sábado, 27 de março de 2010

Foi há um mês.
Pensei nisso quando me vi sozinha dentro do carro, e olhava Constância enquanto passava a ponte, no ponto onde a vista é mais bonita, parece uma ilha ao longe, com as casas todas aninhadas e a igreja lá em cima.
Fui ver a minha afilhada sabendo que não tiveste a oportunidade de levar um neto ao café, pela mão, e comprar-lhe um gelado, como fazias connosco. Sonhei-te tantas vezes assim, com uma menina de totós pequenina e com passos de boneco a pilhas pela mão, a atravessar a rua a caminho do café. Vais vê-los quando nascerem, sei que vais acompanhá-los e protegê-los, mas eles nunca vão ouvir a tua voz.
Sabes que é disso que sinto mais falta? Nem é tanto de ver-te, é de ouvir a tua voz. Ainda custa pensar que não vou voltar a ligar o teu número, porque guardámos o cartão numa gaveta, era o teu número, mais ninguém vai usá-lo.
Imagino-te agora com uma camisa clara, mangas arregaçadas, calças de ganga e um sorriso largo, como quando nos contavas piadas secas mas nós ríamos sempre.
De vez em quando surge-me assim do nada uma lembrança de um qualquer pequeno episódio, daqueles que uma pessoa só recorda depois, acho eu. Só os bons, aqueles que me arrancam um sorriso. Que foram quase todos. Foste um bom pai.

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