quinta-feira, 3 de julho de 2008

Verdade

Não tenho escrito nada. Para ser sincera, parece-me que não tenho feito nada estes dias. Não tenho tempo para nada, os dias escorrem por entre os dedos, passam numa vertigem. Trabalho-casa, quando dou por ela é uma da manhã e penso que tenho de ir dormir, tenho de descansar, e não tenho tempo para nada.
Ansiava pelo fim de semana, ficar sossegada, dormir até não aguentar mais, arrastar-me da cama para o sofá e ali ficar, só ficar. Já tenho os planos furados. Um telefonema de uma amiga da mãe (enfermeira, o que torna tudo mais sério e preocupante) estragou tudo, o pai continua a emagrecer a olhos vistos, sem explicação para tal. Ele diz que se sente bem, não lhe dói nada, não se sente cansado, come bem. Mas não pára de emagrecer. Não é normal, eu sei que não é, e ele também sabe, só ainda não percebi se sabe mais alguma coisa que nos esconde, ou se está simplesmente a esconder a cabeça na areia. Recusa-se a ir ao médico, e qual é a solução? A filha pródiga ter de se chatear, ter mais uma vez de mostrar que é forte.
Amanhã sigo para Lisboa, e não vou com vontade de falinhas mansas. Apetece-me gritar com eles todos, com o pai por se estar a portar como uma criança, sem pensar na preocupação que causa ao resto da família, com a mãe porque não é forte e temos de andar com ela nas palminhas das mãos, com medo que se quebre ao menor impacto, com os putos por não serem capazes de resolver um problema, com todos por estarem à espera que eu lá vá "tratar do assunto". Apetece-me gritar-lhes "E eu, se tiver algum problema quem é que vai resolvê-lo?"
É claro que não vou fazer nada disto, já tenho o discurso mais ou menos preparado, só ainda não decidi se conto toda a verdade. Já que estou numa de pôr as cartas na mesa ao menos que seja o jogo todo. Não sei como é que a mãe vai reagir. A verdade nem sempre é agradável, mas liberta-nos. E eu acho que preciso de me libertar deste segredo que escondo deles há quase 3 anos.

5 comentários: