O meu puto mais velho faz anos hoje. 31. Num ano cheio de mudanças. Encontrou o amor-para-a-vida e atirou-se de cabeça. Desejou um filho e uma casa própria longe dos "filmes" de Lisboa. Ousou sonhar e fez por alcançar. Muda-se amanhã. O baby nasce no final do ano.
Desta vez não o acordei. Um telefonema rápido e um sms sentido "só quero que sejas feliz" (como resposta tive um "Obrigado meu ANJO"). Tenho todas estas coisas guardadas que nunca digo, não verbalizo.
Porque é que é tão mais fácil escrever do que dizer cara a cara? Despejar aqui caracteres que ficam gravados e podem ser lidos e relidos, do que dizer de uma vez o que não se quer esquecido? Talvez o medo de ver a reacção, o desconforto. Ficamos sempre desconfortáveis quando nos elogiam ou dizem que gostam de nós. Estamos programados para não acreditar ou pelo menos desconfiar "de mim? mas porquê? o que é que eu tenho de especial?". Tudo.
O meu puto grande tem a força, a alegria de viver, a paciência de santo, os valores sólidos (e o tamanho) que fazem dele um grande homem, e farão dele (já fazem, com o D.) um grande pai.
Tenho um orgulho imenso em tê-lo como irmão e saber que ele faz parte da minha vida, tenho a certeza inabalável que posso contar com ele para partilhar o melhor e para me proteger do pior, e ultimamente tenho também um medo irracional e infundado que este laço que nos une seja quebrado. Não há razão nenhuma para isso, mas dou por mim a pensar que há poucas pessoas sem as quais não imagino a minha vida. E ele é uma delas. São poucas mas boas. As que me vêm à ideia se precisar de ligar para ouvir uma voz amiga. As que vão saber antes dos outros. As que se preocupam genuinamente comigo. Quero envolvê-las nos meus braços e embalá-las. Porque essas são "as minhas pessoas" (by Grey's Anatomy).
Sei que ele está feliz e só isso já me faz ganhar o dia.
E continuo a sentir tudo o que não digo.
"Passou tudo tão depressa / nunca te falei de mim / o que digo não importa / o que sinto talvez sim."
terça-feira, 29 de junho de 2010
Inspiração (XII)
"-Vocês são bonitas, mas vazias - insistiu o principezinho. - Não se pode morrer por vocês. Claro que, para um transeunte qualquer, a minha rosa é igual a vocês.
Mas, sozinha, é muito mais importante do que vocês todas juntas, porque foi ela que eu reguei.
Porque foi ela que eu pus debaixo de uma redoma.
Porque foi ela que eu abriguei com o biombo.
Porque foi a ela que eu matei as lagartas (menos duas ou três, por causa das borboletas).
Porque foi a ela que eu ouvi queixar-se, gabar-se e até, às vezes, calar-se.
Porque ela é a minha rosa."
In: O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry
Mas, sozinha, é muito mais importante do que vocês todas juntas, porque foi ela que eu reguei.
Porque foi ela que eu pus debaixo de uma redoma.
Porque foi ela que eu abriguei com o biombo.
Porque foi a ela que eu matei as lagartas (menos duas ou três, por causa das borboletas).
Porque foi a ela que eu ouvi queixar-se, gabar-se e até, às vezes, calar-se.
Porque ela é a minha rosa."
In: O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Ouvir e sentir (CXXVI)
A juntar aos vernizes de cores psicadélicas que comprei hoje num raid-surpresa de compras à hora do almoço, podia dar-me para pior (e daí talvez não...)
George Michael
"Freedom 90"
(MTV Unplugged)
George Michael
"Freedom 90"
(MTV Unplugged)
domingo, 27 de junho de 2010
Private (X)
(Para ti, Luis)
"O que queres que faças na vida, será insignificante. Mas é muito importante que o faças. Porque... mais ninguém o fará.
Como quando alguém entra na tua vida, e metade de ti diz que não está preparado. Mas a outra metade diz: faz com que ela seja tua para sempre."
In: Remember Me
"O que queres que faças na vida, será insignificante. Mas é muito importante que o faças. Porque... mais ninguém o fará.
Como quando alguém entra na tua vida, e metade de ti diz que não está preparado. Mas a outra metade diz: faz com que ela seja tua para sempre."
In: Remember Me
Mal não faz
"Há alturas em que é difícil acreditar no futuro, em que temporariamente não temos a coragem necessária. Quando isto acontece, concentre-se no presente. Cultive as pequenas felicidades até a coragem voltar. Viva a beleza do próximo momento, da próxima hora, antecipe a promessa de uma boa refeição, sono, um livro, a certeza de que as estrelas vão brilhar hoje e o sol amanhã."
Ardis Whitman (na Activa do mês passado)
Ardis Whitman (na Activa do mês passado)
sábado, 26 de junho de 2010
4º passo
Pensei que quando chegasse a esta fase tinha de ir ali à farmácia todos os dias, pedir pelas alminhas que me dessem a injecção. Ainda tive a secreta esperança que fossem comprimidos, também há. Mas não me safei.
