quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Os deuses

"Os deuses estavam aborrecidos,
por isso inventaram os seres humanos;
mas continuavam aborrecidos,
por isso inventaram o amor.
E nunca mais voltaram a ficar aborrecidos.
Então decidiram experimentar eles próprios o amor.
E finalmente, inventaram o riso.
Para conseguir manter o amor."
In: Feast of Love

Carly Brothers
"Honestly"
Feast of Love OST

Momento

- É tão bom ter-te em casa...
- É tão bom estar em casa...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Vamos para casa

Já teve alta!!
Agora só estou à espera que ele se vista para irmos para casa.
Quando cheguei e perguntei ao enfermeiro de serviço como ele tinha passado a noite, recebi como resposta "Dormir não dormiu nada, passou a noite a andar de um lado para o outro".
Ele sai do quarto e vem ter comigo, a andar normalmente (pernas ligeiramente mais abertas do que o habitual, mas sem dores nenhumas), e com um sorriso enorme.
- Então, não dormiste?
- Não me digas nada, um dos velhotes ressonava como eu nunca tinha ouvido na minha vida. A sério, não deixou ninguém dormir. Eu perguntei se já podia andar, e fui para a sala ver televisão e dormir no sofá.
- Não tens sorte nenhuma. Já podemos ir embora?
- Vou só vestir-me.
- Despacha-te!!
- Não consigo ir mais depressa. !!

No hotel

Afinal não foi tão mau como eu pensava: 58€ com pequeno-almoço buffet incluído.
Às 10 da noite já tinha tomado um banho e estava enfiada na cama.
Demorei muito tempo a adormecer, e às 7 horas acordei sem despertador (havia de ser para trabalhar, havia...)
O pequeno-almoço era excelente, mas estava com tanta pressa para ir ter com ele, saber se tinha passado bem a noite; que nem aproveitei bem (agora estou a pensar nuns pastelinhos de feijão que estavam lá a rir-se para mim).

Um sítio para dormir

Não teve alta hoje, vai ter de passar a noite. Fico com ele o máximo de tempo possível. Se tivesse ficado num quarto sozinho, eu passava a noite ao lado dele (estive lá até às 9 e meia da noite e ninguém me mandou embora), mas com 5 velhotes à volta é complicado, têm direito à sua privacidade.
Assim fui à procura de um sítio para dormir. O segurança avisou-me logo "Aqui perto não há nada, a não ser o Sol Mélia (4 estrelas!!). O resto só no centro da cidade".
Atravessei o átrio de entrada e saí para a rua. Efectivamente via o edifício do hotel à minha esquerda, dava perfeitamente para ir a pé. Não me apetece pegar no carro e andar perdida nas ruas de uma cidade que não conheço. Para além disso está tão bem estacionado, mesmo à entrada do hospital, que é uma pena perder o lugar. Porra, não é por uma noite no raio do hotel que eu vou à falência.
Mas antes, comprar tabaco, que o que eu trouxe já acabou e o HUC leva o lema "Sem tabaco" muito a sério, nem na papelaria do àtrio se vende. Acho bem, sim senhor, eu é que tenho de me desenrascar.
O senhor das bombas de gasolina, assim que me vê chegar pergunta logo "Qual é o tabaco?"
- Como é que sabia que eu vinha comprar tabaco?
- Vem do lado do hospital, a pé, não vem pôr gasolina, só pode vir comprar tabaco. (Esperto!)

Magnífico jantar

- Oh senhora, isso é o meu jantar? pergunta ele quando a auxiliar entra com uma tigela de sopa (canja).
- Não, responde a senhora a rir ao ver a cara de pânico dele.
Suspirou de alívio. Pudera, está em jejum desde ontem à noite. Para um gajo que fica insuportável quando está com fome, ele está tão fraco que nem consegue refilar.
A senhora lá traz o tabuleiro dele. Tcharam!! Pescada cozida com batatas!! Pensei que ele ía pedir para trocar pela canja, pois pescada é das (poucas) coisas que ele não come, muito menos cozida.
Mas a fome é negra e a pescada marchou toda, sem tempero nem nada!! (Só quando já tinha devorado metade do prato é que reparou que tinha uma saqueta de azeite ao lado!).

Os companheiros de quarto (III)

- A minha filha tem 27 anos e namora com um puto de 21. O que é que acha disto? Uma desgraça, não é?
- Pois, não sei, eles é que sabem.
- Eu também não posso falar muito, porque só gosto de miúdas de 20 anos. (e a mulher ao lado a ouvir a conversa toda!!)
Isto é melhor que ver a novela.

