domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Quando um coração se despedaça não faz barulho. Não se verificam quaisquer sinais exteriores, não há feridas nem nódoas negras. Sente-se apenas uma estranha calma que se apodera de tudo quando não existem mais lágrimas para derramar e quando não há mais voz para bradar o nosso desgosto no silêncio; e depois vem uma resignação que entorpece os nossos sentidos como uma droga, pois se assim não fosse, de que outra maneira seríamos capazes de continuar a viver? As pessoas sobrevivem, apesar de si mesmas."

In: The Forget-Me-Not Sonata

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Um dia...

... voltaremos a encontrar-nos, pai.

Melissa Venema e Andre Rieu
Il Silenzio

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Estranhar

"O mar está bravo". Foi a forma mais soft que o meu irmão encontrou de dizer que o meu pai não se safa desta. E eu recebo os telefonemas da C., cada um pior que o anterior "o teu pai vai ser entubado", "o teu pai está em coma induzido" e não sinto nada, nem dor, nem mágoa, nem revolta, estou num torpor que assusta toda a gente à minha volta, parece que estou anestesiada, e não me reconheço nesta calma gélida e insensível, talvez tenha desistido de tentar controlar o incontrolável, o que não está nas minhas mãos, as minhas lágrimas não resolvem nada, as dores de estômago também não, possivelmente vou pagar isto tudo daqui a umas semanas, quando me começarem a cair tufos de cabelos uns atrás dos outros, mas para já vivo esta estranha forma de espera, sem drama e com a profunda crença que Alguém lá em cima vai tomar a decisão certa, escolher o que fôr melhor não para mim, mas para o meu pai.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

No dia em que fiz 32 anos...

... troquei o jantar no Casino do Estor.il pela visão do meu pai ligado a máquinas e oxigénio.
... troquei o serão de fados e guitarras portuguesas por um rodízio brasileiro e sangria à 10 da noite. Com a minha família. Aqueles que me amam incondicionalmente. Os que não perguntam se eu quero que eles venham, porque vêm logo, largam tudo e vêm.

Soltar o fel...

... devagarinho para não magoar muito...
Hoje gostava que me tivessem feito uma surpresa. E não precisava de ser nada disto (se bem que não dizia que não...).

Também já não falo em algo assim, porque era bom demais, alguém dar-se ao trabalho de me fazer uma festa-surpresa...

Tenho a lucidez suficiente para perceber que as pessoas da minha vida não são dadas a devaneios criativos, isso dá trabalho e chatice, e para isso já basta o emprego. Os gestos espontâneos e apaixonados perderam-se algures entre o secundário e a faculdade, gostava de reencontrá-los, um dia, ficava feliz com um dia de suspiros e borboletas na barriga e lágrimas de alegria (já não me lembro quando foi a última vez que chorei de alegria).
Bastava aparecer com uma flor na mão e um sorriso sincero. Para eu continuar a acreditar que ainda tenho a capacidade de me surpreender (ou que o(s) outro(s) ainda têm a capacidade de me surpreender).
Nem a presença da R. preenche este vazio de me sentir sozinha no meio de 2000 pessoas que percorrem estes stands (a R. é uma querida mas não considero uma amiga, não me conhece, não sabe o que eu sinto e penso - porque eu não deixo, também é verdade - só sabe como eu trabalho, a R. que está a tentar engravidar - eu ía dizer "como eu", mas não é verdade, nem vale a pena falar nisso hoje, para não estragar mais).

Acreditar (II)

Visto aqui.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Esperar

Depois de passar o dia no hospital (nós parecemos uma família de ciganos, onde só podia estar um acompanhante com o doente, nós éramos seis de volta da maca do meu pai; o facto de o puto mais novo e as minhas duas cunhadas serem bombeiros tem destas vantagens), a minha vontade era cair em cima da cama e apagar, mas senti-me na obrigação de participar no jantar organizado no Campo Pequ.eno, uma Lounge Party para descontrair (uau...).
Muitas luzes psicadélicas, muitos flashs, meninas a dançar em cima das mesas, vinhos maus, comida intragável.
Mais valia ter ficado a dormir.

This too shall pass

O meu pai teve um AVC.
Eu não vou voltar a dizer que este ano está a ser uma merda cagada. Isto está a trazer-me más energias (só pode ser isso, quero acreditar que sim).

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Isto só comigo!!

E esta noite (e as próximas duas)...

... vão ser passadas aqui.

Os próximos três dias...

... vão ser passados aqui (again).

Pormenores (X)

... da cidade que será sempre a minha...

Passear

Eu sempre disse que gostava de ver Lisboa com olhos de turista, mas desta vez abusei: meti-me numa excursão para ir "conhecer" Sintra e Cascais.



