sexta-feira, 25 de março de 2011

Oferecer emoção

Tinha isto planeado há um mês, fiz a reserva no Casino, jantar + espectáculo, e disse-lhe que tinha de estar em casa às 6 horas, para não nos atrasarmos. Não se atrasou, mas entrou esbaforido a dizer que tinha acabado de chegar da reunião em Lisboa (f#$"%%&, é preciso ter sorte, há quase um ano que não tinha um compromisso tão longe, tinha de ser logo hoje..).
- Mas não foste com colegas? Vieste tu a conduzir?
- Fui, mas eu conduzo melhor do que eles...
(Haá-des ganhar muitos amigos assim, há-des...)
 Quando lhe disse que a ideia era voltar para Lisboa, suspirou fundo, e eu rezei a todos os santinhos para que a noite corresse bem, para que ele não sentisse que tinha preferido ficar em casa.

Mesmo assim chegámos um pouco atrasados, ficámos sentados entre dois casais de terceira idade, daqueles que passam o jantar inteiro sem trocar uma palavra ("promete-me que não vamos ficar assim quando formos velhos"...), o que não nos impediu de conversar o que nos apeteceu, saborear uma garrafa de vinho, receber um sms a dizer "a tua mulher é uma fofa" (esta fica para a história) e analisar "estas mulheres cheias de reboco, que já estão mortas e ainda não sabem, mal se aguentam em pé quanto mais em cima de saltos altos, têm ar de quem preferia estar em casa a beber chá e a ver a novela, do que aqui" (o sarcasmo caústico dele piora sempre no dia do aniversário...).

Entretanto começou o espectáculo. E 5 minutos depois soube que tinha feito uma boa escolha. Vi-o comovido. Aproveitei que um dos casais tinha mudado de mesa (não por nossa causa, atenção, mas para ficar mais perto do palco) e mudei sorrateiramente para a cadeira atrás dele. Para poder envolvê-lo com os meus braços. Fascinada com o fado que sempre disse que não me fascinava. Ouvir Liana a cantar Hermínia Silva levou-me às lágrimas (outra vez). Foi por isto que voltei, este momento em que aquela voz é maior que a sala, uma sala vazia, não há ninguém, nem espectadores nem empregados de mesa atarefados, só aquela voz e a emoção que transmite, isto é o fado, o coração na boca, nas mãos, fora de nós, o sentir cantado que nos define (tão bem).

Liana
"Fado da Despedida (Lisboa foi meu fado)"






Sem comentários:

Enviar um comentário