Sorte ou...

Estou plantada à espera da hora da visita, a ouvir uns senhores na sala ao lado a queixarem-se que várias operações foram canceladas hoje, e que deve ter havido um acidente qualquer que ocupou os B.O. todos, e que têm de ficar para amanhã e que é uma chatice...
Ponho-me a pensar que tivémos muita sorte, cancelaram transplantes de rins, mas a operação dele não.
Mais uma vez, tudo acontece por uma razão...

Tudo acontece por uma razão

Acabei de comprovar isto, mais uma vez.
Como ele estava a começar a fechar os olhos, deixei-o ficar descansado e fui à rua fumar (mais) um cigarro. Quando voltei, a enfermeira avisou-me (com toda a educação e com um sorriso na cara) que agora não podia entrar porque estavam a tratar os doentes.
Sentei-me na "minha poltrona" no início do corredor, e passados minutos vejo entrar o Dr. House, que nos tem acompanhado desde que viémos para Coimbra. Ele reconhece-me e pergunta o que é que eu estou aqui a fazer. Respondi, e o Dr. toca de pegar no processo dele e ir vê-lo. Voltou, disse-me que ele estava impecável (sempre optimista e com uma palavra de ânimo), e explicou-me logo quando devia marcar a próxima consulta.
Ou seja, se eu tivesse entrado para o quarto, não tería visto o Dr. House e não tería recebido as instruções da próxima fase. Por isso, tudo acontece por uma razão...

Os companheiros de quarto (II)

Um velhote na cama ao lado pergunta à auxiliar que veio levantar o tabuleiro do almoço: "É a senhora que vai trazer o jantar, ou é a gorda? É que a gorda ontem não me deu a ceia, rais parta. Tá a precisar de levar com a muleta! Tem corpo para isso!!"

De volta

Ele já voltou. Está branco como a cal, mas quando a maca passa por mim sorri-me e faz-me um fixe como o dedo. Fico mais descansada.
O enfermeiro diz-me que posso entrar no quarto para vê-lo um bocadinho (as visitas são só às 3).
Ele recebe-me com um sorriso amarelo.
- Sabes quando o pessoal diz "Até vi estrelas"? Olha que é verdade, mesmo com a anestesia local, houve uma altura que comecei mesmo a ver estrelas brancas, com tanta dor.
Agora tem de estar 4 horas sem mexer a perna, e só daqui a 3 horas é que pode comer.

Nervoso miudinho

Tenho as pernas a tremer. Que estupidez, já estive a comer (esperei que ele fosse embora, tinha de estar em jejum e era chato eu estar a comer à frente dele), já fumei um cigarro (toca de descer os 7 andares pelas escadas para vir à rua) e não me sinto enervada nem ansiosa.
Porque é que as pernas não param de tremer?

Eu já venho

São 11 horas e o enfermeiro vem-nos dizer que o B.O. ainda não está disponível porque houve uma emergência. Vou à papelaria do àtrio comprar umas revistas para ele se entreter.
Volto a subir e quando saio do elevador vejo-o numa maca, à espera para descer para o B.O. Está na galhofa com o enfermeiro que o leva.
- Que revistas trouxeste?
- A Turbo e a Automotor, já não havia nem a Visão nem a Sábado, esgotaram todas.
- Heh, paciência...
- Paciência não - diz o enfermeiro - tem de lhe agradecer a gentileza, obrigado por cuidares de mim, essas coisas, para elas ficarem contentes.
Chega o elevador. Dou-lhe um beijo.
- Eu já venho, acho eu.
- Claro que vem, eu já o trago - diz o enfermeiro.

Se tu ficares, também fico

- Os velhotes perguntaram-me o que é que eu vinha fazer, e disseram que eu ía ficar internado 2 ou 3 dias.
- Não vais nada, a enfermeira disse-me que saías ao final do dia, por isso tu vens comigo para casa, hoje.
- Mas se tiver de ficar, tu vais e voltas amanhã.
- Não vou nada, se ficares também fico.
- Ficas onde?
- Onde me deixarem, se não puder ser aqui vou para o àtrio da entrada, tem lá uns sofás fixes.
- Se fosse ao contrário eu ía e voltava amanhã.
- Pois, acredito, mas eu não.

Os companheiros de quarto (I)

- Devias ver o quarto onde eu estou, estão lá quatro gajos que cuidado com eles.
- Novos ou velhos?
- O mais novo tem 64 anos. São todos da zona das Beiras, sai da frente!!
Assim que eu entrei disseram-me logo "Oh amigo, aqui é como na tropa, antiguidade é um posto!".

No hospital, outra vez...

Segunda-feira. Levantar às 5 e meia da manhã. Chiça.
Chegar ao hospital 45 minutos mais cedo, para só o chamarem às 9 e meia. O enfermeiro foi uma simpatia (aliás, como todo o pessoal que encontrámos até agora). Indicou-lhe o quarto e foi prepará-lo para a operação (prepará-lo quer dizer rapar-lhe os pêlos todos da virilha até meio da coxa!!).
"Pronto, agora é esperar" pensei eu, sentada num sofá porreiro no início do corredor. "Daqui ninguém me tira".
Passados 20 minutos vejo-o a vir pelo corredor, com um pijama de criança vestido. Juro que era um pijama de criança, dava-lhe pelos cotovelos, e as calças muito apertadas só chegavam abaixo dos joelhos!! Desmanchei-me a rir.
- Que raio de coisa é essa?
- Tu já viste a minha sorte?
O que vale é que ele está bem disposto, muito melhor que a semana passada. Também já sabe o que esperar, ele nunca tinha estado num hospital sem ser para visitar alguém, é claro que a primeira vez mete mais medo.
- Mas o que é que estás aqui a fazer?
- Então, o gajo disse que o B.O. ainda não estava pronto, e para eu vir para ao pé de ti. Ele depois chama-me.

- Ainda estamos a tempo de ir embora, eu vou às escondidas mudar de roupa e bazamos.
- Mudar de roupa não, vais assim que estás lindo!

domingo, 27 de janeiro de 2008

Birra

- Deixa de te armar em parvo!! - digo eu depois de ele fazer uma derrapagem numa curva, só porque lhe apeteceu.
- Está bem, vou deixar de me armar em parvo - responde ele com ar sério de "se é assim que queres, vais ver...". Desacelera e vai o resto do caminho a 70 à hora, impávido e sereno, com umas trombas de meio metro.
- São 2.43 hrs. Vais ficar de trombas até que horas?
- Até às 3.20.
- Ok.

É claro que passado 10 segundos eu me dei conta que tive uma reação exagerada. Passei o dia todo a parecer alegre e bem disposta, tivémos um almoço em casa da A. (o cozido à portugesa e as farófias estavam divinais!!), depois fomos visitar os avós dele, e eu sempre cheia de sorrisos, mas de vez em quando lembrava-me "É amanhã, passar por tudo outra vez...".
Porra, aguentei-me muito bem o dia todo, mas estou irritadiça, e à mínima merda (porque foi mesmo mínima, realmente...) saltou-me a tampa!! Nem foi bem saltou-me a tampa, porque eu nem gritei nem nada, só falei torto.
Mas se ele estivesse também calmo e na boa não tinha reagido daquela forma, táva-se a cagar para a minha resmunguice. Só que não está, está a ver a hora a aproximar-se, e já está a antever as dores. Acredito que é o que lhe deve moer mais o juízo, são as dores. Acho que os homens em geral não lidam bem com a dor, e não a suportam tão bem como nós.
Uns piegas, é o que eles são. E birrentos.

Não me apetece

"Queres ir beber um café logo à noite?" SMS recebido da Maluka, com o carro parado em frente ao meu prédio.
- Desculpa, não vai dar, vou enfiar-me no pijama.

- Porque é que não queres ir?
- Vai lá estar o pessoal todo, e ainda não me apetece falar sobre isto.
Na verdade, ainda não estou preparada para ver a cara deles, um misto de preocupação com o "coitados, é preciso ter azar".
Ainda não me apetece responder às perguntas, contar os pormenores, admitir que há um problema para o qual não temos solução. Nós, que sempre arranjámos solução para tudo.
Vou deixar a especulação continuar mais um bocado. Sim, porque esta noite o tema da conversa no bar somos nós, "o que lhes havia de acontecer" e outras merdices que tais.
Não quer dizer que alguns deles não se preocupem, mas não são todos. E os que se preocupam mesmo não estão lá, foram aqueles com quem almoçámos hoje, os dois casais que nos têm acompanhado desde o início, que sabem de tudo desde há 2 anos para cá. E uma amiga com quem só estive uma semana da minha vida, mas que trago no coração tal como eu estou no dela. E não estou a dizer isto porque ela lê o blog :) Aliás, é a única pessoa a quem disse que tinha o blog, porque sei que ela entende o que eu escrevo.
Nem a ele disse, mas como não é parvo nenhum e eu habitualmente escrevo em casa, de certeza que também vem cá espreitar. Mas andamos neste jogo do gato e do rato, a ver quem é que fala primeiro. Estive quase a ceder quando andei 2 dias para conseguir pôr música na página, mas tantas voltas dei que lá consegui.
Agora só tenho de descobrir como é que faço hiperligações de palavras-chave do texto para posts anteriores. Mas não é hoje, de certeza absoluta.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Era só uma ideia