E se ir atrás da carneirada é um bocado seca, a verdade é que aprendi imenso (eu não fazia ideia onde era o ponto exacto do estuário do Tejo, por exemplo).
Começámos no Palácio de Queluz, não é tão deslumbrante como o Palácio da Pena, mas vale a pena visitar,



e mais uma vez as explicações da nossa guia (simpática, alegre e nada monótona) mesmo dadas em inglês (os russos e franceses que íam connosco não pescaram nada o tempo todo) fizeram-me olhar para tudo com outros olhos (o retrato da Rainha Carlota Joaquina até me arrepiou, coitada da senhora, não teve culpa nenhuma, mas era feia como cornos!!).
Adorei o quarto do forrado a brocado carmim, o lustre candelabro de vidro Murano pela sua excentricidade (e por acaso fiquei a pensar que um lustre preto era capaz de ficar bem na nossa sala... também me lembrei que nestes saldos só comprei uma mísera túnica, eu nem me estou a reconhecer...),


todos os pormenores da Sala de Merendas,


e as colunas que parecem de mármore mas na verdade são de madeira pintada, porque a realeza (já naquela altura) não tinha dinheiro para mais. E cada tecto e cada parede, ricamente pintados e decorados, são de ficar de boca aberta e com torcicolos de tanto olhar para cada pormenor.


Paramos no centro de Sintra o tempo suficiente para comer um travesseiro quente e estaladiço, seguimos para o almoço num restaurante típico (para a estrangeirada que ía connosco), que só valeu pelos vinhos patrocinados por um dos participantes (até brandy bebi!).
À tarde passamos pelo Cabo da Roca (e apanhamos uma molha descomunal em 5 minutos) e toda a marginal de regresso a Lisboa, a ouvir as histórias de espiões e realeza em Cascais e no Estoril que serviram de inspiração para o Casino Royale.
Para acabar da forma mais doce, pastéis de Belém no sítio do costume (a última vez que ali tinha estado, eram 4 da manhã do último dia do ano, estava com amigos, vimos os carros a arrancarem no início do Lisboa - Dakar, e os pastéis souberam-me mil vezes melhor).

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Inspiração (VIII)

"Vou só tirar ideias e inspirar-me". Sentada no chão da sala, com a cadela parva a mirar-me do canto do sofá como que a dizer-me "o que é que estás a fazer aí, aqui é mais confortável", vou abrindo uma a uma as gavetas do móvel que guarda tesouros antigos, panos bordados a ponto cruz pela minha mãe, na 3ª classe, peças bordadas do enxoval da minha avó, naperons de crochet (daqueles que já ninguém usa) com torcidos e flores e efeitos que eu nem imagino como se fazem (mas que cosidos uns aos outros davam uns cortinados muito originais) e rendas tão delicadas que ficavam maravilhosas como capas de umas almofadas.
E enquanto a mãe me contava a história do curso de bordados, fez-se luz: vou surripiar o pano onde elas fez os trabalhos para avaliação e mando emoldurar para lhe oferecer.

Há coisas que nunca mudam

A minha santa mãe bombardeia-me com informações mal acordo, senta-se à minha frente na mesa da cozinha e fala, fala, fala, enquanto eu reviro os olhos na tentativa de conseguir distinguir os sons que ela faz (porque as palavras de certeza que não as entendo), ainda estou de pijama e despenteada com a caneca de leite quente numa mão e uma madalena na outra, mas não tenho coragem de lhe dizer que ainda não bebi café, que o meu cérebro ainda não picou o ponto e que daqui a meia-hora não me vou lembrar de nada do que ela disse, porque sei que ela está só feliz por eu estar aqui.
À hora do almoço, o meu pai "ralha" porque vamos comer o resto da massada de polvo do almoço deles de ontem "já viste filha, vens cá a casa para comer restos" e eu rio pela preocupação dele com a "sua menina", porque se soubesse o que eu como num sábado normal mandava-me internar.
Posso ter 30, 40, 50 anos, enquanto eles forem vivos vou sentir-me sempre uma menina ao pé deles, talvez até mais mimada agora do que quando morava cá em casa. Sabe bem esta atenção, este carinho, esta preocupação genuína pelo meu bem-estar. Por isto, o preço de ouvir longos monólogos logo de manhã é bastante aceitável (é muito pequeno, até).

Momentos (XCVII)

Acabar a tarde no Parque das Nações, a olhar para o rio, tempo sem fim de contemplação silenciosa.

Apanhar um táxi que me leva até às conversas sôfregas da minha mãe, ansiosa por matar todas as saudades de uma vez. Entrega-me um envelope fechado, com instruções específicas para só ser aberto no dia 23.
Ver álbuns de fotografias antigas, polaróides onde a minha mãe ainda usava biquini (e tinha uma barriga lisa como eu nunca tive) e fotos que serão para sempre a minha vergonha (cabelo cortado à tigela e popas daquelas com kilos de laca, credo!!).
Bolos quentes e chá de camomila à uma da manhã.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Nem sei porque me lembrei disto...

