quarta-feira, 25 de março de 2020

"Éramos felizes e não sabíamos"...

Há uma vida atrás...



"Era Uma Vez"
(versão Giulia)

domingo, 22 de março de 2020

9 dias

Depois de uma semana tão intensa, de uma mudança drástica dos hábitos que conhecia, de dias inteiros a gerir emoções e birras, de vários ralhetes e muito colo, de alguma ansiedade e pouco café de jeito... Peter Pan está com o pai, e o silêncio da casa oscila nesta sensação entre o alívio da paz e o peso da opressão.

Não desanimar



Matt Simons
"Open Up"

sexta-feira, 20 de março de 2020

7 dias

Há um mês atrás estava a regressar da Alemanha, de uma feira internacional de cinco dias lotada de gente, cujo único cuidado ainda era unicamente não dar apertos de mãos; de andar diariamente de metro com dezenas de pessoas a respirar o mesmo ar nas carruagens; de passear pela cidade de Nuremberga no meio de turistas e locais. Há um mês atrás, já se ouvia falar de Coronavirus, mas estava longe de imaginar a escalada dos acontecimentos. E se calhar foi isso que me salvou. Isso ou os dois anjos da guarda que velam por mim. Porque regressei e abracei o P. como sempre fiz. Porque posso ser um dos casos assintomáticos e nem saber. Porque podia ter corrido tão mal para mim ou para ele que nem quero imaginar essa hipótese.
Há duas semanas atrás, quando começámos a perceber a real gravidade do que aí vinha, e começámos sem alarmismos a planear o que fazer em caso de encerramento das escolas, acredito que ninguém tinha a real noção do que é estar confinado em casa, seja sozinho ou com filhos. Tudo aquilo que sempre demos como garantido foi posto em causa. Sair à rua para beber um café. Ir jogar à bola ao parque. Abraçar a nossa família.
Há sete dias começou o meu regime de isolamento voluntário, sozinha com o P. Tem sido um desafio diário, com muitos altos e baixos, mas sem dramas e com imensa gratidão. Porque ao contrário de tantas outras pessoas que estão sem trabalho ou estão com medo de o perder, eu tenho ainda mais trabalho, com um aumento de encomendas desproporcionado que pagaremos mais tarde, mas nos permite respirar sabendo que a empresa se vai aguentar. Porque ao contrário do meu irmão que continua a fazer distribuição de produtos alimentares; da minha cunhada que anda a conduzir um autocarro de passageiros por Lisboa; da minha P. que não pode abandonar o posto; da P. que está de quarentena por ter tido contacto com um infectado (mas até agora está bem) ou da V. que trabalha num hipermercado, eu posso fazer o meu trabalho em casa, eu posso estar protegida a tomar conta do meu filho. Eles não. Porque estes dias de recolhimento têm sido um estreitar de laços ainda mais profundo com o meu filho. E sou imensamente grata por isso.
Planeei desde o início como seríam os nossos dias de semana, numa ânsia de controlar tudo e fazer tudo. Montei o nosso escritório na mesa da sala, um em frente ao outro, imensa luz natural e todos os materiais necessários à mão. Como o P. acorda sempre por volta das 8 horas, é fácil estarmos prontos às 9 para começar a trabalhar. Banhos, vestir roupa de gente e tomar o pequeno-almoço sem pressas. Estipulei que as quatro horas da manhã seríam para fazer trabalhos da escola, que a professora envia todos os dias por email, ou que eu vou dando para ele fazer, com um intervalo a meio da manhã. A tarde é livre para ele fazer o que quiser, sabendo que a mãe tem de trabalhar até às 6.
Imaginava um cenário idílico dos dois a trabalhar em silêncio na mesa da sala. Mas o P. ainda não consegue estudar sozinho, distrai-se com tudo, não quer fazer os trabalhos e faz birra. Tive de mudar de estratégia, e passar a sentar-me ao lado dele, ajudá-lo e fiscalizá-lo tipo polícia. Percebi as queixas das pessoas que dizem que não conseguem trabalhar com os filhos em casa, mas não me queixo, porque mudei as minhas prioridades. A prioridade é ele. O que vou conseguindo trabalhar pelo meio, faço. O resto, guardo para a tarde, ou para a noite depois de ele ir dormir. Todas as ideias sonhadoras que tinha sobre as limpezas que iría fazer em casa nestes dias, com mais tempo livre, esfumaram-se ao terceiro dia, depois de ter lavado todos os casacos existentes nos armários. Ainda não vi um filme completo, consegui acabar um livro a muito custo, e termino o dia mais cansada do que se tivesse ido para o escritório.
O almoço foi uma descoberta deliciosa e tem sido a melhor parte dos meus dias. Decidi que os almoços seríam na cozinha, sem televisão, ao contrário dos nossos jantares no sofá da sala, e aquela hora só os dois, sem barulho porque o P. nem quer o rádio ligado, servem unicamente para uma coisa: ouvir o meu filho. Ele fala e fala e fala como um papagaio, conta tudo, inventa histórias, dá bitaites sobre tudo... e eu fico quieta só a contemplá-lo e a respirar fundo.
As tardes são passadas ao computador enquanto ele se vai entretendo ou aborrecendo, porque também não gosta de brincar sozinho, e a partir das 5 da tarde começa a perguntar de forma espaçada que horas são, para saber quando é que eu acabo o trabalho. Às 6 horas pergunta se eu posso ir brincar com ele, com uma ânsia na voz que me esmaga. Olho para ele e vejo a necessidade de ter com quem brincar, a falta que lhe faz o irmão que não lhe dei. E por mais que me apetecesse ir aterrar no sofá, digo-lhe que sim, vou brincar com ele, e então fazemos lutas de almofadas, ou jogamos matraquilhos e snooker, ou jogamos às escondidas dentro dos armários, ou escondo objetos pela casa e jogamos ao quente e frio. E pelo meio pego nele ao colo e dou-lhe beijos e abraços sem conta, e ele diz "Mãe, agora não podes dar beijos!!", e eu dou na mesma, estamos fechados na nossa fortaleza por alguma razão, e que essa razão seja eu poder continuar a dar-lhe beijos sem parar.

quarta-feira, 18 de março de 2020

Desanuviar



Carlão
"Assobia Para O Lado"