- A que horas temos de estar em Coimbra na segunda feira? - pergunta ele, ainda em estado de "isto não me está a acontecer"
- Às 8 da manhã.
- Temos de sair daqui às 6 e meia.
- Eu ainda tinha pensado em irmos no domingo à noite, ficávamos por lá numa residencial qualquer, e tínhamos uma noite de sexo espectacular antes da tua operação. Mas não me parece.
- Não gozes com quem é pequenino!!

A verdade

Já dei por mim a perguntar-me algumas vezes porque é que continuo a amar a mesma pessoa passados 14 anos, o que é que ele tem de tão especial, o que é que nós temos de tão especial.
Da paixão tresloucada do início do namoro, à cumplicidade e carinho e verdadeiro amor que só se consegue depois, o que é que nos faz continuar?
Depois descobri esta senhora, que escreveu aquilo que eu não consegui definir por palavras.

India Arie
"The Truth"

Mais calmo

- Já estás mais calmo?
- Estou conformado, o que é que eu hei-de fazer?
- Olha, a enfermeira já me ligou outra vez, foi confirmar com o doctor e disse-me para ficar descansada, não vão mexer na zona que já foi operada, vão tratar a veia do lado contrário, não vai doer, fica descansado.
- Pois, da outra vez também me disseram isso...
- Não vai doer tanto como da outra vez.
- Ahh, agora já não vai doer TANTO!!

Para ser sincera fiquei surpreendida por ser tão rápido, estivémos lá ontem para marcar, e disseram que tinham de encomendar um produto para esta intervenção, e quando o tivessem chamavam. Claro que pensei "OK, daqui a 1 mês começo a telefonar para cá todos os dias para não se esquecerem de nós". E afinal...
Eu até estou satisfeita e aliviada por ser assim, o pior em todo este processo tem sido os tempos de espera: 2 meses para uma consulta, mais 1 mês à espera dos resultados das análises, mais 2 meses à espera da biópisia... e eu a ver o tempo a passar, estou quase com 30 anos, e sem querer dar razão à minha mãe, preocupa-me o facto de estar a perder anos de potencial fertilidade.
Por isso vejo isto como uma benção, uma coisa boa no meio de uma semana de merda.
Ele é que não está tão contente, e eu compreendo, só ele pode saber as dores que sentiu, e "gato escaldado de água fria tem medo". Eu acredito que esta operação não é tão dolorosa, mas claro que lhe vai doer, nem que seja ao injectarem a anestesia. E ele já está a sofrer por antecipação.
Quando lhe telefonei de manhã fiquei com medo que ele me dissesse que não, para eu marcar para outra data. Pode ser um bocado de egoísmo meu, sabendo que ele ainda não se recuperou de uma e já vai ser arrastado para outra. Mas quero tanto avançar, fazer alguma coisa, qualquer coisa que nos faça sair deste impasse. Se fosse ao contrário, se fosse eu a ter de ser operada 2 vezes na mesma semana, não hesitava.
Ainda bem que já é fim-de-semana, e este é preenchido: os anos do besnico amanhã à tarde, cozido à portuguesa em casa da A. no domingo... pelo menos dá para ele se distrair, não ficar em casa a remoer as dores que vai ter.

Logo de manhã

- Bom dia, tás melhor? Já tás a trabalhar?
- Já, sinto-me bem.
- Tás sentado?
- Porra, não estou inválido!!
- Não é isso, se não estás sentado, senta-te.
- Porquê?
- Ligaram agora do hospital, já marcaram a outra intervenção.
- Para quando?
- Segunda feira. Esta segunda feira
- Porra, não aguento outra merda destas tão cedo!! Disseste-lhes que me andaram a cortar os tomates na segunda feira passada, que ainda tenho dores?
- Disse, mas a senhora diz que não tem nada a ver, não vão mexer nos testículos, só vão pôr um cateter na veia para fazer o tratamento (pelo que percebi, a ideia não é desobstruir a veia, como eu pensava, mas sim tapá-la completamente. Eles lá sabem.)
- Não sei se consigo, depois falamos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A esperança...