Pedro. Gosto do nome Pedro. E não me tinha ocorrido isto antes, embirrei com o Simão e mais nenhum me soou bem. O meu irmão era para ter tido o nome Pedro, em honra do santo do dia em que nasceu, mas a minha mãe escolheu nomes "estranhos" para os filhos, nomes fora do comum (pelo menos há 30 anos) e eu escapei por um fio de me chamar Sandrina, só deixavam registar Sandrine, em francês, seguido de um nome português. A esta hora podia chamar-me Sandrine Maria, ou Sandrine Alexandra, mas não, a minha mãe decidiu que cada filho só tería um nome próprio mais os apelidos dos pais (só um de cada) para simplificar. A ela agradeço todo o esforço que me poupou a escrever o nome completo nos testes e impressos para qualquer burocracia.
E já nem sei qual foi o encadeamento de pensamentos que me levou ao nome Pedro, só sei que metia o meu irmão, o céu azul e as nuvens fofas de algodão que vejo da janela do carro em movimento.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ouvir e sentir (CII)

Hoje deve ter sido a primeira vez que fiz uma mala sem vontade, abri-a em cima da cama e fiquei a olhar para ela, vazia, depois abri as portas do roupeiro e fiquei a olhar para ele, cheio. A experiência de 5 anos a fazer malas de fim-de-semana (todos os santos fins-de-semana, apanhar o comboio à sexta-feira para vir trabalhar para pagar o curso, ou só uma desculpa para vir ter com o amor que hoje foi para a escola estudar álgebra porque vai ter frequência amanhã e está com nervoso miudinho - eu gostava de o acalmar, já lhe disse mil vezes que vai sair-se bem, mas não há nada a fazer, e já me esqueci dessa sensação desconfortável no estômago antes de uma frequência - e ando a ler (T)Ralha a mais, estou para aqui a escrever parêntises sem fim) não se perdeu, assim que respirei fundo escolhi as combinações certas, uma para cada dia de trabalho e qualquer coisa mais "elaborada" para os dois jantares que também fazem parte do pacote. Em meia hora tinha tudo devidamente dobrado e arrumado ao milímetro (sem esquecer os carregadores - de telemóvel e da máquina fotográfica - e as sabrinas que salvaram os meus pés em Colónia) dentro da mala que a R. diz que não faz ideia como é que leva tanta coisa, porque tem as dimensões máximas de bagagem de mão permitidas nos voos.
Desta vez não deixo várias refeições feitas, guardadas no frigorífico em caixas de plástico com uma etiqueta na lateral a informar o que está lá dentro (da última vez que fiz isto recebi um sms "ok, no frigorifico só faltam os talheres e as instruções de "como comer para principiantes"!), ele já é grandinho e sabe desenrascar-se, o que basicamente quer dizer que vai jantar ao Sr. J. todos os dias, ou vai pedir asilo ao pai.
Ao todo, são 6 dias sem chegar a casa, descalçar-me, enroscar-me no sofá e ligar o portátil enquanto espero por ele. 5 noites sem a pele quente que me aconchega o sono. Vai ser divertido, claro que vai, vou matar saudades dos meus pais e dos putos, vou rever Sintra, vou jantar no Campo Pequeno e no Ritz, vou conhecer novas pessoas. Mas... não consigo explicar, não estou entusiasmada, acho que me vai faltar qualquer coisa.
Acho que vou ter frio.

Regina Spektor
"Braille"

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Dia perfeito (III)

Feriado de Carnaval. O beijo dele antes de sair para ir brincar às guerras. Virar-me para o outro lado e agarrar a almofada. Sentir-me a adormecer de novo. Por mais quatro horas.
Olhar pela janela e ver os prédios e as árvores despidas cobertos por uma névoa branca de chuva fininha e fria, parece uma cena qualquer tirada de um filme, com Londres como cenário, só falta passar na estrada um autocarro vermelho de dois andares.
Almoçarmos juntos (uma raridade). Passar a tarde no sofá, de cachecol e casaco de lã grossa (dele, comprado há muitos anos na Serra da Estrela, quente e pesado e que me chega quase aos joelhos), a ver um filme injustamente esquecido na minha lista, enquanto o meu puto grande estuda álgebra na mesa da cozinha, papéis espalhados a toda a volta, folhas brancas cheias de equações que nem tento entender. Orgulhar-me de o ver assim empenhado.
Fazer frango com mel e mostarda para o jantar, ao som de Yann Tiersen (esta será sempre a banda sonora da minha vida), para acompanhar uma garrafa de Pêra Grave tinto.

