quarta-feira, 2 de março de 2011

Qualidade de vida (II)

Qualidade de vida não é só morar perto do local de trabalho. Hoje descobri que ter uma mãe a 5 minutos de distância também. É claro que depende da mãe. Estou a falar da minha. Da mãe que não é intrometida. Que, desde que veio morar para cá, ainda só entrou cá em casa uma vez, e tive de ser eu a trazê-la para almoçar. Que só telefona para perguntar se eu quero que ela me passe a roupa a ferro (recuso sempre, não quero, não foi para isso que a quis perto de mim). E para saber se estamos bem. Como hoje. Porque tinha lido o meu horóscopo numa revista qualquer, e dizia (a Maya) que eu andava muito cansada. Mãe sente. A minha parece um radar. Telefonou-me no exacto momento em que metia a chave na porta do carro. No estacionamento vazio e às escuras (tristeza, nem a merda dos holofotes deixam ligados a noite toda...). Perguntei-lhe se tinha sopa. Fez-me esparguete com novilho. Abraçou o farrapo que sou todas as noites, neste último mês (já só faltam quatro...). Respirei fundo. Remexi no saco de tecidos que servem para todos os remendos. Escolhi dois quadrados de veludo preto para forrar dossiers cheios de fotos e recortes e bilhetes. E assim poder chamar-lhes albuns de recordações. Escolhi mais dois pedaços de tecido em tons de azul e branco, com quadrados sobrepostos a lembrar os desenhos que fazia nos cantos das folhas dos cadernos na escola. Eram de uma almofada gigante que tinha no meu quarto de adolescente, tipo puff para me espojar no chão. Tenho uma ideia do que gostaría de fazer com eles. Não posso. Ainda não. Quando? (Já passaram três meses?) Por fim, pego num bocado amachucado de tule creme com flores de missangas aplicadas. Não quero o tule para nada, mas gostei das flores. Vão transformar uma t-shirt branca sem graça. Ou ser um gancho para o cabelo. Ou uma pulseira.
Qualidade de vida (também) é ter alguém que nos receba (sempre) com um sorriso.

5 comentários:

  1. Não há nada que se compare a estar com "as nossas pessoas"

    ResponderEliminar
  2. M, e durante anos não tive essa sorte. Agora quero recuperar o tempo perdido :)

    ResponderEliminar
  3. Mildness, isto é apreciar as pequenas alegrias de cada dia :)

    ResponderEliminar
  4. Eu também tento fazer esse exercício, reflectir sobre as pequenas coisas que tornam o meu dia 'gostoso' e pensar na sorte que tenho de que esses pormenores existam e me façam feliz.
    Acho que a maioria das pessoas anda desatenta das melhores coisas que a vida nos pode oferecer, fora do contexto da sociedade em que vivemos... todas aquelas coisas para as quais ainda não pagamos imposto e que são tão simples de ter, basta querer =) *

    ResponderEliminar