quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Estranhar

"O mar está bravo". Foi a forma mais soft que o meu irmão encontrou de dizer que o meu pai não se safa desta. E eu recebo os telefonemas da C., cada um pior que o anterior "o teu pai vai ser entubado", "o teu pai está em coma induzido" e não sinto nada, nem dor, nem mágoa, nem revolta, estou num torpor que assusta toda a gente à minha volta, parece que estou anestesiada, e não me reconheço nesta calma gélida e insensível, talvez tenha desistido de tentar controlar o incontrolável, o que não está nas minhas mãos, as minhas lágrimas não resolvem nada, as dores de estômago também não, possivelmente vou pagar isto tudo daqui a umas semanas, quando me começarem a cair tufos de cabelos uns atrás dos outros, mas para já vivo esta estranha forma de espera, sem drama e com a profunda crença que Alguém lá em cima vai tomar a decisão certa, escolher o que fôr melhor não para mim, mas para o meu pai.

5 comentários:

  1. Mando-te um grande beijinho solidário. Fico com muita pena pelo teu pai e por tudo o que estás a passar...

    ResponderEliminar
  2. Nunca se sabe muito bem o que dizer nestas alturas, por isso deixo só ficar um beijinho, e ficamos aqui caladinhos, para não incomodar mais. :(

    ResponderEliminar
  3. Como dizia o Prof Randy Pausch acerca destes momentos, "não escolhemos as cartas, apenas como as jogamos". Bjnhs, força por ai'.

    ResponderEliminar
  4. Muito obrigado pelas vossas palavras, que me fizeram sentir como se estivesse a voltar a casa depois de uma viagem (daquelas más, que juramos nunca mais repetir).

    ResponderEliminar