Leio as instruções todas outra vez, preparo a âmpola dentro da caneta, desinfecto a pele no sítio escolhido. Depois fico ali, um, dois, três minutos, a olhar para a agulha, para a barriga, de volta para a agulha.
Quando o meu irmão esteve de cama um mês depois de uma operação ao menisco do joelho (em que pediu para não levar anestesia geral, para poder ver tudo pelo monitor) a minha mãe dava-lhe injecções na barriga para ele não ganhar varizes. Perguntei-lhe como conseguia porque "eu nunca sería capaz de dar uma injecção, nem a mim nem a ninguém". Ela respondeu-me com aquela voz carinhosa de mãe que tudo faz pelos seus "se fosse mesmo preciso, também tu farías. Somos capazes de coisas que nem sonhamos".
F%&$%$, esta m%$#$ não é assim tão grande, tem quê? nem 2 cm, é fininha, é só espetar e esperar uns segundos. 1, 2, 3! ... Já está?! É só isto? Estava eu a tremer por causa disto? Nem senti!
(realmente, somos capazes de coisas que nem sonhamos...)
Leio as instruções todas outra vez, preparo a âmpola dentro da caneta, desinfecto a pele no sítio escolhido. Depois fico ali, um, dois, três minutos, a olhar para a agulha, para a barriga, de volta para a agulha.
Quando o meu irmão esteve de cama um mês depois de uma operação ao menisco do joelho (em que pediu para não levar anestesia geral, para poder ver tudo pelo monitor) a minha mãe dava-lhe injecções na barriga para ele não ganhar varizes. Perguntei-lhe como conseguia porque "eu nunca sería capaz de dar uma injecção, nem a mim nem a ninguém". Ela respondeu-me com aquela voz carinhosa de mãe que tudo faz pelos seus "se fosse mesmo preciso, também tu farías. Somos capazes de coisas que nem sonhamos".
F%&$%$, esta m%$#$ não é assim tão grande, tem quê? nem 2 cm, é fininha, é só espetar e esperar uns segundos. 1, 2, 3! ... Já está?! É só isto? Estava eu a tremer por causa disto? Nem senti!
(realmente, somos capazes de coisas que nem sonhamos...)
Como a vida é frágil, se a abandonam...
A Ti Celeste faleceu esta manhã.
Simplesmente deixou de querer viver.
Com os telemóveis em silêncio porque jurámos que íamos dormir até o corpo se fartar, só a vibração da 5ª chamada não atendida nos despertou. Seguimos para o aeroporto para ir buscar o Z., e passamos o dia entre a tristeza da família que me traz más recordações, e a alegria da E. que na inocência do seu ano de vida não se apercebe que perdeu a bisavó, e que não se vai lembrar que brincou com ela e recebeu mil beijos daquela senhora nortenha que tinha sempre histórias para contar.
Simplesmente deixou de querer viver.
Com os telemóveis em silêncio porque jurámos que íamos dormir até o corpo se fartar, só a vibração da 5ª chamada não atendida nos despertou. Seguimos para o aeroporto para ir buscar o Z., e passamos o dia entre a tristeza da família que me traz más recordações, e a alegria da E. que na inocência do seu ano de vida não se apercebe que perdeu a bisavó, e que não se vai lembrar que brincou com ela e recebeu mil beijos daquela senhora nortenha que tinha sempre histórias para contar.
3º passo
Comecei a fumar slims. Sim, eu sei que devia mesmo era deixar-me de merdas e parar de fumar, mas andar com uma pilha de nervos nesta altura também não me vai fazer nada bem, por isso prefiro ir com calma. Tenho duas a três semanas (só! - sorrio ao pensar que já não conto o tempo em meses) para me habituar à ideia de deixar de fumar (estou a pensar positivo, nem sequer ponho outra hipótese que não seja o "vai correr bem", mal seja que bata de frente contra uma parede de betão no final).
Conversar
Depois de dormir metade na noite no sofá, e enquanto fumo um cigarro de frente para a rua silenciosa e escura (os candeeiros da zona estão apagados, é estranho ver os prédios e a mini-praça assim tão lugúbres) tenho uma epifania sobre a conversa inesperada que tivémos há umas horas (inesperada porque eu estava descansada da vida, deitada no sofá a ouvir música, só enrolada numa toalha depois de um banho escandalosamente longo, quando ele entra pela casa dentro seguido do J., obrigando-me a um sprint para vestir qualquer coisa decente) quando o J. disse que cada um dos filhos tinha sido concebido na altura da morte dos avós, e de como cada um deles tem as características físicas e psicológicas desses mesmos avós. Falou-se de transferência de energia, e de como as "almas penadas" podem ser só energia que ainda não encontrou um receptáculo onde repousar, onde perpetuar a sua existência na geração seguinte num ciclo que, a ser verdade, não tem fim.
Pode ser que sim, que um filho nosso tenha um pouco daqueles que foram antes do tempo, a honra do meu pai, a força indomável da Flor. Algo que nos lembre (ainda mais), sempre que olharmos para ele.
