segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

No hospital

Estou sentada na sala ao lado do bloco operatório. A luz está acesa e ouve-se música.
Ele está com um fato verde e com uma agulha de soro no braço. Está a fazer um esforço enorme para não chorar.
Entram 4 enfermeiras e colocam as máscaras. A seguir entra o Dr. House e diz que hoje traz ajuda (nice!). Vem outro médico atrás dele, não deve ter mais de 30 anos. 6 pessoas para espetar uma agulha. Não é normal.
A porta fecha-se. Ouço o Dr. House a falar, mas não percebo o que ele diz. Distingo uma enfermeira a dizer "Está nervoso".
Consigo ouvi-lo a perguntar "Posso ir trabalhar amanhã?", mas não percebo a resposta.
O Dr. House é porreiro, está a puxar por ele, mantém-no a falar.
Eu estou a começar a sentir-me fraca, não como nada desde as 10 da manhã (são 2 e meia da tarde). Estou a ver se me aguento, se não tenho nenhuma quebra de tensão. Era o que me faltava, desmaiar agora aqui.

Agora é esperar. Esperar por uma resposta que vai mudar o rumo da minha vida. Uma resposta que não está nas minhas mãos.
Uma coisa é quando temos de tomar uma decisão que pode mudar a nossa vida: mudar de emprego, por exemplo. Outra coisa é quando a decisão não é nossa, nos é imposta, não podemos contestá-la, não podemos fazer nada para alterá-la.
É que nem sequer se deve a más decisões anteriores, nem a circunstâncias que podemos identificar como causa "foi por culpa disto...". Não posso culpar nada nem ninguém.
Já estou a partir do princípio que vai correr mal, mas não devia, não é isso que eu quero.
Pensamento positivo, vai correr bem, vai correr bem, vai correr bem...

Senhor, pega-me ao colo agora, que a pegadas na areia sejam as tuas, porque agora preciso de ti. Pega-me ao colo, por favor.

Continuo a ouvir a voz dele, está calmo. Para quem tem pavor de médicos e hospitais e agulhas, está-se a aguentar muito bem. Só não consigo perceber o que dizem.
Só passaram 10 minutos, mas parece que estou aqui há uma hora.
Agora calaram-se, não ouço nada. Não sei se isso é bom ou mau.

O pessoal aqui é todo simpático, nem parece que estamos num hospital público. Desde a administrativa da secretaria, passando pelas auxiliares e enfermeiras, até o próprio médico, são prestáveis, sorridentes e atenciosos.
Quando ele entrou para o B.O., as lágrimas vieram-me aos olhos, fiz uma força imensa para me conter, não queria que ele me visse a chorar, e uma auxiliar que estava ao meu lado deu-me logo uma palavra de ânimo "Não fique assim, tem de lhe mostra força. Venha cá, sente-se aqui". Foi tão querida.

Ouvi o Dr. House a dizer "Tenho de dar mais um cortezinho...". É mau sinal. Se estão a cortar é porque tiveram de fazer a biópsia, é porque não saiu nada na agulha. Merda.
Estou a ouvir a voz dele outra vez. Agora já não está tão firme e calma.
"O testículo direito não tem nada..." Não consigo ouvir o resto. "Não é o ideal..." Tá tudo fodido, as notícias não são boas, quase de certeza.
Isto não me está a acontecer!! Eu não mereço isto!! Foda-se!!

Uma enfermeira saiu e diz-me "Já acabou".
Ser forte, tenho de ser forte.
Ele está a gemer, está com dores. Agora é a parte complicada. Não sei o que é pior, a dor física ou a dor da alma, se o resultado é o que eu estou a pensar.
Dá-me a sensação que o Dr. está a dár-lhe instruções, parece que há alguma esperança. Será que ainda há esperança?

O Dr. House saiu, e a cara de desalento dele não engana. "Não encontrámos nada no testículo direito, e fizémos várias biópsias. Antes de tentarmos o esquerdo vou propor a cirurgia para tratar o varicocelo. Mas hoje não é bom dia para falar, venham cá 5ª feira".

Só consegui chegar á cadeira, e chorar baixinho, sem fazer barulho.
Ele deve estar a sair, tenho de me recompor.

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