Ía cheia de medo. Depois da última experiência, um exame com o nome de cateterismo uterino não soa nada amigável, e ía à espera de algo doloroso.
Não tive de assinar nenhuma declaração, o que foi logo bom sinal. Repeti a rotina de tirar a roupa no vestiário e vestir aquela espécie de saia que mais parece um saco de batatas sem fundo, ponderei a hipótese de calçar as botas de cano alto, mas lembrei-me da P. e a imagem de uma mulher deitada na marquesa com botas altas foi de mais para mim.
Enquanto aguardava que me chamassem, ouvi a médica dizer "Então parabéns, e felicidades", e durante uns segundos fantasiei que ela me íria dizer o mesmo, "mas você está grávida, não vamos fazer mais nenhum exame. Parabéns e felicidades."
Depois ouço o meu nome, e entro no consultório preparada para o que der e vier. Desta vez não há médicos giros, só a minha médica e uma auxiliar amorosa que me prepara para a ecografia e me vai afagando o braço e dizendo para relaxar (como é que alguém pode relaxar perante a visão da médica a pôr um preservativo e gel numa coisa que parece um vibrador?).
O exame é incómodo mas não doloroso, pelo menos até à altura em que ela começa a escarafunchar porque diz que não encontra o meu ovário direito (mau, ele estava lá, ele não pode ter fugido!). Depois de encontrar o ovário perdido, seguiu-se o cateterismo, que é pouco mais que uma citologia, o contacto frio do metal, a desinfecção e de seguida uma picada que se prolonga por uns segundos (que não deixam de parecer uma eternidade).
Não houve náuseas nem espasmos de dor, e a sensação de dorido passou com umas horas de sono à tarde, embalada pelo silêncio da casa vazia e pela (fraca) luz que entrava pela janela.
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