... é a última a morrer... é um cliché tão grande como piroso, mas tenho de me agarrar a alguma coisa.
Depois de sair da consulta com o Dr. House, em que ele nos explicou os próximos passos a tomar (que incluem uma análise completa ao cromossoma y e uma operação para queimar a veia obstruída no testículo esquerdo), acendeu-se uma réstia de esperança.
É muito pequena (ele foi sincero connosco, e disse logo que as probabilidades de sucesso são muito baixas, e só depois de 4 ou 5 meses da operação é que saberemos se resultou), mas é o suficiente para não desistir, não chorar (tanto), não dizer já aos meus pais.
Acho que é das coisas que me vai custar mais a fazer, ter de dizer aos meus pais que não posso ter filhos. Eu que sempre fui a filha pródiga e perfeita, a primeira na família a tirar um curso superior, a menina dos olhos do papá, nunca dei chatices nem me meti em problemas. Pois, ninguém é perfeito, e eu tinha de arranjar algum 31!!
Agora consigo estar a tratar isto com alguma leveza, ainda devo estar na fase de negação, ainda não me convenci que pode mesmo ser definitivo.
Mas por enquanto vai ser assim, vamos assumir perante toda a gente que não estamos a conseguir, que aguardamos a operação. Por um lado é um alívio, foram 2 anos a esconder, a sorrir quando vinha a pergunta da praxe "Então e vocês, quando se decidem a ter um bebé?". Chegavam a perguntar a ele "Então, não consegues? É preciso dizer-te como se faz?". Claro que não era de propósito, são as piadas normais de gajos, mas nem faziam ideia da mágoa que provocavam com esses comentários. E eu cheia de vontade de gritar-lhes "Calem-se, não vêem que isso magoa? Alguma vez vos passou pela cabeça que não temos filhos, não é por não querermos, é porque não conseguimos?!"
E a minha mãe, de há 3 ou 4 anos para cá, sempre a perguntar quando vai ter um netinho. Só lhe consigo responder "Não stresses, é quando menos esperares." E ela continua à espera, mas vai insistindo, agora com mais um argumento "Olha que vais fazer 30 anos, e eu li que a partir dessa idade a fertilidade das mulheres baixa muito". Obrigadinho.
Mas a ela ainda não posso dizer nada, ela não ía conseguir encaixar a informação.

Acho que ainda tenho alguma esperança para estourar, por isso vou guardá-la num sítio fresco e seco, para ver se não se estraga.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

La Rosa Negra

O porquê do meu nic.

"Dirty Dancing - Havana Nights"

Teve de ser

- Vou cortar o cabelo
- Muito?
- Pelo pescoço (cerca de 25 cm)
- Não vais nada!! (até engoliu em seco)
- Vou, vou !! Tem de ser.
- Ai, que me está a dar aqui uma dor!!

E fui, e cortei.
Eu sei que ele adorava o meu cabelo comprido, mas teve de ser, tinha de fazer alguma coisa.
Se não pudemos mudar a vida, pelo menos mudamos as outras coisas.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

De uma grande amiga (II)

pois é...
estás desolada...
mas como dizes e bem... "A história pode continuar"...
ou melhor tem k continuar!!!
porque a esperança e a coragem ainda não acabaram!!!

A vida é uma pedra de amolar: desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal de que somos feitos.
(George Bernard Shaw)

e tu és uma mulher fantástica...
lutadora...
cheia de amor dentro de ti apesar desta tristeza!!!
por isso chora, chora até não teres mais vontade!!!
e depois com as baterias novamente carregadas dêem as mãos e continuem a caminhar!!!
porque o mais importante pra enfrentar um problema é teres com kem o partilhar!!!
e vocês estão juntos nessa batalha!!!
estão juntos na vida!!!
e vão conseguir superar mais este obstáculo!!!

claro ke podem contar comigo, ou seja connosco...
sei ke é pouco...
mas é o k vos posso oferecer!!!
antes de responder também tive k chorar...
fiquei muito comovida ao ler os teus comentários...
mas fiquei muito feliz por conhecer uma pessoa como tu!!!

força amiga
bjo grd

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Continuar

"A história pode continuar.
A nossa história pode continuar.
Eu vou simplesmente continuar."
In: Atonement

"Elegy for Dunkirk"
Atonement OST



Ainda não sei como, mas tenho de continuar.
Ainda não estou preparada para dizer a toda a gente "Nós não podemos ter filhos". Ainda não consigo pensá-lo sem chorar, quanto mais dizê-lo.
Mas continuo a acreditar que tudo acontece por uma razão. Ainda não sei qual a razão para isto nos estar a acontecer, mas um dia vou descobrir.
Tem de haver uma filha da puta de uma razão muito forte para isto.

E agora?