(E quando ler o próximo livro do J. vou lembrar-me que uma das ideias surgiu ali, a analogia política que melhor descreve o estado das actuais democracias europeias, numa conversa intimista e sincera na nossa sala).
Pode ser que sim, que um filho nosso tenha um pouco daqueles que foram antes do tempo, a honra do meu pai, a força indomável da Flor. Algo que nos lembre (ainda mais), sempre que olharmos para ele.
(E quando ler o próximo livro do J. vou lembrar-me que uma das ideias surgiu ali, a analogia política que melhor descreve o estado das actuais democracias europeias, numa conversa intimista e sincera na nossa sala).
Ouvir e sentir (CXXV)
Anathema
"Are you there?"
Roubado à Miss Cookies & Milk de Muffin
(é sempre bom saber que o romantismo não morreu).
"Are you there?"
Roubado à Miss Cookies & Milk de Muffin
(é sempre bom saber que o romantismo não morreu).
sexta-feira, 25 de junho de 2010
2º passo
"Tudo acontece por uma razão". Digo e repito porque cada vez faz mais sentido e tem mais força esta crença de que não há coincidências.
Quando telefonei na segunda feira a marcar a próxima consulta, disseram-me que até ao final do mês só havia uma hora disponível. Era hoje.
Se não tivesse aceite a marcação, não tería ouvido a pergunta que receei ter de ficar adiada até Setembro "O tratamento começa sempre ao terceiro dia do ciclo, neste caso, é amanhã. Quer começar já?". Quero. Muito.
(Ou seja, vou começar a espetar agulhas na barriga todas as noites...)
Quando telefonei na segunda feira a marcar a próxima consulta, disseram-me que até ao final do mês só havia uma hora disponível. Era hoje.
Se não tivesse aceite a marcação, não tería ouvido a pergunta que receei ter de ficar adiada até Setembro "O tratamento começa sempre ao terceiro dia do ciclo, neste caso, é amanhã. Quer começar já?". Quero. Muito.
(Ou seja, vou começar a espetar agulhas na barriga todas as noites...)
Sonho (VI)
Telefonei para a mãe mas quem me atendeu foste tu. Ouvi a tua voz. Tão nítida. No cumprimento alegre que era sempre o mesmo. No qual eu sentia o teu sorriso mesmo sem te ver. Estavas bem-disposto e descontraído. Estás bem-disposto e descontraído.
Quero acreditar que significa alguma coisa, hoje, precisamente hoje.
Esta noite sonhei contigo.
Quero acreditar que significa alguma coisa, hoje, precisamente hoje.
Esta noite sonhei contigo.
A bem dizer...
... não vi o David Fonseca. Vi a cabine telefónica no palco e os neons de cores psicadélicas a piscar durante o concerto. Ouvi as músicas como som de fundo. Passei o tempo todo na conversa e a beber caipirinha. No final deliciei-me com o fascínio que tenho por fogo de artifício, e com as fotos fantásticas que tería tirado se tivesse levado o cartão de memória da máquina (nem com o cabelo pintado eu deixo de ser loira...).
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Sorrir (IV)
Fora de horas
Se eu tivesse a massa encefálica toda arrumadinha debaixo das madeixas, a esta hora ía-me deitar, lia umas páginas d' A Casa do Mundo, agarrava-me ao braço dele e rezava para aquela tosse cavernosa passar.
Mas não, vou sair agora de casa para ver a banda do JP a actuar ao vivo.
Mas não, vou sair agora de casa para ver a banda do JP a actuar ao vivo.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Aleaoriedades (II)
Depois de 9 anos convencida que era a super-mulher e que para além de trabalhar ainda tinha de manter a casa a brilhar e a roupa sempre impecável (não falo em cozinhar porque houve uma altura em que nos vinham trazer o jantar a casa todas as noites), admiti finalmente recorrer aos serviços da engomadoria ao fundo da rua. Um pequeno passo para o Homem, um passo gigante para o meu descanso. Isto tudo porque o meu regresso foi brindado com qualquer coisa como "não tinha nada passado a ferro, por isso fui comprar roupa"... (nunca me tinha ocorrido esta desculpa).
Voltei aos quadrados de lã, agora com o trabalho facilitado porque a mãe usa-os como terapia ocupacional (e fá-los à velocidade da luz). Um monte de cores desgovernadas que serão (um dia) uma manta alegre e quente para as noites em frente à lareira.
A lista de filmes vai-se acumulando porque não consigo decidir o que ver primeiro. Então deixo-os ficar adormecidos pelas horas que roubo à noite, ao som de chillout e entre páginas de viagens sonhadas em vez de sonos sem sonhos.
Voltei ao forno para um bolo de maçã com canela, um retomar de ritmos que uma semana fora e outra anormalmente cheia de trabalho baralharam.
