Hoje deve ter sido a primeira vez que fiz uma mala sem vontade, abri-a em cima da cama e fiquei a olhar para ela, vazia, depois abri as portas do roupeiro e fiquei a olhar para ele, cheio. A experiência de 5 anos a fazer malas de fim-de-semana (todos os santos fins-de-semana, apanhar o comboio à sexta-feira para vir trabalhar para pagar o curso, ou só uma desculpa para vir ter com o amor que hoje foi para a escola estudar álgebra porque vai ter frequência amanhã e está com nervoso miudinho - eu gostava de o acalmar, já lhe disse mil vezes que vai sair-se bem, mas não há nada a fazer, e já me esqueci dessa sensação desconfortável no estômago antes de uma frequência - e ando a ler (T)Ralha a mais, estou para aqui a escrever parêntises sem fim) não se perdeu, assim que respirei fundo escolhi as combinações certas, uma para cada dia de trabalho e qualquer coisa mais "elaborada" para os dois jantares que também fazem parte do pacote. Em meia hora tinha tudo devidamente dobrado e arrumado ao milímetro (sem esquecer os carregadores - de telemóvel e da máquina fotográfica - e as sabrinas que salvaram os meus pés em Colónia) dentro da mala que a R. diz que não faz ideia como é que leva tanta coisa, porque tem as dimensões máximas de bagagem de mão permitidas nos voos.
Desta vez não deixo várias refeições feitas, guardadas no frigorífico em caixas de plástico com uma etiqueta na lateral a informar o que está lá dentro (da última vez que fiz isto recebi um sms "ok, no frigorifico só faltam os talheres e as instruções de "como comer para principiantes"!), ele já é grandinho e sabe desenrascar-se, o que basicamente quer dizer que vai jantar ao Sr. J. todos os dias, ou vai pedir asilo ao pai.
Ao todo, são 6 dias sem chegar a casa, descalçar-me, enroscar-me no sofá e ligar o portátil enquanto espero por ele. 5 noites sem a pele quente que me aconchega o sono. Vai ser divertido, claro que vai, vou matar saudades dos meus pais e dos putos, vou rever Sintra, vou jantar no Campo Pequeno e no Ritz, vou conhecer novas pessoas. Mas... não consigo explicar, não estou entusiasmada, acho que me vai faltar qualquer coisa.
Acho que vou ter frio.
Regina Spektor
"Braille"
É normal..falta-te o teu homem caramba! Se ele não te fizesse falta não estarias com ele certo?
ResponderEliminarUm abraço de mimo.
ResponderEliminarSophie, das outras vezes que tive de estar longe de casa, também me faltava, e não me lembro de me sentir assim. Não consigo explicar isto, pronto.
ResponderEliminarAnna^, obrigado pelo mimo :))