Gustavo Santaolalla
"De Usuahia a la Quiaca"

The Motorcycle Diaries OST

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Dia perfeito (II)

Tirar o dia de férias. O beijo dele antes de sair para o trabalho. Virar-me para o outro lado e agarrar a almofada. Sentir-me a adormecer de novo. Por mais duas horas.
Entrar numa retrosaria para comprar botões. Ficar fascinada pelas cores das lãs e fitas de cetim, botões e missangas a abarrotar de todas as prateleiras.
Uma tosta mista com salsicha fresca e uma caneca de café com leite. A lareira acesa toda a tarde.
Queques com cobertura de caramelo (estou a fazer progressos),

e ver um filme adorável (com uma Meryl Streep di-vi-nal) enrolada numa manta, no sofá, enquanto ouço a chuva miúdinha cair lá fora, e vou adiando o próximo cigarro só para não ir à janela apanhar o frio glaciar.

Henry Gummer
"Don't Stop the Train"

Julie & Julia OST



(E a frase mais enternecedora :"You are the butter to my bread, you are the breath to my life").

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Ouvir e sentir (CI)

Porque acabou agora de dar no Canal Hollywood, e lembrei-me que tenho de os ver outra vez (são dos diálogos mais deliciosos do cinema).

The Waltz
(Before Sunset)

(Estou sem imaginação nenhuma para o título)

Pois, eu tinha dito que não saía de casa, mas a primeira coisa que ouvi quando me levantei foi "vamos sair de casa, compramos uma flor um ao outro, e vamos ao Tra. buscar lenha".
Recusei pactuar com a febre consumista "hoje não há flores para ninguém", mas achei que a ideia de ir cravar lenha ao meu sogro não era má de todo, tendo em conta que pretendo passar os próximos dois dias a hibernar no sofá.
O que eu não esperava era ir lanchar caracóis (!!), ainda por cima bastante aceitáveis, apesar de serem de viveiro. Acabamos com Apple Strudel, carregamos a lenha e um saco das laranjas mais doces, e voltamos para casa, completamente esquecidos que hoje é dia dos namorados.

Ceder

"Amanhã quero acordar e ver o mar".
Eu desconfiei logo que isto não ía correr como eu queria quando ele se levantou às 7 da manhã para ir novamente com o jipe para o mecânico, mas a promessa estava feita, e assim levantei-me (às 10, que ainda não pirei de vez), pus na mochila o necessário para uma noite fora, e esperei. Às 11 telefonou porque o D. (que é mais que "o" mecânico, é um amigo) e a F. nos tinham convidado para almoçar. E apesar de logo ali ver a coisa mal parada, fui com a minha melhor disposição, e não me arrependi. Adorei a cachorra husky que tem um olho metade castanho, metade azul, que passou o tempo a saltar para tentar morder os fios do meu cachecol, e que dá dois passos e senta-se (ou deita-se) aos nossos pés; e a conversa sobre antiguidades numa casa cheia de móveis centenários restaurados e peças rústicas que lembram outros tempos (entre outras preciosidades, eles têm duas fotografias emolduradas, a preto e branco desbotado, uma delas de um grupo de homens a posar em frente a um carro antigo, todos de fato e gravata; a outra de uma menina de cerca de dois anos com um vestidinho branco - quando perguntei quem eram os retratados, responderam-me que não sabiam, as fotos foram encontradas na casa, quando a compraram).

Finalmente, às 4 da tarde, arrancámos em direcção ao mar, a tempo de ver os últimos raios de sol a desaparecer por trás do farol.

O bonito foi depois, à procura de um hotel para passar a noite, com vista para o mar, de preferência. Em São Pedro, nada. Vieira, é mentira. Pedrogão, nem vê-los. Desisti ao ouvi-lo dizer (com um sorriso contido de satisfação e alívio) "vamos para a paz da nossa casa" (vivo com um velho de 60 anos... caquético).
Não fosse a massada de robalo e a lavagem cerebral com que o massacrei (foi ele que puxou o assunto), e tinha dado o meu tempo por perdido. Mas a conversa deu para tudo, desde queixas de calimero a explicações sobre o fascínio da moda (a propósito do September Issue, que vi de manhã) "eu olho para sapatos como tu olhas para pneus de jipe - admiro-os, a beleza do detalhes, mesmo que não tenha dinheiro para comprá-los", e o facto comprovado que os lençóis térmicos só funcionam com duas pessoas "para a semana, quando fores embora, tenho de pôr mais um ou dois cobertores na cama". Enquanto passávamos a serra de Minde no regresso a casa (e o termómetro do carro marcava -1.5º) pensei que às vezes é preciso fazer cedências.
E amanhã, só por causa das coisas, não ponho um pé fora de casa.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ouvir e sentir (C)

Porque faz-me lembrar os dois pequenos com olhos de anjo que gostam das "minhas" músicas.

