela gosta desta música! Estou lixada, a minha filha vai gostar da mesma música que o pai!" e nós ríamos e dizíamos que lhe arranjávamos uns cd's de Korn e System of a Down para a adormecer, e que mandávamos fazer uma t-shirt a dizer O Orgulho do Papá (preta e com uma caveira). 

 
O que fez a minha noite foram as memórias de alguns dos melhores anos da minha vida, os laços de sangue e de amizade juntos (nem sempre acontece, sei do que falo, mas não ali) naquela mesa cheia de copos de plástico vazios, uma família amiga mexeu e remexeu numa história partilhada que nos acompanhará, por mais anos que estejamos sem nos vermos, sem falarmos, sem nos lembrarmos dos aniversários uns dos outros, porque quando estes momentos acontecem, parece que o tempo não passou, só nós é que crescemos - um bocadinho só - mudámos a imagem, mas a palhaçada continua a mesma.
  

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Momentos (CXXXV)

As primeiras broas do ano, chocolates Godiva e uma fita de tecido púrpura. Como os tons do pôr do sol que me fez parar o carro e saltar para a estrada só para fotografá-lo.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Momento (CXXXIV)

O D. chegou a casa com os braços e o pescoço todos riscados, e disse à mãe que tinha pedido a um colega "para lhe fazer tatuagens". A C. dizia que quando a L. nascer, fica com o pai, o irmão e o tio, e nós vamos as duas para um Spa "aliviar o stress". O N. estava aqui espojado no puff a imaginar-se dentro de uma terrina de mousse de chocolate.
Acabaram de sair. E eu fiquei a rir sozinha.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

E são gestos destes...

... que tornam um dia especial (isso e a capa de malha cinzenta que comprei à hora do almoço, à qual já arranquei o fecho e estou agora a magicar como vou dar-lhe um toque pessoal...).

Ter uma lista de coisas a fazer quando chegar a casa:
- Limpar a gaiola das porcas (que elas chamam-se assim por alguma razão...)
- Lavar o aquário da tartaruga (que a água já está tão verde que nem se vê o bicho...)
- Passar a ferro umas camisas que por lá andam a rebolar (que a minha relação com a engomadoria não está a correr lá muito bem...).
Sair do trabalho às 8 da noite (sim, que agora já é mesmo noite) e vir o caminho todo (7 minutos, portanto) a pensar na p%$& da lista.
Chegar a casa e perceber que ele tratou das bichezas à hora do almoço (faltou as camisas... não posso almejar a perfeição).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Canção de embalar

Fredrika Stahl
"Twinkle Twinkle Little Star"



domingo, 24 de outubro de 2010

A calma...

... que antecede a tempestade?
Estes dias têm sido tão calmos e pacífícos (excepto o jipe nos ter pregado um susto de morte, junta da cabeça à viola, pelos vistos os carros desta casa decidiram todos amotinar-se, já fazíamos contas à vida se valia a pena mandar arranjar ou não - e ele já corria os sites todos à procura de um Land Rover - afinal tem arranjo, mas a ideia do Land Rover já ninguém lha tira...) que até estranho.
Hoje, depois de termos (termos não, que eu só fiquei a olhar, enquanto ele e o C. andavam de cabeça enfiada dentro do capô) trocado o cabo da embraiagem do carro do N. (outro que se passou), de um almoço na esplanada do Mac com o C. e a C. e de um café no terraço do Lodge (sítio a repetir, gostei do espaço, está-se lá muito bem),


preferi passar a tarde enrolada no sofá, a ver os raios de sol a entrar pela janela e a pintar o meu pijama de tons dourados (e dormir uma sesta de 3 horas) do que meter-me num carro e sair à deriva.

sábado, 23 de outubro de 2010

E o dia acaba assim

A dois. Com cinema e abafado. E sem tabaco (pelo menos até chegar a casa).

Fui dar uma volta




(Enquanto eu tirava esta foto, um senhor com os seus 50 e muitos anos aproximou-se também com uma máquina fotográfica e diz-me "Estamos todos para o mesmo... se gosta disto, um dia que vá à República Checa, fica doida...").










E o dia começa assim





Quem diría....

... que eu ía gostar deste filme? Ok, tinha à partida a vantagem de ser uma história de amor lamechas, mas foi a relação pai-filha que mais me comoveu; torcia o nariz à Miley Cirus, mas a rapariga até se ajeita; e depois há a praia, a casa na praia, as tartarugas-bebé, o guarda-roupa dela e a banda sonora.