Faço experiências com a câmara e vejo o que me rodeia com outros olhos. Questiono a história que uma imagem pode contar. E tenho vontade de tentar o P&B. Ainda não consigo brincar com a luz, ela escapa ao meu esforço de aprisioná-la num momento. Mas estou a aprender a seduzi-la.
Devo ser a única pessoa que ainda não viu o Sexo e a Cidade 2.
Faço experiências com a câmara e vejo o que me rodeia com outros olhos. Questiono a história que uma imagem pode contar. E tenho vontade de tentar o P&B. Ainda não consigo brincar com a luz, ela escapa ao meu esforço de aprisioná-la num momento. Mas estou a aprender a seduzi-la.
Não fui eu que disse...
"Por vezes, basta limpar o suor da testa de um homem cansado, para que ele venha logo comer da mão que o acaricia. Não é necessário ser-se bruxa para conseguir isso. Ser leal e alegre, saber ouvir - ou, pelo menos, fingir que se ouve - cozinhar bem, vigiá-lo sem que dê por isso para evitar que faça asneiras, ter prazer e dar-lhe prazer em cada encontro e outras tantas coisas muito simples são a verdadeira receita. Poderia resumi-lo em duas frases: mão de ferro, luva de seda."
In: Inés da minha alma
In: Inés da minha alma
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Escrever o futuro
No dia em que a Selecção Portuguesa deu uma cabazada de 7 - 0 à Coreia do Norte (agora é que eles nos ficam com um ódio de morte), recebi este video. Nike no seu melhor.
(Hoje, também eu escrevi o meu futuro).
(Hoje, também eu escrevi o meu futuro).
domingo, 20 de junho de 2010
Encher a alma...
... dos pequenos nadas que dão sentido aos dias. Tantas vezes repetidos sem perderem a magia, o encanto. Ouvir a minha afilhada chamar-me "mdínha". Abraçá-la e enchê-la de beijos até acalmar as saudades. Deixá-la chapinhar na mini-piscina insuflável até ficar toda encharcada. O riso dela compensa o trocar de roupa 3 vezes. Semi-frio de frutos silvestres e o sorriso da avó R. depois de mais um susto (e como é que a convencemos que, com noventa anos, não era má ideia deixar de se empoleirar nas nespereiras?). Um (dois, três...) prato de caracóis e profiteroles. Um dia como tantos outros. Um dia feliz.
Fazer mato (VIII) *
* ou "Eu queria dormir e ninguém me deixa".
Pelos vistos não sou a única. Às 8 da manhã na pastelaria em frente a casa, está tudo com uma cara de sono que mete medo. Um dos jipes avaria antes de arrancarmos, outro fura um pneu nos primeiros kilómetros, mas tudo isto faz parte, são pausas para fumar um cigarro (muitas pausas nós fizémos...) e pôr a conversa em dia.
E a minhoca composta por 9 jipes lá vai seguindo, desta vez sem entrar em nenhuma pedreira, mas com demasiado pó fininho que se entranha em todos os poros e deixa o cabelo com um tom ligeiramente grisalho. A minha renite jura vingança e a garganta ameaça fazer greve durante uns dias.
Este ano a organização do roteiro esteve a cargo de uma mulher, e esse "pormenor" fez uma grande diferença: o passeio foi mais bonito. Poucos obstáculos difíceis, mas muito mais belo a nível das paisagens por onde passámos, junto à costa, com mar a perder de vista e montes atapetados de verde intenso.
Almoçamos com os olhos postos na Lagoa de Óbidos, o habitual picnic improvisado; ressacamos até encontrar um sítio para beber café; convencemos o dono de um restaurante a fazer-nos jantar às 10 da noite, quando os meninos foram para casa e ficaram os homens.
Assim vale a pena sair da cama e perder horas de sono (eu ía dizer que durmo amanhã, mas prevê-se continuação de bom tempo).
Kanye West
"Jesus Walks With Me"
(Jarhead OST)
Pelos vistos não sou a única. Às 8 da manhã na pastelaria em frente a casa, está tudo com uma cara de sono que mete medo. Um dos jipes avaria antes de arrancarmos, outro fura um pneu nos primeiros kilómetros, mas tudo isto faz parte, são pausas para fumar um cigarro (muitas pausas nós fizémos...) e pôr a conversa em dia.
E a minhoca composta por 9 jipes lá vai seguindo, desta vez sem entrar em nenhuma pedreira, mas com demasiado pó fininho que se entranha em todos os poros e deixa o cabelo com um tom ligeiramente grisalho. A minha renite jura vingança e a garganta ameaça fazer greve durante uns dias.
Este ano a organização do roteiro esteve a cargo de uma mulher, e esse "pormenor" fez uma grande diferença: o passeio foi mais bonito. Poucos obstáculos difíceis, mas muito mais belo a nível das paisagens por onde passámos, junto à costa, com mar a perder de vista e montes atapetados de verde intenso.
Almoçamos com os olhos postos na Lagoa de Óbidos, o habitual picnic improvisado; ressacamos até encontrar um sítio para beber café; convencemos o dono de um restaurante a fazer-nos jantar às 10 da noite, quando os meninos foram para casa e ficaram os homens.
