terça-feira, 9 de setembro de 2008

Respirar fundo

Fomos visitar a avó, ritual quinzenal cumprido religiosamente, eles ficam à nossa espera nas escadas da antiga escola primária (agora o único cafézinho do lugar), viram as cabeças de cada vez que passa um carro, pode ser o "seu" neto a chegar. E nós gostamos mesmo de lá ir, ver se eles estão bem, apesar de todos os problemas típicos dos quase noventa anos de cada um.
Na terra da avó, escondida atrás do sol posto, onde nem sequer há rede de telemóvel, o silêncio só é interrompido pelo som dos pássaros e pela brisa que abana os ramos das oliveiras. Sempre foi assim, desde a primeira vez que lá fui, é um lugar de abstracção pura, capaz de acalmar o mais inquieto dos espíritos (tipo... o meu).
Mas desta vez foi diferente, desta vez ouvi um silêncio tão profundo e apaziguador que me deu uma sensação de paz que não sentia há bastante tempo. Fiquei ali sentada no muro baixo caiado de branco, sem pensar nada, só a ouvir aquele silêncio que me deixou de alma lavada.
- Isso pode ser prenúncio de alguma coisa, algo de bom - diz-me ele, quando comento o que estou a sentir.
- Achas que sim?
- Porque não? É sempre bom acreditar.
E mais uma vez, dou-lhe razão.

6 comentários:

  1. E fazes bem aceitar essa razão, tem sido que assim seja.

    Lindo esse vosso ritual de visita a avó. Noutro dia vi um documentário na SIC sobre os idosos perdidos no interior desertificado e fiquei com o coração apertado a ver aquelas rugas lindas ali perdidas, abandonadas a si mesmas, com o olhar preso no horizonte...
    Não pode, não deve ser assim, caramba!

    Bj

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  2. Ele tem razão, sim!!

    Bjo

    P.S. Tenho saudades de me sentir assim na terra da avó. Perdi a capacidade de abstracção relativamente ao que lá encontro :((

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  3. viajante, enquanto eles forem vivos, fazemos questão de ir sempre, se não podemos ao domingo, vamos na 2a ou 3a seguinte, no máximo.
    Para a próxima lembra-me de te mostrar uma foto da avó, é linda quando sorri :))
    Abraço

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  4. mcg, e fiquei mais sorridente ainda por ser ele a dizê-lo, ele que é muito mais céptico do que eu, mas neste caso, talvez por estarmos num sítio que lhe recorda a inocência da infância, deixou-se levar :))

    P.S. - e não há possibilidade de descobrir ainda por lá um recanto intocado, onde possas voltar a sentir paz? Às vezes tens de ter um bocadinho de trabalho a procurar, mas compensa :)
    Abraço

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  5. gata verde, se é!! E é nestas pequenas viagens que eu vou vivendo :))
    Um beijo

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