Depois de uma sessão contínua de trabalhos manuais até às 4 e meia da manhã (eu disse que tratava da capa cinzenta, pois bem, agora tem um belo acabamento em crochet de lã - é claro que o meu irmão disse logo que eu tinha trazido a manta para a rua...),
e de o ouvir sair de casa cedo para ir ver a Baja (não regula bem, só pode, com esta chuva vai fazer o quê? ver carros a atravessar rios de lama? Depois de ver as fotos que ele tirou, só posso assumir que há mais, muitos mais, o que não falta por aí é gente doida, chiça...), acordei da melhor forma que conheço (bem, a segunda melhor...): a ouvir o som da chuva a bater na janela, e a pensar que ainda era cedo, e podia ficar por ali, entre o calor dos lençóis. Só me enganei na hora, meio-dia e meia não é cedo, mas como a minha única preocupação do dia era ter de me vestir para ir comprar tabaco, não me ralei muito.
Depois de um lanche tardio com pastéis de nata gigantes e canela a voar pelos ares, fui com o puto grande e a família a uma festa organizada pelo R. Não me lembro há quantos anos não nos juntávamos, os quatro primos que passavam os verões na terra da avó, os três primos que chegaram a morar juntos com ela, e eu, "a mais velha" como eles fazem questão de dizer, vejo o F. agora com 22 anos e a namorada ao lado e lembro-me (mesmo, não é só de ver nas fotografias antigas) de pegá-lo ao colo no dia em que foi baptizado, e do verão em que largou a fralda (a avó deixou-o andar de Junho a Setembro só em t-shirt e ténis ou descalço, foi remédio santo); e o R., parece que foi há pouco tempo que partiu a perna e chorava com medo de andar com as canadianas, ou que começou a gravar cd's de música que vendia a 5 euros aos colegas, e afinal já tem 30 anos e um emprego que o está a desgastar a olhos vistos, mas como não é capaz de estar quieto ainda vem ao fim-de-semana para "a terra" dinamizar uma vila abandonada ao marasmo. Foi o grupo dele que organizou a festa, duas bandas de garagem (uma dali da zona, outra francesa) e dois DJ's à desgarrada para acabar a noite.
Mas não foi a música que fez a minha noite, nem a cara de pânico da C. a dizer, mal a 1ª banda começou a actuar " A miúda sossegou. Ela gosta desta música! Estou lixada, a minha filha vai gostar da mesma música que o pai!" e nós ríamos e dizíamos que lhe arranjávamos uns cd's de Korn e System of a Down para a adormecer, e que mandávamos fazer uma t-shirt a dizer O Orgulho do Papá (preta e com uma caveira).
O que fez a minha noite foram as memórias de alguns dos melhores anos da minha vida, os laços de sangue e de amizade juntos (nem sempre acontece, sei do que falo, mas não ali) naquela mesa cheia de copos de plástico vazios, uma família amiga mexeu e remexeu numa história partilhada que nos acompanhará, por mais anos que estejamos sem nos vermos, sem falarmos, sem nos lembrarmos dos aniversários uns dos outros, porque quando estes momentos acontecem, parece que o tempo não passou, só nós é que crescemos - um bocadinho só - mudámos a imagem, mas a palhaçada continua a mesma.
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