Keren Ann
"Lay your Head Down"

À procura de um anjo (VII)

Planear

Comecei o dia de tesoura na mão, a cortar as bainhas das skinny jeans que me estavam a irritar porque tinha de as dobrar para pôr dentro das botas. Cortei-as por cima dos tornozelos. Já não me chateiam mais.
No "solário" o tempo passou de uma forma muito leve, a antecipação de um fim-de-semana grande deixa toda a gente mais bem disposta, e o pessoal aqui gosta de fazer partidas de Carnaval, nada de mal, só uns bolsos cheios de esferovite (vão voar bolinhas brancas quando eu limpar os bolsos!), umas mangas dos casacos cosidas, uns carros embrulhados em papel higiénico, uns bombons cheios de picante e uns sumos com vinagre (há dois anos colaram um autocolante com I Love Benfica em letras garrafais no jipe de um sportinguista ferrenho - ele andou mais de uma semana até reparar naquilo).
Depois de uma barrigada de pizzas, a S. trouxe uma peruca e lá andámos nós a experimentar a coisa, verdade seja dita que gostei de me ver assim, ruiva com caracóis, por comparação com a loira de cabelo indomável de todos os dias. Os caracóis é difícil de conseguir, daqueles perfeitos que parecem canudos, mas a cor ainda era capaz de arriscar, não o ruivo alaranjado, mas aquele tom escuro quase beringela. Ficava-me bem, de certeza, o pessoal aqui diz que o ruivo faz sobressair os meus olhos verdes, e o espelho disse-me a mesma coisa quando eu o espreitei com a cabeleira de Jessica Rabbit tresloucada.
Passo o resto da tarde entre leituras clandestinas e suspiros de inconformismo enquanto procuro hotéis com vista para o mar, quero lá saber se vão estar 2 graus negativos, estou-me borrifando se o jipe faz o barulho de um tractor ou começa a perder peças pelo caminho, e faço planos maquiavélicos de pegar no DJ e ir, simplesmente ir (e quem quiser que me siga).

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Momento (XCVII)

Estaciono o carro e vejo a L., minha florista amorosa, a preparar a montra do Dia dos Namorados, uma enorme parede de esferovite com várias cartas de amor pregadas com pioneses. Entro na loja e ela conta-me sobre o concurso que está a promover, pediu para os clientes escreverem uma carta de amor, numera-as, e no final vai fazer um sorteio para oferecer um ramo de rosas vermelhas. Achei a ideia muito querida, numa época em que já ninguém escreve cartas de amor (nem que seja como o marido dela, que encheu uma página A4 com a palavra "Amo-te" escrita de seguida, como aqueles castigos que os putos tinham de fazer na primária "Escreva 100 vezes Não vou voltar a atirar pedras à cabeça do Francisco").
Depois perguntou-me se eu sabia desenhar corações. Eu, romântica crónica e confessa, perguntei de que tamanho o queria, e desenhei um coração enorme no placard de esferovite, que depois cortámos com jeitinho "tu tira daí os dedos que ainda os faço em postas!"
E agora, da minha varanda, vejo a montra da florista com uma janela em forma de coração ladeada por cartas de amor, daquelas verdadeiras e sentidas. E por trás da janela, perfeitamente enquadrado, um ramo de rosas vermelho veludo, daqueles que qualquer gaja que é gaja sonha receber (mesmo que diga que não liga nenhuma).

Mil posts

O Blogger é amigo e avisou-me que este é o post nº 1000.
Na prática é o 977º a ser publicado, porque há 23 textos raivosos e inflamáveis que estão escondidos nos Rascunhos, auto-censura imposta mas não esquecida, e que não devem sair de lá tão depressa. Mas contribuem para a estatística porque também eles fazem parte deste universo paralelo onde me sinto em casa, são os gritos que não solto, as ofensas que não faço e os murros que não dou. Mas esses desabafos exagerados pelas emoções são ínfimos comparados com a beleza que tiro dos meus dias, quase todos os dias, dos pormenores que procuro de passagem e dos sons que enchem estes cantos e substituem as palavras quando elas não chegam para explicar o que sinto.
Não tenho nenhuma periodicidade de escrita, nenhum livro de estilo, nenhum sentido de obrigação para com este espaço. O nº 1000 chegou naturalmente e sem planeamento, como tudo o que acontece por aqui. Como tudo o que é realmente memorável.

Ouvir e sentir (XCIX)

John Bon Jovi e Richie Sambora
Livin' on a Prayer (Unplugged)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Oração (II)

Eu começo a ter medo dos meus sonhos. A sério, quando acordo sobressaltada com um pesadelo, daqueles estúpidos que nos tiram o ar dos pulmões, até tenho medo do que vou ouvir no dia seguinte. Se calhar por isso não telefonei, há 5 dias. Só enviei um email a pedir notícias. Mas não insisti, não tive coragem para ouvir a resposta. Hoje chegou-me pela voz suave e apaziguadora de um anjo, que não deixa de ser um anjo só porque trouxe uma má notícia. E eu fiquei parva, realmente parva sem reacção nem raciocínio perante tamanha injustiça, como é que isto pode acontecer? não está certo, ninguém merece tanto sofrimento junto, muito menos ela, eles, foda-se, isto não está a acontecer, mas que ano de merda é este?
Tal como o anjo doce, hoje acendo uma vela no copo de vidro fosco que está em cima da minha secretária e só serve para estas ocasiões, o pessoal que entra no "solário" e vê a vela acesa já sabe que alguma coisa não está bem, que eu estou a pedir a Deus por alguém ou por algo, que eu estou a pedir um milagre (só uma miúda mimada uma vez teve a insensatez suficiente para perguntar com ar de eu-sou-tão-engraçada-e-tenho-umas-piadas-muita-giras: "isto agora é a procissão de Fátima?" ao que eu respondi, baixinho e com um tom de voz tão gélido que ela engoliu em seco e só voltou passadas duas horas para pedir desculpa "o meu irmão está a ser operado neste momento").
Hoje peço-Te um milagre daqueles grandes, peço-te que pegues nela ao colo e a protejas, só precisas de uma mão, é tão pequenina, não dá trabalho nenhum, por favor, deixa que o nome dela vingue, deixa que o milagre que representa possa ser um raio de esperança para todos nós, os que insistem em manter a fé, os que são teimosos e continuam a acreditar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Não sou só eu...(II)

É que depois desta manhã, depois de ontem, depois de todos os últimos dias, era mesmo isto que eu gostava de ter escrito. Volto a sentir as minhas dores, aquelas que me recordam a dádiva que o corpo está disposto a dar, todos os meses, com uma pontualidade exasperante para quem espera (ou já não espera nada). E não sei o que dói mais, a dor física que me avisa, que me grita "não desistas, agora é a altura certa!!", ou a dor de alma de baixar os braços e não ter alento nem vontade de tentar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Digerir (mal, muito mal)


Não me lembro quando foi, sei que foi há pelo menos dez anos, na praceta em frente ao Mosteiro de S. Dinis (transformado em colégio interno de onde vem a famosa expressão d' "As meninas de Odivelas"), tinham montado uma Feira do Livro em tendas improvisadas, e nós andávamos por ali a vaguear. Parei numa banca de livros esotéricos, e o vendedor perguntou de imediato qual o meu signo. "Peixes" respondi sem grande interesse.
"Ah, a menina é caprichosa, gosta que saibam o que está a pensar sem ter de o dizer". E desde esse dia tento controlar o meu espírito caprichoso, convencendo-me que as pessoas não são videntes e não podem (nem têm de) saber o que estou a pensar para agir em conformidade (se bem que já me podiam conhecer um pouco). Por isso fui treinando e aperfeiçoando a técnica de dizer o que penso e o que quero sem ficar à espera que descubram o que me vai na alma. Isto serve também para os amuos, que fui abandonando aos poucos porque não resolvem nada.
Agora, se eu digo o que quero e o que sinto sem ceder a amuos e sem fazer a vida negra a ninguém, e tudo continua na mesma, vou fazer o quê? Como é que combato esta apatia paralisante, esta falta de qualquer incentivo que me faça desabrochar, ter vontade de ser generosa de novo (dar, improvisar e surpreender, como sempre fiz, pequenos gestos com grande significado - mas até isso perde a piada quando não surte o efeito desejado, quando nem sequer é notado), dar mais de mim, sentir alguma coisa para além do muro de silêncio em que embato todos os dias e todas as noites? Como é que eu deixo de me sentir invisível?

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ouvir e sentir (XCVIII)

Pink
"Glitter In The Air"
(live at Grammy's Awards 2010)


Ena pá, ena pá!!!

(Deixa-me cá registar o momento, que eu desconfio que isto não vai durar muito...)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Mimar(-me)

Como fui novamente trocada pelo mecânico de jipes, vinguei-me no exfoliante corporal, no creme hidratante, no verniz de unhas branco pérola, numa chávena de chá de pétalas de rosa com lúcia-lima e no Coco avant Chanel (se bem que acho que gostei mais da outra versão) .