Assim vale a pena sair da cama e perder horas de sono (eu ía dizer que durmo amanhã, mas prevê-se continuação de bom tempo).
Kanye West
"Jesus Walks With Me"
(Jarhead OST)
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Pôr a conversa em dia
A Paula liga-me e falamos até ela ficar sem saldo (no telemóvel).
Eu ligo-lhe de seguida e continuamos a falar até eu ficar sem saldo.
E a terceira chamada esteve a duas palavras de ir pelo mesmo caminho.
Eu ligo-lhe de seguida e continuamos a falar até eu ficar sem saldo.
E a terceira chamada esteve a duas palavras de ir pelo mesmo caminho.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
E agora, umas fotos a sério
Ara Güler, o Olho de Istambul.
Música: Nightwish
"Sleeping Sun"
E Pedro Loureiro, o "nosso" fotógrafo.
Música: Nightwish
"Sleeping Sun"
E Pedro Loureiro, o "nosso" fotógrafo.
domingo, 13 de junho de 2010
Viajar
É óbvio que os últimos dias me deixaram a pensar no conceito dos novos nómadas, aventureiros ou loucos sem raízes para quem viajar não é uma diversão que se faz uma vez por ano para aguentar o resto dos meses num escritório, mas sim um modo de vida e uma necessidade.
As histórias que ouvi fascinaram-me (se calhar porque sei que não sería capaz de o fazer, não tenho a coragem suficiente ou a flexibilidade mental para lidar com todos os imprevistos, com as saudades, com o desconhecido): quem começou a viajar sozinho com treze anos, quem considera a Índia como segunda casa, quem já fez mais viagens este ano do que eu fiz em toda a existência, quem a certa altura fez contas e decidiu que não valia a pena manter uma casa porque não passava lá nem três meses por ano.
Estou sentada numa caixa de metal a olhar para o placard dos voos que saem de Zurique, enquanto espero que o mostrador para Lisboa pare de piscar "Late Arrival" e me deixe ir para casa. São imensos. Os voos. Os destinos. Escolho aqueles que gostava de visitar. Mas visitar não é conhecer. Isso é o que eles fazem, o que admiro no espírito inconformado e curioso de um viajante (não confundir com turista).
As histórias que ouvi fascinaram-me (se calhar porque sei que não sería capaz de o fazer, não tenho a coragem suficiente ou a flexibilidade mental para lidar com todos os imprevistos, com as saudades, com o desconhecido): quem começou a viajar sozinho com treze anos, quem considera a Índia como segunda casa, quem já fez mais viagens este ano do que eu fiz em toda a existência, quem a certa altura fez contas e decidiu que não valia a pena manter uma casa porque não passava lá nem três meses por ano.
Estou sentada numa caixa de metal a olhar para o placard dos voos que saem de Zurique, enquanto espero que o mostrador para Lisboa pare de piscar "Late Arrival" e me deixe ir para casa. São imensos. Os voos. Os destinos. Escolho aqueles que gostava de visitar. Mas visitar não é conhecer. Isso é o que eles fazem, o que admiro no espírito inconformado e curioso de um viajante (não confundir com turista).
A despedida
Depois de estarmos no barzinho de ontem a fumar shisha até às 4 da manhã, a fazer tempo para o pessoal do voo das 6, prescindi de preciosas horas de sono para poder aproveitar até ao fim mais um pouco de cor e vida desta cidade que me fascinou de uma forma que não estava à espera.
Por alguma razão (ou várias) Istambul é a quinta maior cidade do mundo, com mais habitantes que Portugal inteiro, numa urbe caótica onde o burburinho de fundo é constante, entre as buzinas e as orações que ecoam dos altifalantes; e o lixo se vai acumulando ao longo do dia, apesar dos esforços dos trabalhadores que aproveitam e reviram os sacos e caixotes à cata de plásticos e latas que separam para vender.
Ao contrário de tudo o que me tinham avisado, não houve um único momento em que não me sentisse segura, os turcos podem atirar um ou outro bitaite quando passamos (principalmente os vendedores das lojas e os angariadores de clientes à porta dos restaurantes) mas não passa disso. Também me tinham avisado para o uso do véu, e passei os dias a arrastar uma écharpe que só foi usada duas vezes, para entrar nas mesquitas. O uso do lenço a tapar os cabelos é muito comum, o uso do véu inteiro também, a par de um cigarro na mão (os turcos fumam desalmadamente) e saltos altos. As cores vivas dos lenços condizem com (e contribuem para) o colorido da cidade, e é um dos pormenores que faz dançar o olhar enquanto somos arrastados na corrente da multidão.
A figura de Atatürk "O Pai", como os turcos lhe chamam (sempre retratado em poses de galã de cinema antigo), primeiro presidente da República turca e responsável pela reconstrução e modernização do país, está presente em toda a parte, e a ele se deve muito do que se vê em nosso redor.
