quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Medo

- Eu acho que o meu pai não volta para casa.
- Tens consciência do que estás a dizer?
- Tenho, tenho consciência do que estou a dizer, mas ainda não interiorizei.
E assim, no abraço dele, admiti aquilo para que a minha mãe e o N. me têm tentado preparar, com suavidade, para o choque não ser tão doloroso. Como se isso fosse possível.
A sensação de injustiça é enorme, a sensação de impotência maior ainda, impotência pelo que não posso fazer agora, mas principalmente pelo que não foi feito antes. Se ele tivesse aceitado o transplante há 2 anos, se calhar estava bem, vivia mais uns anos, podia chegar a velho, o meu pai tem 55 anos, porra! Mas viu colegas de quarto morrer depois de serem operados, e teve medo que lhe acontecesse o mesmo. Não aceitou porque teve medo de morrer. Não sei se ele agora ainda tem medo de morrer. Mas eu tenho medo que ele morra.

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