Alexandre Desplat
"Coco and Boy"
Coco Avant Chanel OST

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ouvir e sentir (XCVII)

Porque esta manhã, já atrasada (como sempre) despejei o armário das botas no chão do hall de entrada, à procura das desejadas para hoje. Quando entrei no carro ainda a pensar nas pragas que a avó me iría rogar se visse o carnaval que eu deixei em casa, ela que sempre me ensinou que "sabemos como saímos, não sabemos como vamos voltar", esta foi a primeira música do dia (mais uma vez e sempre, bendita Rádio Comercial que me salva todas as manhãs). E fiquei a pensar que hoje sería um dia bom.
No escritório, à minha espera, tinha uma tacinha de arroz doce que uma colega fez de propósito, porque a travessa de ontem desapareceu sem deixar rasto antes de eu ter oportunidade de provar. A R. foi uma querida e deixou-me reunir primeiro com o senhor que fala alto, e pela primeira vez em meses esvaziei a pasta dos pendentes que tem o nome dele na capa. O puto mais velho ligou a anunciar que já assinou o contrato de compra da casa que o trará para perto de mim. E vou fazer arroz de marisco para um jantar a dois acompanhado de um tinto Quinta de Cabriz gentilmente oferecido pela nossa Paula.
Porque hoje foi um dia bom.

Pearl Jam
"Just Breath"

Apostar

Joguei no Euromilhões, jackpot de 100 milhões de euros, e enviei-lhe um sms para fazer o mesmo "dava para comprar muitas molas de suspensão".
Só queria um milhão, a sério, chegava-me perfeitamente, mas com a sorte malvada que tenho ao jogo, nem isso. Também com os números 01, 03 e 04 e com as estrelas 01 e 02 estou à espera de quê?!

Inspiração (VII)...

... ao som de Yann Tiersen.

Só lameto que a Paula não tenha ficado o tempo suficiente para prová-los. A miúda passa-se, livrou-me da bicicleta de ginástica (ainda estou para saber como é que aquele trambolho coube inteiro no carro dela), deixou-me uma garrafa e meia de Quinta de Cabriz e ainda agradece. Tive a sensação que esta estadia foi mais à pressa, não houve tempo para conversar com calma, sem estar a olhar para o relógio porque "já é quase uma da manhã e amanhã é dia de trabalho... para alguns".
A minha avó faz anos hoje, 78. Telefono-lhe e mostro-me surpresa (porque o puto mais velho já se tinha desbroncado) quando ela diz que está em casa da minha mãe, uma visita de uma semana, e ouço a algazarra de fundo, imagino a crise de ciúmes da cadela que é a companhia da mãe desde que eu saí de casa, agora que tem de partilhar as atenções com as duas cachorras lindas da minha avó: uma arraçada de caniche, autêntica bola de caracóis pretos, a outra arraçada de chiuaua, eléctrica mas com uns olhos tão meiguinhos, daqueles que só pedem para lhe darem uma festinha. Nós prometemos à avó, eu, o puto mais velho e a C., a primeira vez que vimos as cachorras engalfinhadas a roer as orelhas uma à outra, prometemos que quando ela falecer nós ficamos com as cadelinhas, não as vamos deixar abandonadas nem que as levem para o canil municipal, a C. fica com a bola de pêlo negro, eu fico com os olhos meiguinhos. E lembrei-me disto enquanto do lado de lá o telemóvel passava de mão em mão "toma, fala com ela", e eu ouvia à vez a voz bem-disposta do meu pai "agora é que a tua mãe desenferruja a língua", e os risos da minha mãe, satisfeita por ter alguém que a acompanhe nas intermináveis conversas que ele não tem paciência para ouvir. E desliguei o telefone com uma sensação, não diría de alívio, mas de alegre segurança por saber que eles estão bem e felizes.
E agradeci.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ouvir e sentir (XCVI)

Porque vesti a saia preta de boneca russa e toda a gente elogiou no escritório. Porque consegui no espaço de meia-hora marcar a reunião que já andava a perseguir há uma semana e meia (dia 1 de março, 2 da tarde, Paris). E comprei a Moleskine, que já tem inscrita a verde-alface, na primeira página, a frase "Faz tudo como se alguém te contemplasse" de Epicuro, que vi um dia num muppie e nunca mais esqueci.
Arrisco-me a ser excomungada pela Joaníssima do meu coração, mas esta música não me sai da cabeça. Porque eu hoje sinto-me imparável e poderosa.

Susana Felix canta Ary dos Santos
"Canção de Madrugar"

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Momentos (XCVI)