- Estás preparada para isto?
- Para isto, o quê? Para dizer a toda a gente que não podemos ter filhos?
- Para o facto de eu não te poder dar um filho?
- Mas ainda não percebeste que eu não penso assim, tu é que pensas? Para mim nós dois não podemos ter filhos, é só isso. Não é culpa tua. Essa merda irrita-me.

No hospital

Estou sentada na sala ao lado do bloco operatório. A luz está acesa e ouve-se música.
Ele está com um fato verde e com uma agulha de soro no braço. Está a fazer um esforço enorme para não chorar.
Entram 4 enfermeiras e colocam as máscaras. A seguir entra o Dr. House e diz que hoje traz ajuda (nice!). Vem outro médico atrás dele, não deve ter mais de 30 anos. 6 pessoas para espetar uma agulha. Não é normal.
A porta fecha-se. Ouço o Dr. House a falar, mas não percebo o que ele diz. Distingo uma enfermeira a dizer "Está nervoso".
Consigo ouvi-lo a perguntar "Posso ir trabalhar amanhã?", mas não percebo a resposta.
O Dr. House é porreiro, está a puxar por ele, mantém-no a falar.
Eu estou a começar a sentir-me fraca, não como nada desde as 10 da manhã (são 2 e meia da tarde). Estou a ver se me aguento, se não tenho nenhuma quebra de tensão. Era o que me faltava, desmaiar agora aqui.

Agora é esperar. Esperar por uma resposta que vai mudar o rumo da minha vida. Uma resposta que não está nas minhas mãos.
Uma coisa é quando temos de tomar uma decisão que pode mudar a nossa vida: mudar de emprego, por exemplo. Outra coisa é quando a decisão não é nossa, nos é imposta, não podemos contestá-la, não podemos fazer nada para alterá-la.
É que nem sequer se deve a más decisões anteriores, nem a circunstâncias que podemos identificar como causa "foi por culpa disto...". Não posso culpar nada nem ninguém.
Já estou a partir do princípio que vai correr mal, mas não devia, não é isso que eu quero.
Pensamento positivo, vai correr bem, vai correr bem, vai correr bem...

Senhor, pega-me ao colo agora, que a pegadas na areia sejam as tuas, porque agora preciso de ti. Pega-me ao colo, por favor.

Continuo a ouvir a voz dele, está calmo. Para quem tem pavor de médicos e hospitais e agulhas, está-se a aguentar muito bem. Só não consigo perceber o que dizem.
Só passaram 10 minutos, mas parece que estou aqui há uma hora.
Agora calaram-se, não ouço nada. Não sei se isso é bom ou mau.

O pessoal aqui é todo simpático, nem parece que estamos num hospital público. Desde a administrativa da secretaria, passando pelas auxiliares e enfermeiras, até o próprio médico, são prestáveis, sorridentes e atenciosos.
Quando ele entrou para o B.O., as lágrimas vieram-me aos olhos, fiz uma força imensa para me conter, não queria que ele me visse a chorar, e uma auxiliar que estava ao meu lado deu-me logo uma palavra de ânimo "Não fique assim, tem de lhe mostra força. Venha cá, sente-se aqui". Foi tão querida.

Ouvi o Dr. House a dizer "Tenho de dar mais um cortezinho...". É mau sinal. Se estão a cortar é porque tiveram de fazer a biópsia, é porque não saiu nada na agulha. Merda.
Estou a ouvir a voz dele outra vez. Agora já não está tão firme e calma.
"O testículo direito não tem nada..." Não consigo ouvir o resto. "Não é o ideal..." Tá tudo fodido, as notícias não são boas, quase de certeza.
Isto não me está a acontecer!! Eu não mereço isto!! Foda-se!!

Uma enfermeira saiu e diz-me "Já acabou".
Ser forte, tenho de ser forte.
Ele está a gemer, está com dores. Agora é a parte complicada. Não sei o que é pior, a dor física ou a dor da alma, se o resultado é o que eu estou a pensar.
Dá-me a sensação que o Dr. está a dár-lhe instruções, parece que há alguma esperança. Será que ainda há esperança?

O Dr. House saiu, e a cara de desalento dele não engana. "Não encontrámos nada no testículo direito, e fizémos várias biópsias. Antes de tentarmos o esquerdo vou propor a cirurgia para tratar o varicocelo. Mas hoje não é bom dia para falar, venham cá 5ª feira".

Só consegui chegar á cadeira, e chorar baixinho, sem fazer barulho.
Ele deve estar a sair, tenho de me recompor.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Só quero que sejas GRANDE

Tenho uma tampa de iogurte colada no placard da cozinha, há 2 anos, que diz o seguinte:
"Quando cresceres... só quero que sejas GRANDE".
Está lá desde que decidimos que queríamos ter um filho.
Continua lá.
E nós continuamos sem um filho.

