domingo, 3 de outubro de 2010

Dia surreal


Isto hoje prometia ser agreste, mas passou os limites. Para começar levantei-me às 5 e meia da manhã.

Pronto, podia terminar por aqui, só isso bastava, mas não, às 7 e meia estávamos a deixar a S. e a minha afilhada sonolenta (já fez um ano e meio, está tão crescida) no aeroporto, para o seu baptismo de voo até Paris, onde o pai as espera para um mês inteiro a matar saudades (e quem sabe a tratar de arranjar um mano para a pequena). Já no estacionamento ficámos a olhar um para o outro "e agora, o que é que se faz em Lisboa a um domingo às 8 da manhã?"
Fomos comer pastéis de Belém e beber chá (depois de 2 cafés, achei por bem não arriscar o meu ritmo cardíaco tão cedo),


 

entrámos na Igreja dos Jerónimos (que não se chama assim, é a Igreja Sta. Maria Belém) e ficámos à apreciar a luz filtrada pelos vitrais, só não tirei fotografias porque estava a decorrer uma missa.
Ainda pensamos esperar que abrissem o Mosteiro, mas ele solta um "vamos ao Ikea" e eu ía tendo uma apoplexia ("quantos cafés é que já bebeste? eu sei que dormimos pouco, mas não é caso para estares com alucinações, tu queres ir onde?! Tu?!" - não precisei de dizer nada disto, o meu olhar bastou) depois explicou que precisava de material de arrumação para o "seu" gabinete (pronto, já conseguiu despachar pessoal para a nova unidade e libertar espaço, e já tem um gabinete só para ele, longe do veneno e das verdades que preferia não saber, mas eu acho que não se livra assim do fufufu) sugeri a Staples, mas não, é o Ikea, está bem, bora lá. Passamos pela exposição no 1º andar sem parar em lado nenhum (afinal as faculdades mentais dele estão intactas, quase corria para sair dali) e cá em baixo pega rapidamente numas caixas de arquivo, nuns porta lápis e tabuleiros para papéis e ala que já aqui estamos há muito tempo. Quase a chegar às caixas uns copos de plástico cheios de água chamam-me a atenção: plantas aquáticas... porque não tentar? O que é que pode correr mal? Pelo menos estas não posso matar à sede (como fiz com o cacto), mas hei-de arranjar maneira, de certeza.
Fazemos a marginal ao som desta música, e paramos para ver o mar (e sentir o vento frio, o Verão acabou mesmo).

Mafalda Veiga e Nuno Bettencourt
"Balançar"



Próxima paragem, casa da mãe para levá-la a almoçar sushi, ficou feliz da vida, conversou como se não houvesse amanhã, quis sentar-se de costas para o balcão onde os cozinheiros preparam os pratos para que não a vissem à luta com os pauzinhos, mas não precisava de tantos cuidados, porque a única que fez javardice e deixou um dos rolinhos escapar e cair dentro da taça do molho, salpicando tudo à volta, fui eu.
Regressamos debaixo de uma chuvada torrencial, paramos no shopping para comprar um relógio para o meu afilhado, que faz hoje 9 anos, paramos em casa duas horas para ele acabar um trabalho, passamos em casa do meu irmão para dar um beijo rápido ao pessoal e deixar os últimos tarecos que estavam em casa da mãe, e seguimos para a a festa de anos do A., já a benzer-nos com o que iríamos encontrar. Foi pior. Muito pior. Já aqui falei desta família italiana, mas o que assistimos hoje não dá para descrever, e mesmo que o fizesse, ninguém ía acreditar.
Quando nos despedimos e entrámos no carro, respirámos fundo e desatámos a rir, porque era a única coisa que conseguíamos ao relembrar aquela dinâmica familiar completamente disfuncional, desestruturada, destrambelhada. "Mas eles gostam todos uns dos outros".

4 comentários:

  1. A descrição deste teu dia surreal é soberba! ahahahahhaha

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  2. Anna^, e não pus aqui pormenores da festa de anos, parecia que tínhamos entrado na twilight zone!!

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  3. Este balançar... hummm, obtigado pela descoberta :)

    Um beijo*

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