A I. sentada à cabeceira da mesa afirma do alto dos seus 5 anos, para toda a gente ouvir "A minha família! A minha mãe, o meu pai, a mana, a tia P., a S. e o L.". E naquele segundo eu perdoo-lhe todas as diabruras, a tara que ela tem por verniz das unhas (e tudo o que tenha a ver com maquilhagem) e o feitio indomável.
Porque o jantar e o resto da noite passada de volta de um computador pré-histórico fez-nos recordar que por mais tempo que estejamos sem notícias uns dos outros (apesar de morarmos a duas ruas de distância, mas o dia-a-dia é mesmo assim, a vida passa por nós e nem damos conta, só agora reparo que já não via as princesas desde o Natal, e estão tão altas e tão lindas... e tão más) quando nos juntamos o resultado é sempre o mesmo, as conversas saem espontaneamente, como se tivéssemos combinado um café ontem.
Há muito tempo que não ria assim, rir mesmo alto, com vontade, das trocas de mimos entre dois (maus) feitios que podiam ser gémeos separados à nascença "mas eu não sou como ele! - deixa, tu chegas lá com a idade" e do humor caústico e gozão que não perde a oportunidade para lançar uma farpa.
Há muito tempo que não sentia esta preocupação de afastar os objectos que pudessem magoar o boneco a pilhas que já corre a casa toda, esta alegria quando a I. se agarra às minhas pernas e chama o meu nome seguido de "inha" enquanto pede beijos e mimos, ou esta sensação indefinível de ver um corpo pequenino a dormir na nossa cama, coberta com uma ponta do edredon, e de ouvir um choro sonolento quando acordou e não sentiu ninguém à sua volta (desta vez não olhei para ele, preferi não saber se tinha notado, como eu, se tinha sentido, como eu).
E a frase da noite foi "apetece-me bater-te com um gato morto até ele voltar a miar!"

Segredar (II)

Ando a ler um blog que me deslumbra e deixa sem fôlego, como há muito tempo nenhum livro o consegue fazer. Comecei do início, como faço com todos os blogues que me despertam a curiosidade. Já cheguei ao dia 26 de Janeiro de 2006. Sei que muita coisa já mudou na vida dela desde esta data, mas não faz diferença nenhuma, porque cada post, apesar de ser passado, contém em si momentos intemporais de uma sensibilidade apurada levada ao extremo. Leio-o quando não devo, quando supostamente estaría a trabalhar e a ser produtiva e a contribuir para o sucesso da empresa que me paga ao final do mês. Em vez disso perco-me em posts de 8.000 caracteres (ou mais) numa pequena janela preta e clandestina aberta das 9 às 6, que eu escondo dos olhares do mundo.
A beleza fascina-me e abstrai-me do que me rodeia, sejam palavras, sons ou texturas. E para quem acha que os seus dias são sempre iguais, ler os relatos "neuróticos" de alguém que se queixa de que só lhe acontecem filmes de série Z é libertador e faz-me pensar que se calhar sou eu que não presto atenção, se calhar as coisas mais estranhas ou mais belas de tão banais acontecem constantemente à minha volta, eu é que não as vejo.

Este ano vou receber todas as semanas, por email, um excerto do The Secret Daily Teachings. No final do ano terei 52 chavões daqueles que são como o Melhoral, não fazem bem nem mal. Quero imprimi-los todos e guardar dentro da Moleskine Reporter's Notebook preta que ainda não comprei, ainda não encontrei aquela que tem o tamanho certo para caber na minha carteira mais pequena, aquela onde eu vou passar o dedo pelo elástico e abri-la para encher mais duas ou três páginas com gatafunhos verdes que depois tenho dificuldade em decifrar para transferir para o portátil. Quero imprimi-los todos e guardar na bolsinha do fundo da Moleskine, junto com os recortes dos Guias de Lisboa sobre os sítios que gostava de visitar, mas não tenho com quem: a Villa Dorothea, o City Bar Campo Pequeno, a Casa do Alentejo ou a Leitaria Camponeza. Pode ser que assim os sonhos se concretizem.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ouvir e sentir (XCV)

Porque o vídeo está sublime. E porque quem me vê agora não imagina a miúda de 16 anos vestida de preto, com saias compridas, botas da tropa e o cabelo daquele tamanho, que eu fui um dia.

Sarah Brightman

"Fleurs du Mal"


Momentos (XCV)

A minha peça de mobília voltou. Está na mesma, e o riso dela enche a casa. Hoje fomos às compras (claro) depois de (eu) sair do trabalho (que ela ficou em casa a arrastar-se da cama para o sofá, em pijama... cabra...).
Tenho dois tapetes novos nas casas de banho. Um vermelho-sangue para combinar com os corações da tampa da sanita. O outro castanho para contrastar com os sapos verdes da outra tampa da sanita. E um cachecol tricotado com lã branca, comprido e macio como eu gosto.
Tenho planos para um fim-de-semana grande, longe daqui e junto ao mar. Com direito a tertúlia gastronómica e horas de comtemplação da Natureza. Só preciso que ele queira ir. E desfrutar.
Também tinha planos para um jantar a dois no sítio do costume, mas o N. acabou de me entrar pela porta dentro a pedir ajuda para desatascar uma carrinha enfiada num charco. Passados dez minutos chega ele (tinha ido lavar o jipe...) e depois de um rápido ponto de situação saem alegremente "até lhe arranco o pára-choques!!". Faço uma salada de massa com atum e legumes, visto o pijama e pinto as unhas de bordeaux enquanto espero que ele volte. Jantamos às 11 e meia da noite. A solidariedade venceu o romantismo.