Alpha Rev
"New Morning"
(The Last Song OST)


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Momento (CXXXIII)

- Ai, o que é que eu compro para o Xixa que faz anos hoje?!?
O N. tinha-me sugerido um jogo para a PSP, é sempre uma garantia de que ele vai gostar. Assim fizémos, à hora do almoço rumámos ao shopping e ficámos com ar bovino a olhar para a prateleira (mas só depois de eu ter atirado 5 caixas de jogos ao chão e deixado os empregados todos a olhar para mim). Tinha enviado um sms à C. a pedir orientações, mas ainda não tinha resposta. Estávamos por nossa conta. Ele com a sua habitual paciência vai directo ao balcão e pergunta qual é o jogo mais recente, o senhor do outro lado responde que é o Fifa 2011 (que por acaso não estava exposto) e está feita a escolha. Almoçamos juntos, uma raridade nos dias que correm, e só mais tarde recebo um "Ele pediu 3 jogos, o pai vai dar-lhe 2, só falta o Fifa 2011".
À tarde, quando a família me entra em casa com pão-de-ló carregado de chantilly, e o D. arregala os olhos e solta um sorriso rasgado ao abrir o presente, o meu dia ficou completo. Um dia alegre e leve, mesmo no trabalho, cheio de risos e conversas soltas, como já há algum tempo não havia memória por estes lados. Pensei que devia ter jogado no euromilhões. Depois pensei no outro euromilhões que me podia sair na rifa, só para gravar este dia para sempre na minha história.
(E agora vou parar de pensar e vou ver um filme, que estou bem-disposta e é para manter).

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ouvir e sentir (CLVI)

Ingrid Michaelson
"The Chain"


Viver os dias

"É, não é?
Também tenho dias assim, e nesses dias dou por mim a pensar em largar tudo, pegar numa mochila e comprar um bilhete para uma ilha grega. Ía servir à mesa num restaurante minúsculo, queria lá saber, mas saía daqui, desta rotina!
Mas depois ligo à minha mãe e penso que lhe ía partir o coração, o meu irmão liga-me e penso que a minha sobrinha / afilhada está quase a nascer, e ele chega a casa estourado de cansaço e penso que já não imagino a minha vida sem ele. E fica tudo na mesma. Ter família, ter raízes, é muito bom mas condiciona esta vontade de voar para longe. E como a hipótese de trocar aqueles que amo por uma aventura nem sequer é uma hipótese a considerar, não tenho outro remédio senão tentar viver os dias da melhor forma possível, descobrir alegria num qualquer canto das horas, imaginar o meu chefe sentado na sanita a cagar quando ele me liga cinco vezes seguidas (a intervalos cronometrados de 3 minutos), só para dizer que vai enviar um email ou o raio que o parta, sei lá, qualquer coisa que me faça sorrir (nem que seja desenhos animados de estupidos ninjas japoneses).
Sabes que mais, vou escrever isto no meu blog, para me lembrar da próxima vez que a besta ligar."

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Isso é que era de valor...

Receber agora, assim sem mais nem menos, uma caixinha de biscoitos destas...






(sonhar não paga imposto... ainda...)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Passar o tempo

Tenho andado ocupada. A fazer mantas de lã. Uma em tons de azul para um menino que não sei quem será. Outra em tons de amarelo e roxo para a L. que se está a preparar para nascer mais cedo, desconfio. Ontem a C. viu-a pela primeira vez, quando vieram cá a casa jantar queijo picante mal-cheiroso e arroz de peixe, e disse que gostava das cores. Sorri mas não revelei que é para a ginasta olímpica que ela traz dentro da barriga cada vez mais redonda.
Tenho andado entretida. A ver filmes (acabei agora o Principe da Pérsia - é giro mas não passa disso). Entre comédias românticas e filmes antigos, venha o diabo e escolha, porque já há poucos que me arranquem suspiros. Este foi o último a consegui-lo. E tenho pena, muita pena,  porque adoro ver um filme que me mexa com as emoções e me deixe a pensar nele horas, dias depois de ter terminado. Se os novos não o conseguem, tenho de me virar para os velhos, a lista sagrada dos "A repetir", está visto.
Tenho andado distraída. A procurar músicas no Youtube e trailers de filmes. A acompanhar os 64 blogs do Google Reader (fora os da barra ali do lado). A aproveitar o silêncio da casa e o conforto da manta no sofá. Para acabar ía escrever "A tomar calmantes" só pela piada, porque é mesmo uma piada que aquilo não me faz nada, quer dizer, nada do que é costume associar a calmantes, não me dá pedradas de sono - ontem obriguei-me a ir para a cama já passava da uma da manhã - nem me diminui a capacidade de raciocínio - mais do que já é normal, está claro. Só noto que tenho a respiração mais compassada, sem aqueles acessos repentinos de falta de ar que me obrigavam a inspirar fundo vezes seguidas. E também me passou a vontade de chorar. Nas últimas duas semanas não houve um dia em que não tivesse chorado. Verdade. Já passou.
Ainda não consegui baixar a fasquia dos 4 cigarros por dia, mas eu chego lá. O problema é que eu gosto de fumar. Não é o cheiro, não é o sabor. É o gesto. É o que eu associo a esse gesto. O encerrar de um dia trabalho. O chegar a casa. O fim de uma refeição. Os copos com os amigos. Esta última é a mais lixada, ando a ice tea e suminhos para controlar as ameaças potenciais. Curiosamente com o café não tenho esse problema, não associo uma coisa à outra.
Ando a passar o tempo. A fazer o que mais gosto. Só isso.

sábado, 16 de outubro de 2010

Pormenores (XVIII)...

... de uma noite bem passada.



 

 

Aqui fui feliz



 




As férias de verão desde que me lembro de ser gente, as primeiras paixões de adolescente, o primeiro emprego, os melhores anos de escola, o início de um amor que ainda perdura.
A casa onde vivi 3 anos, o caminho que tantas vezes percorri às escondidas, o tanque da rega onde tomávamos banho (e o F. afogava os gatos), as árvores e o baloiço da eira. Testemunhas de parte da minha vida. A que foi vivida mais intensamente.

Isto não está fácil...

Ora bem, a coisa estava a correr bem, fumei o terceiro cigarro do dia a seguir ao jantar, cravei-o ao N. para guardar a última mortalha que havia em casa para ele fumar o seu cigarro quando chegasse das aulas. Só que são quase quatro da manhã, ele está aqui ao meu lado a dormir com ar sereno, e eu estou fresca como uma alface, sono é mentira, a segunda manta já tem metade dos quadrados de lã cosidos, e apetece-me um cigarro. E para mal dos meus pecados lembrei-me agora que há um, escondido no porta-luvas do jipe...
Vou só escapulir-me de casa num instante...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Cuidar

O N. telefona-me a perguntar se posso ficar com o D. enquanto eles vão ao hospital porque a minha afilhada está a fazer a vida negra à mãe. Ainda estou a trabalhar e peço-lhes para me trazerem o puto à fábrica com a PSP para ele se entreter. Já não é a primeira vez que aqui vem, e as minhas colegas acham-no querido, metem-se com ele e espantam-se por ser tão grande para um menino de 7 anos. Senta-se numa cadeira em frente à minha secretária, e ali fica sossegado enquanto acabo de enviar uns emails (que já ninguém vai ler, passa das 7 da tarde de uma sexta-feira, pelo amor da santa...).
Levo-o para casa, no banco de trás do DJ e com o cinto de segurança bem posto, sento-me no sofá a fazer puzzles com quadrados de lã enquanto ele olha vidrado para a telenovela dos homens (aka wrestling), e quase tenho de o arrancar do puff para irmos jantar.

- Onde vamos?
- Àquele restaurante ao fundo da rua, que tem pizzas, massas, hamburguers...
- Não quero hamburguer, não gosto do queijo...
- Mas podes pedir sem queijo!
(Pausa para digerir a informação)

- E vamos a pé? (enquanto faz uma careta de quem está quase a desfalecer de cansaço)
- Claro que vamos, é já ali ao fundo da rua!!
(Dá-me a mão e vai o resto do caminho a tagarelar).

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Inspiração (XIV)

Bolo de ameixa e conversa com o mano à janela. Ele a fumar um cigarro. Eu sentada quietinha com as mãos enfiadas debaixo das pernas.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Acalmar (II)

Woosah...

Devotchka
"The last beat of my heart"


Acalmar

Nestes dias tenho pena de não andar com a Canon atrás, mas também de pouco me adiantava porque não tería a rapidez de reflexos suficiente para premir o botão no momento exacto em que o táxi rola pela estrada e eu vejo de relance numa parede, em letras garrafais "Abandonai toda a esperança, oh vós que ainda acreditáveis. Portugal morreu. R.I.P."
Lisboa tem uma luz dourada e quente nesta manhã de sol como que a confortar-me, a dar-me alento, a dizer-me "vai correr tudo bem".




Enquanto o táxi se escapa entre as sombras da Avenida da Liberdade, vem-me à memória o anúncio da Coca-Cola em que o velhote de 102 anos fala para o bebé recém-nascido e lhe diz "no final, aquilo que vais recordar são as coisas boas" (mais ou menos assim). A minha essência dita em espanhol.

 

(Depois passei 4 horas entre imagens das trombas de Hugo Chavez a passar de 5 em 5 minutos na televisão venezuelana, e telefonemas para 3 divisões do Ministério da Agricultura a pedir por todos os santinhos para me enviarem UM fax com UMA assinatura. Não enviaram. Lá se vai a essência.)

Por "ordem" da médica só posso fumar um cigarro por dia. Ele só faltou bater palmas no consultório depois de ouvir isto. Aconselhou-me um calmante ligeiro para "ajudar".
Estou oficialmente a calmantes.
Estou para ver quem é que me atura nos próximos tempos.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

À procura de um anjo (IX)

Kate Voegele
"Angel"


domingo, 10 de outubro de 2010