quinta-feira, 22 de abril de 2010

Há dias assim

Em que o trabalho "rende". Em que parece que fazemos mil e uma tarefas ao mesmo tempo. E fazemos mesmo. Com vontade e energia. Em que o tempo não custa a passar. Pelo contrário, voa por entre os dedos que voam entre o teclado e o telefone, papéis arquivados que significam processos encerrados, a sensação redentora de dever cumprido. O meu irmão goza comigo, diz que eu não tenho um trabalho, que devo chegar a casa com dores nas pontas dos dedos de teclar, e nas orelhas de tanto tempo passado ao telefone. Nem sequer vale a pena tentar explicar-lhe os dias em que os argumentos se esgotam, em que os números dos mapas de rentabilidade não acertam, em que os neurónios se afogam em água, em que só o som do toque do telefone irrita, quanto mais as vozes cheias de exigências e reclamações dos clientes. Mas hoje não foi um dia desses.
Há dias assim. Em que chego a casa com ganas de limpar tudo. Só com uma pontinha de neura, para não perder o ânimo. Os meus treinos ainda agora começaram. Mas eu chego lá. Entretanto faço limpezas. Ajudam-me a desanuviar.
Faço o jantar à luz do dia e "despacho" o puto para a escola. Agarro na esfregona e no pano do pó e levo tudo à frente. Gosto do cheiro do chão lavado. Dos azulejos a brilhar. Dos tapetes com as pontas de trapilho todas levantadas depois de serem sacudidos. Gosto do banho quente que tomo depois. De me sentar no sofá cansada mas de cabeça vazia. E de ouvir os sons da casa. Em silêncio.

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