O café turco é intragável, e o raki é pior ainda, mas em compensação, a comida é toda ela uma explosão de cores e aromas condimentados (sem serem picantes como eu temia), não comi nada que não tivesse gostado (bem, houve uma pasta de grão com amendoim, tipo paté, que não me convenceu), e a fruta é, sem excepção, saborosa, rica e doce, desde o sumo de laranja à melancia.
Não comi uma maçaroca de milho assada nem uma sandes de peixe frito, não experimentei os mexilhões com sumo de limão que vendem junto ao cais de embarque, não comprei um tapete nem fiz a massagem que acompanha o banho turco.
Não me perdi nas ruelas estreitas e antigas nem vi a luz do entardecer sobre o Bósforo as vezes suficientes.
Tenho de voltar.
Por alguma razão (ou várias) Istambul é a quinta maior cidade do mundo, com mais habitantes que Portugal inteiro, numa urbe caótica onde o burburinho de fundo é constante, entre as buzinas e as orações que ecoam dos altifalantes; e o lixo se vai acumulando ao longo do dia, apesar dos esforços dos trabalhadores que aproveitam e reviram os sacos e caixotes à cata de plásticos e latas que separam para vender.
Ao contrário de tudo o que me tinham avisado, não houve um único momento em que não me sentisse segura, os turcos podem atirar um ou outro bitaite quando passamos (principalmente os vendedores das lojas e os angariadores de clientes à porta dos restaurantes) mas não passa disso. Também me tinham avisado para o uso do véu, e passei os dias a arrastar uma écharpe que só foi usada duas vezes, para entrar nas mesquitas. O uso do lenço a tapar os cabelos é muito comum, o uso do véu inteiro também, a par de um cigarro na mão (os turcos fumam desalmadamente) e saltos altos. As cores vivas dos lenços condizem com (e contribuem para) o colorido da cidade, e é um dos pormenores que faz dançar o olhar enquanto somos arrastados na corrente da multidão.
A figura de Atatürk "O Pai", como os turcos lhe chamam (sempre retratado em poses de galã de cinema antigo), primeiro presidente da República turca e responsável pela reconstrução e modernização do país, está presente em toda a parte, e a ele se deve muito do que se vê em nosso redor.
O café turco é intragável, e o raki é pior ainda, mas em compensação, a comida é toda ela uma explosão de cores e aromas condimentados (sem serem picantes como eu temia), não comi nada que não tivesse gostado (bem, houve uma pasta de grão com amendoim, tipo paté, que não me convenceu), e a fruta é, sem excepção, saborosa, rica e doce, desde o sumo de laranja à melancia.
Não comi uma maçaroca de milho assada nem uma sandes de peixe frito, não experimentei os mexilhões com sumo de limão que vendem junto ao cais de embarque, não comprei um tapete nem fiz a massagem que acompanha o banho turco.
Não me perdi nas ruelas estreitas e antigas nem vi a luz do entardecer sobre o Bósforo as vezes suficientes.
Tenho de voltar.
sábado, 12 de junho de 2010
A vivência
Começamos o dia com a visita a um cemitério, que não varia muito dos nossos, excepto por ter um vendedor de bijuterias à entrada, e um café com esplanada a funcionar no interior do espaço murado.
Voltamos ao Grande Bazar, paragem obrigatória para um grupo maioritariamente feminino, apesar de ter sido com um timing definido (e sempre curto, mas tinha de ser, ali perdemo-nos - em todos os sentidos) . São lojas e lojinhas que vendem de tudo, do mais kitch que um turista pode querer ao mais foleiro que as turcas têm coragem de usar (isto existe mesmo, e não são fatos de carnaval...),
Comprovamos uma vez mais que sim, o espaço é labiríntico, é impossível não nos perdermos lá dentro, e cada canto, cada esquina, tem algo para fotografar e mostrar.
Também devia haver lentes para a Canon, mas não tive tempo nem coragem de ir procurar e regatear.Acabamos por perguntar o significado daqueles fatos de mini-sultão que enchem algumas montras e que nos intrigaram porque já tínhamos visto alguns putos assim vestidos na rua (mais uma vez, não é carnaval...): é o fato da cerimónia de circuncisão, e existe em todos os tamanhos desde os 3 meses aos 11 anos de idade.
E foi ali, numa das saídas, enquanto ouvia os cânticos cruzados dos Muezzin e apreciava quase hipnotizada o movimento constante das ruas, que me lembrei do meu pai, e rezei para que ele soubesse como eu estava feliz.
Entramos no Bazar das Especiarias, onde os aromas e cheiros nos chegam às golfadas e as cores desafiam a imaginação, um festim para os sentidos, beleza pura que merece ser vivida.
Seguimos para a Nova Mesquita, junto à margem do Bósforo, onde um festival de pombos esvoaçantes fazem as delícias de miúdos que lhes atiram migalhas de pão (é claro que me passou pela cabeça a típica frase "se te cair alguma coisa em cima, dá graças a deus por as vacas não voarem...).
Fazemos a viagem de vapur pelo Bósforo até Kadiköi, o lado asiático de Istambul.
