terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O meu protector

Fico sempre com um sorriso de orelha a orelha quando falo com ele, faz-me sempre rir, um riso que fica mesmo depois de desligar o telefone.
O meu irmão é o outro homem da minha vida. Não desvalorizando o meu pai, claro, para quem eu sou e serei sempre a menina.
Mas adoro o meu irmão, com um amor e um carinho imensos. Faz-me confusão ouvir histórias de irmãos que não se falam há anos, ou pior, que deram um tiro no outro por causa de um bocado de terreno. Não consigo compreender as razões para tal. Não consigo imaginar o que o meu irmão podería fazer de tão atroz que me fizesse deixar de falar com ele, muito menos de amá-lo. Porque não o imagino a fazer algo assim.
Num corpo maciço de 90 kilos (conseguido com trabalho pesado- e não estou a falar de ginásio) vejo um puto (para mim será sempre um puto, apesar de só ter menos um ano) sensível e atencioso, generoso e leal, sincero e preocupado com os outros, que se esconde por trás de uma capa de despreocupação, boa vida e palhaçada. Porque ao pé dele todos têm de estar a rir. Ele encarrega-se disso. Quantas vezes como forma de se obrigar a si mesmo a rir.
Tenho pena de não estar mais perto dele. Acho que lhe faço falta. Acho que ele às vezes precisava de falar, e não tem com quem. Tem muitos amigos, é verdade, mas amigos para os copos, amigos para as noitadas, amigos que só conhecem o N. porreiraço, sempre bem disposto. Porque é essa a imagem que ele mantém a todo o custo.
Eu conheço o outro N.. O que nunca se recompôs por ter perdido o primeiro amor. O que me chama "nina" com ternura (é a única pessoa que me chama assim). O que escolhe criteriosamente os sítios onde me leva à noite, porque "aquele não é sítio para ti". O que numa discoteca está sempre alerta, para afastar qualquer pintas que me esteja a incomodar.
Lembro-me quando fomos à Expo98 (foi há 10 anos...já foi há 10 anos... é triste dizer isto) eu com os dois homens da minha vida, num dos dias mais memoráveis até hoje. Não tanto pela exposição em si, a qual já só recordo no album de fotografias, mas pela experiência vivida, essa bem presente na memória. Um dia que foi só nosso, com um entendimento perfeito, com uma descontracção imensa, uma curiosidade de absorver tudo, e uma vontade de gozar com tudo, próprias dos nossos 20 anos.
A meio da tarde, eles entraram num pavilhão (não me lembro qual) e eu fiquei cá fora a fumar um cigarro (em 10 anos, o vício é o mesmo). Quando saíram, viram um rapaz inglês que tinha parado para me pedir indicações, a ir-se embora. O meu irmão apressa o passo para me vir perguntar "quem era aquele?", com ar de "parto-lhe a tromba toda!!", enquanto o meu namorado ficou impávido e sereno.
Ainda hoje sorrio ao recordar aquela atitude, pois foi sempre essa a postura do meu irmão em relação a mim: protectora. Ele é o meu protector, e se dependesse dele nada de mal me acontecia na vida, porque primeiro tinha de passar por cima dele.

2 comentários:

  1. A protecção, quando ponderada e equilibrada sabe muito bem, o problema é quando se torna obsessiva.

    ResponderEliminar
  2. Rui, não se trata de obsessão nem excesso de zelo, nunca o senti assim. É só mais uma forma de mostrar carinho. :)
    Bem-vindo.

    ResponderEliminar