sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Normalidade

Nós não somos normais. Nós não temos uma relação normal.
Depois do que se passou ontem (e de eu estar a pé às 6 da manhã com insónias por causa disso) era de esperar uma discussão, uma troca de palavras mais feia, pratos a voar pela janela e os porquinhos a guinchar de medo. Mas não. Nem uma sessão de asneirada, nem sequer uns gritos para animar as hostes.
Logo de manhã recebo no telemóvel uma foto de um cachorrinho branco com olhos tristes. Sem mensagem, só a foto, porque uma imagem vale mais que mil palavras (e porque as palavras custam a dizer). Depois recebe-me com o mesmo sorriso de sempre.
- Então já te passou?
- O quê? A bebedeira? Já.
- Sabes que estragaste uma noite que estava a ser muito porreira? E que me magoaste? Porque é que tiveste aquela reacção?
- Porque feriste o meu orgulho.
A resposta já a sabia, e sinceramente não estava à espera de mais. Definitivamente não estava à espera de um pedido de desculpas. Ele é um homem maravilhoso, mas não deixa de ser um homem, e pedir desculpas sería contranatura.

Por isto é que acho que não somos um casal normal. Não discutimos. Não gritamos (também não temos sexo pós-discussão, que dizem ser um espectáculo). Resolvemos todos os problemas com diálogo, conseguimos verbalizar o que sentimos, o que nos chateia, e não guardamos rancor. No máximo afastamo-nos, ficamos sem falar um com o outro, mas também isso passa ao fim de um ou dois dias (nunca mais).
Foi ele que me ensinou a não guardar tudo cá dentro. A não amuar (faz o que eu digo, não faças o que eu faço!). A não esperar que ele adivinhasse os meus pensamentos. E esse ensinamento tirou-me um peso de cima, tornou a minha (nossa) vida muito mais fácil e simples. Se não quero ir, digo. Se não gostei da forma como ele falou com uma gaja qualquer, digo. Se me apetece um gelado, um filme, que ele me deixe em paz... digo. É tão simples.

2 comentários:

  1. como é que se comenta uma intimidade tão cãndida e luminosa? eu não sei... mas gosto imenso, rosa negra.

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  2. Bem-vinda a minha vida.
    Aqui as cores são outras, mais simples, mais dia a dia... mas igualmente verdadeiras e do coração :)

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