Só pela graça de pôr os pés na Ásia, porque o tempo não estica e o sol não espera por nós. Em ambas as margens nota-se que os turcos vivem o estreito de uma forma muito intensa, sentam-se em qualquer degrau em frente à margem, a comer, a namorar, a conviver.
Regressamos de barco e o pessoal dispersa-se entre banhos turcos, compras ou o regresso ao hotel para descansar um pouco. Prefiro aproveitar a luz deslumbrante do entardecer e continuo a fotografar, enquanto ouço um pouco mais de uma história errante mas completa, cheia de experiências de vida, algumas que poucas pessoas querem algum dia conhecer, outras que fazem a inveja de quem julga que há tanto mundo para descobrir. Diz-me que tem sorte, e eu respondo com a frase de um amigo "a sorte apanha-me sempre a fazer os trabalhos de casa".
Comprovamos uma vez mais que sim, o espaço é labiríntico, é impossível não nos perdermos lá dentro, e cada canto, cada esquina, tem algo para fotografar e mostrar.
Também devia haver lentes para a Canon, mas não tive tempo nem coragem de ir procurar e regatear.Acabamos por perguntar o significado daqueles fatos de mini-sultão que enchem algumas montras e que nos intrigaram porque já tínhamos visto alguns putos assim vestidos na rua (mais uma vez, não é carnaval...): é o fato da cerimónia de circuncisão, e existe em todos os tamanhos desde os 3 meses aos 11 anos de idade.
E foi ali, numa das saídas, enquanto ouvia os cânticos cruzados dos Muezzin e apreciava quase hipnotizada o movimento constante das ruas, que me lembrei do meu pai, e rezei para que ele soubesse como eu estava feliz.
Entramos no Bazar das Especiarias, onde os aromas e cheiros nos chegam às golfadas e as cores desafiam a imaginação, um festim para os sentidos, beleza pura que merece ser vivida.
Seguimos para a Nova Mesquita, junto à margem do Bósforo, onde um festival de pombos esvoaçantes fazem as delícias de miúdos que lhes atiram migalhas de pão (é claro que me passou pela cabeça a típica frase "se te cair alguma coisa em cima, dá graças a deus por as vacas não voarem...).
Fazemos a viagem de vapur pelo Bósforo até Kadiköi, o lado asiático de Istambul.
Só pela graça de pôr os pés na Ásia, porque o tempo não estica e o sol não espera por nós. Em ambas as margens nota-se que os turcos vivem o estreito de uma forma muito intensa, sentam-se em qualquer degrau em frente à margem, a comer, a namorar, a conviver.
Regressamos de barco e o pessoal dispersa-se entre banhos turcos, compras ou o regresso ao hotel para descansar um pouco. Prefiro aproveitar a luz deslumbrante do entardecer e continuo a fotografar, enquanto ouço um pouco mais de uma história errante mas completa, cheia de experiências de vida, algumas que poucas pessoas querem algum dia conhecer, outras que fazem a inveja de quem julga que há tanto mundo para descobrir. Diz-me que tem sorte, e eu respondo com a frase de um amigo "a sorte apanha-me sempre a fazer os trabalhos de casa".
sexta-feira, 11 de junho de 2010
A história
Começamos o dia pelos monumentos mais emblemáticos e com uma carga histórica secular : a Mesquita Azul e Aya Sophia.
Confesso que a Mesquita Azul foi uma desilusão, apesar da sua imponência e da profusa iluminação que realça ainda mais os mosaicos azuis que revestem o seu interior.
Senti-me claustrofóbica. Senti que aquele lugar de oração e recolhimento estava a ser completamente desrespeitado pelas ordas de turistas (eu incluída) que o ocupavam por completo e enchiam o espaço de um barulho ensurdecedor.
Aya Sophia, pelo contrário, reacendeu a minha vontade de captar cada pormenor e absorver a cor de cada painel de mosaicos. Construída como igreja cristã, depois mesquita, hoje aberta ao
público como símbolo de união de crenças e com uma carga histórica que se percebe instantaneamente, e que nem o facto de um terço do edifício estar em obras faz apagar.
Entre ambas, o jardim que é o cartão postal da cidade.
A Cisterna da Basílica foi o desafio de conseguir fotografar na penumbra do enorme reservatório subterrâneo de água, em manual e sem tripé. São 336 colunas com 8 metros de altura casa uma, fracamente iluminadas com focos de luz vermelha, que puseram à prova as minhas recentemente adquiridas capacidades de trabalhar com a abertura de lente e o tempo de exposição. O ambiente é húmido e quente. Do tecto caem gotas de água. E na água os peixes misturam-se com as moedas que os turistas atiram para o fundo.
Voltamos a atravessar a ponte e notamos claramente o contraste entre as fachadas dos prédios bem conservadas, pintadas de cores suaves ou garridas e com janelas realçadas de formas rebuscadas dos pequenos hotéis de charme de Sultanahmeth (um foco de distracção para mim, que em vez de olhar em frente à procura de rostos e temas de reportagem, ando desde o primeiro dia de nariz no ar), e os prédios mais degradados ou votados ao abandono, feios, que tornam a outra margem do Corno de Ouro mais cinzenta e mais triste.