- A A. foi saber quanto lhe custava pôr 4 implantes dentários. Pediram-lhe 4.200 euros "preço por alto".
Quando tivermos um filho ele vai ser dentista, tem a vida feita.
- Quando tivermos um filho só quero que ele seja grande - diz ele a olhar para a tampa no placard, os olhos a encherem-se de lágrimas.
- Não faças isso, se tu choras eu choro.
- E depois parecemos dois tontinhos.
- Pois parecemos.

Nunca mais é segunda feira.

Não preciso de um GPS

- O GPS (emprestado de um colega dele, só para experimentar) é fixe.
- Agora há uns mais pequenos, todos maneirinhos. Esses é que eram fixes para ti - diz ele.
- Porquê, é para eu não me perder quando ando a pé?

Um dia excelente !!

Trabalhar sexta de manhã (só para não perder o ritmo)
Tirar a tarde para ir aos saldos, enquanto ele vai a uma entrevista de emprego
Na A1 passar por dois atrelados cheios de Seats Leon e planear assaltar um deles
Música a bombar dentro do carro o caminho todo (só destoava a gravata dele!)
Comprar três vestidos na Zara (coisas de gaja!!)
Passear com ele na Baixa, mas passear mesmo; de mão dada, a ver a neblina do rio a invadir as ruas, a conversar sobre tudo e sobre nada, a ver as pessoas a passar apressadas, e a pensarmos que não temos pressa nenhuma
Na Fnac do Chiado, continuar a perder-nos, mas desta vez no meio dos livros; pegar em dois ou três livros de decoração e sentar na sala de leitura a folheá-los, a ganhar inspiração para uma casa que um dia será a minha (nossa), com um alpendre a toda a volta e um jardim.
Jantar Tri de Pasta ao Valentino, com o B. e a M.
Acabar a noite a beber chá no Pavilhão Chinês (sim, não é como os outros que foram para lá beber margueritas e caipirinhas!!)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Maravilhosa

Gianna Nannini
"Meravigliosa Creatura"

De uma grande amiga...

(...) e estou toda babada (com a filha dela)!!!
lol é uma emoção...
é mesmo muita felicidade!!!
por pequenas coisas mas que foram tão esperadas e desejadas que nem todos conseguem perceber!!!

mas tu sabes bem do que falo!!!
e eu sei bem também o que sentes!!!
não me saiem do pensamento, acredita!!!
mas o tal cruzamento como disseste e bem já está tão pertinho que agora é mesmo só aguardar!!!

e claro que deus há-de colocar-vos na direcção certa!!!
e depois não sabemos se a estrada é curta ou longa para atingirem o objectivo,
mas todos acreditamos que ele será alcançado!!!

tem que ser!!!!

não pode haver outra solução pra este problema...
não podemos acreditar nisso, nunca!!!
não queremos!!!
não podemos!!!
ok???

por isso nada de desanimar agora!!!
agora é só energia positiva!!!
nada de medos...
pra frente é k é o caminho!!!!

recebe um beijão muito grande,
muita energia positiva,
muita esperança e
muita confiança

gosto muito de ambos e desejo intensamente k esse desejo tão merecido se concretize o mais rápido possivel.

A espera...

Os nervos já começam a apertar.
Estamos a ver a hora a chegar, e sabemos que é a hora da verdade.
Na segunda feira a nossa vida chega a um cruzamento, e o destino vai decidir para que lado vamos.
Neste momento é mesmo assim, não podemos fazer mais nada, a não ser esperar.
E esperar custa tanto!!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Ouvir e sentir

Delta Goodrem
"Last Night on Earth"
Live Visualise Tour

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Na alegria e na tristeza...

...até que a morte nos separe.
Não sei se acredito nisto, pelo menos na parte da morte.
A vida dá tantas voltas.
Mas acredito no amor. Acredito no amor que tenho por ele.
E não consigo imaginar a minha vida sem ele.
A primeira vez que lhe disse isto estava perdida de bêbeda à porta de uma discoteca. Há 10 anos atrás.
Hoje continuo a dizer-lho, nem sempre por palavras.
Não me custa nada dizer "Amo-te", porque é verdade.
Digo-o, não à toa, só para fazer o jeito; mas consciente do que isso quer dizer, e consciente que é mesmo isso que eu quero dizer.
Namoramos há 14 anos, vivemos juntos há 6.
Com todas as alegrias e tristezas, com todos os altos e baixos, enquanto este amor existir...

