sábado, 26 de junho de 2010

Conversar

Depois de dormir metade na noite no sofá, e enquanto fumo um cigarro de frente para a rua silenciosa e escura (os candeeiros da zona estão apagados, é estranho ver os prédios e a mini-praça assim tão lugúbres) tenho uma epifania sobre a conversa inesperada que tivémos há umas horas (inesperada porque eu estava descansada da vida, deitada no sofá a ouvir música, só enrolada numa toalha depois de um banho escandalosamente longo, quando ele entra pela casa dentro seguido do J., obrigando-me a um sprint para vestir qualquer coisa decente) quando o J. disse que cada um dos filhos tinha sido concebido na altura da morte dos avós, e de como cada um deles tem as características físicas e psicológicas desses mesmos avós. Falou-se de transferência de energia, e de como as "almas penadas" podem ser só energia que ainda não encontrou um receptáculo onde repousar, onde perpetuar a sua existência na geração seguinte num ciclo que, a ser verdade, não tem fim.
Pode ser que sim, que um filho nosso tenha um pouco daqueles que foram antes do tempo, a honra do meu pai, a força indomável da Flor. Algo que nos lembre (ainda mais), sempre que olharmos para ele.
(E quando ler o próximo livro do J. vou lembrar-me que uma das ideias surgiu ali, a analogia política que melhor descreve o estado das actuais democracias europeias, numa conversa intimista e sincera na nossa sala).

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