Subimos à Torre Galáta para uma vista a 360º da cidade, de um lado os sítios onde estivémos de manhã, do outro a Ásia, num aglomerado maciço de edifícios cortados pelos dois cursos de água e fervilhante de actividade.
Conseguimos em cima da hora bilhetes para assistir a um verdadeiro espectáculo dos Dervixes. Pode ser uma desilusão para quem vai à espera do folclore habitual (que também já vi, muito mais rápido e com música animada). Mas se pensarmos que estes verdadeiros sufis são capazes de manter a rotação durante mais de meia hora, e de seguida parar repentinamente sem dar sequer um passo para o lado (e sem caírem para o chão), compreende-se todo o cerimonial envolvido e a concentração necessária.
Próxima paragem: Praça Taksim e daí pela Istiklal Caddesi à procura de um restaurante para jantar. O ambiente nas ruas é alucinante, surreal, Bairro Alto multiplicado e estendido até ao
limite do impensável. Nenhuma palavra ou imagem que eu coloque aqui vai descrever com exactidão a massa humana que enche aquela avenida em todos os sentidos, o barulho que brota das conversas, que sai das portas dos bares, das luzes das montras iluminadas, ou do eléctrico que é o único veículo que rompe aquela enchente, com o seu grupo a tocar ao vivo uma música animada.
Apanhar táxi é um pesadelo, eles não sabem as moradas para onde vão, eles entram em sentidos proibidos, eles fazem inversão de sentido de marcha em qualquer rua... eles são completamente passados. Mas a verdade é que chegamos todos inteiros, e com uma história para contar aos netos.
Senti-me claustrofóbica. Senti que aquele lugar de oração e recolhimento estava a ser completamente desrespeitado pelas ordas de turistas (eu incluída) que o ocupavam por completo e enchiam o espaço de um barulho ensurdecedor.
Aya Sophia, pelo contrário, reacendeu a minha vontade de captar cada pormenor e absorver a cor de cada painel de mosaicos. Construída como igreja cristã, depois mesquita, hoje aberta ao
público como símbolo de união de crenças e com uma carga histórica que se percebe instantaneamente, e que nem o facto de um terço do edifício estar em obras faz apagar.
Entre ambas, o jardim que é o cartão postal da cidade.
A Cisterna da Basílica foi o desafio de conseguir fotografar na penumbra do enorme reservatório subterrâneo de água, em manual e sem tripé. São 336 colunas com 8 metros de altura casa uma, fracamente iluminadas com focos de luz vermelha, que puseram à prova as minhas recentemente adquiridas capacidades de trabalhar com a abertura de lente e o tempo de exposição. O ambiente é húmido e quente. Do tecto caem gotas de água. E na água os peixes misturam-se com as moedas que os turistas atiram para o fundo.
Voltamos a atravessar a ponte e notamos claramente o contraste entre as fachadas dos prédios bem conservadas, pintadas de cores suaves ou garridas e com janelas realçadas de formas rebuscadas dos pequenos hotéis de charme de Sultanahmeth (um foco de distracção para mim, que em vez de olhar em frente à procura de rostos e temas de reportagem, ando desde o primeiro dia de nariz no ar), e os prédios mais degradados ou votados ao abandono, feios, que tornam a outra margem do Corno de Ouro mais cinzenta e mais triste.
Subimos à Torre Galáta para uma vista a 360º da cidade, de um lado os sítios onde estivémos de manhã, do outro a Ásia, num aglomerado maciço de edifícios cortados pelos dois cursos de água e fervilhante de actividade.
Conseguimos em cima da hora bilhetes para assistir a um verdadeiro espectáculo dos Dervixes. Pode ser uma desilusão para quem vai à espera do folclore habitual (que também já vi, muito mais rápido e com música animada). Mas se pensarmos que estes verdadeiros sufis são capazes de manter a rotação durante mais de meia hora, e de seguida parar repentinamente sem dar sequer um passo para o lado (e sem caírem para o chão), compreende-se todo o cerimonial envolvido e a concentração necessária.
Próxima paragem: Praça Taksim e daí pela Istiklal Caddesi à procura de um restaurante para jantar. O ambiente nas ruas é alucinante, surreal, Bairro Alto multiplicado e estendido até ao
limite do impensável. Nenhuma palavra ou imagem que eu coloque aqui vai descrever com exactidão a massa humana que enche aquela avenida em todos os sentidos, o barulho que brota das conversas, que sai das portas dos bares, das luzes das montras iluminadas, ou do eléctrico que é o único veículo que rompe aquela enchente, com o seu grupo a tocar ao vivo uma música animada.
Apanhar táxi é um pesadelo, eles não sabem as moradas para onde vão, eles entram em sentidos proibidos, eles fazem inversão de sentido de marcha em qualquer rua... eles são completamente passados. Mas a verdade é que chegamos todos inteiros, e com uma história para contar aos netos.
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