Trovoada calma

- Hoje fui a casa de uma cliente que se chamava não sei quantos Trovoada. Mas pareceu-me ser muito calminha.

Amor é...

Ele enviou-me este filme.
Foi realizado por um grupo para um trabalho sobre "Expressividade".
Música dos Donna Maria.
Palavras para quê...


Deficiências

'Deficiente' é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
'Louco' é quem não procura ser feliz com o que possui.
'Cego' é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
'Surdo' é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
'Mudo' é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
'Paralítico' é quem não consegue andar na direcção daqueles que precisam de sua ajuda.
'Diabético' é quem não consegue ser doce.
'Anão' é quem não sabe deixar o amor crescer.

Mário Quintana

O porco Crustáceo

- Temos de dar um nome aos porcos (temos 2 porquinhos da Índia, há 5 anos, e ainda não têm nome).
- Tá bem. O de pêlo eriçado é o Tobias, e o malhado é o Crustáceo.
- Crustáceo?!?! Isso não é nome!!!
- Claro que é nome, se podes chamar Crustáceo a alguém é porque é nome !!
- Mas NINGUÉM chama Crustáceo a alguém !!!!
- Porquê?
- Porque NÃO É NOME!!

(Acabei por desistir, fica mesmo Crustáceo).

Boas abertas ?!?

- Hoje ouvi o senhor da metereologia a dizer uma coisa que me deixou preocupado.
- O que foi?
- Previsão de boas abertas. "Boas abertas" ?!?! Então?!?!
O que é que ele quer dizer com "boas abertas"?
Será que já alguém pensou nisso?

Ora abóbora!!

- Agora é que eu percebi porque é que chamam "cabeça de abóbora" !!
(diz ele, a olhar para uma abóbora aberta ao meio em cima da bancada, á espera para ser transformada em sopa).
PORQUE É OCA!!!!

O meu signo

Sou PEIXES:
A Sonhadora generosa.
Bom coração e pensativa.
Muito criativa e imaginativa.
Pode ficar reservada e vaga.
Sensível.
Adora detalhes.
Sonhadora e irreal.
Simpática e amorosa.
Desinteressada.
Bom beijadora.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Eu e a comida

A verdade é que não gosto de cozinhar.
Até me desenrasco bem (hoje o almoço foi arroz de pato, e ficou excelente!!) mas não gosto de ter de o fazer todos os dias, por obrigação.
Se calhar porque também não tenho nenhum prazer especial em comer. Como porque é necessário para sobreviver, não sou uma gourmet, não tenho um olfacto apurado, e se calhar por isso é que não gosto de cozinhar.
Ele é completamente o oposto, adora o acto de comer, não no sentido "enfarta-brutos", mas sim de apreciar verdadeiramente a refeição, combinar o queijo com o vinho, essas mariquices todas.
Cozinhar é que tá quieto!! Arroz com salsichas e só em dias de festa!!
Foi ele que me ensinou a apreciar vinhos, principalmente tintos. Agora já sou uma crítica, e quando vamos a um restaurante sei escolher um bom vinho, o que dá imenso estilo.

A culpa é da minha mãe

- Sabes, eu não tenho fome.
- Dizes sempre isso, mas depois comes.
- Como porque tu tiveste o trabalho de fazer. Eu ficava bem, comia por aí alguma coisa e bebia uma super bock.
- Eu sei, e eu também ficava bem. Isto é uma estupidez, mas eu sinto-me culpada se não fizer o almoço.
- Porquê? Achas que eu vou morrer à fome?
- Não, mas acho que não estou a tratar bem de ti.
- A culpada é da tua mãe, que te deu má educação!

Conversas ao jantar (I)

- Queres ir morar para Oliveira do Hospital?
- Não, fica muito longe dos meus pais. E o que é que tu ías fazer para lá? Abrias uma loja de informática e arranjavas computadores sozinho?
- Não, ía fazer um estudo para o National Geographic sobre o verdadeiro homem português, passava o dia na associação a beber super bocks com o Mau, e á noite escrevia sobre isso !!
- Pois, não duvido...

O início

- Já pensei em criar um blog, mas não sei que nome lhe dava.
- Por cima de mim abaixo !!!
- Mas que raio de nome é esse?!?!
- Sei lá, lembrei-me agora. Para poderes falar de ti de alto a baixo. Depois o teu blog dava um programa de rádio!
- Mas eu não queria um blog para dar um programa de rádio, só queria registar as coisas que me vão acontecendo.
- Então faz isso!
- Vou pensar.