Não me lembro quando foi, sei que foi há pelo menos dez anos, na praceta em frente ao Mosteiro de S. Dinis (transformado em colégio interno de onde vem a famosa expressão d' "As meninas de Odivelas"), tinham montado uma Feira do Livro em tendas improvisadas, e nós andávamos por ali a vaguear. Parei numa banca de livros esotéricos, e o vendedor perguntou de imediato qual o meu signo. "Peixes" respondi sem grande interesse.
"Ah, a menina é caprichosa, gosta que saibam o que está a pensar sem ter de o dizer". E desde esse dia tento controlar o meu espírito caprichoso, convencendo-me que as pessoas não são videntes e não podem (nem têm de) saber o que estou a pensar para agir em conformidade (se bem que já me podiam conhecer um pouco). Por isso fui treinando e aperfeiçoando a técnica de dizer o que penso e o que quero sem ficar à espera que descubram o que me vai na alma. Isto serve também para os amuos, que fui abandonando aos poucos porque não resolvem nada.
Agora, se eu digo o que quero e o que sinto sem ceder a amuos e sem fazer a vida negra a ninguém, e tudo continua na mesma, vou fazer o quê? Como é que combato esta apatia paralisante, esta falta de qualquer incentivo que me faça desabrochar, ter vontade de ser generosa de novo (dar, improvisar e surpreender, como sempre fiz, pequenos gestos com grande significado - mas até isso perde a piada quando não surte o efeito desejado, quando nem sequer é notado), dar mais de mim, sentir alguma coisa para além do muro de silêncio em que embato todos os dias e todas as noites? Como é que eu deixo de me sentir invisível?
"Ah, a menina é caprichosa, gosta que saibam o que está a pensar sem ter de o dizer". E desde esse dia tento controlar o meu espírito caprichoso, convencendo-me que as pessoas não são videntes e não podem (nem têm de) saber o que estou a pensar para agir em conformidade (se bem que já me podiam conhecer um pouco). Por isso fui treinando e aperfeiçoando a técnica de dizer o que penso e o que quero sem ficar à espera que descubram o que me vai na alma. Isto serve também para os amuos, que fui abandonando aos poucos porque não resolvem nada.
Agora, se eu digo o que quero e o que sinto sem ceder a amuos e sem fazer a vida negra a ninguém, e tudo continua na mesma, vou fazer o quê? Como é que combato esta apatia paralisante, esta falta de qualquer incentivo que me faça desabrochar, ter vontade de ser generosa de novo (dar, improvisar e surpreender, como sempre fiz, pequenos gestos com grande significado - mas até isso perde a piada quando não surte o efeito desejado, quando nem sequer é notado), dar mais de mim, sentir alguma coisa para além do muro de silêncio em que embato todos os dias e todas as noites? Como é que eu deixo de me sentir invisível?
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