O que é que uma pessoa faz num sábado cinzento e chuvoso? Ficar a ronhar na cama até lhe doerem todos os músculos do corpo? Pijamar no sofá enrolada numa manta a ver filmes uns atrás dos outros enquanto devora um balde de pipocas? Qualquê, vai à procura de lama, pois claro!
O C. prometeu e cumpriu, e fomos com eles para o que devia ser um passeio turístico pela lezíria.
Quem passava na estrada nacional no Carregado devia pensar que havia alguma campanha especial de liquidação de stocks, todos alinhados antes de iniciar o percurso de 30 km com navegação por roadbook (uma novidade para mim, mas que ele já conhecia do Lés-a-Lés).
A hora e meia que demorou a inscrição dos mais de 130 jipes ainda deu para passar pelas brasas depois do almoço, e mesmo com "pneuzinhos de ir ao morango" fizémos o mesmo que os outros, excepto as escapatórias radicais, que com a lama acumulada eram proibitivas até para alguns audazes e artilhados.
Mesmo assim não escapámos a troços onde os sulcos cravados eram tão fundos que o jipe roçava com a "barriga" no chão, e os pneus escorregavam como se estivéssemos a andar em cima de óleo, e a traseira dançava e sacudia, enquanto eu agarrava com força a pega por cima da porta e ele manobrava com força e engenho o volante, impedindo-nos de bater numa árvore ou resvalar para dentro de uma vala.
A paragem para o lanche numa tenda montada na margem de uma lagoa (não sei o nome, infelizmente, mas é um lugar espectacular) foi rápida, e não deu para apreciar devidamente a paisagem à nossa volta, que era belíssima apesar das cores pálidas pela chuva miudinha que não parou de cair durante toda a tarde. Ao ver as sandes e miniaturas de bolos de pastelaria em cima das mesas não pude deixar de fazer uma comparação com o Gavião (os alentejanos tratam-se muito melhor).
Na segunda parte do percurso fui controlando melhor a adrenalina misturada com receio, não pela perícia do condutor, mas sim pelos pneus nada apropriados para estes delírios; e foi muito bom sentir o cheiro a terra molhada e a eucaliptos (quando podia abrir um pouco a janela sem o risco de levar com salpicos de lama na testa), e apreciar as quintas com os seus campos de vinhas e rebanhos...
... e os campos de relva brilhante a perder de vista, onde só me apetecia desatar a correr de braços abertos...
No final do dia, depois de termos acabado entre os primeiros lugares (sempre em equipa), de termos jantado rapidamente (não se pode esperar que a comida seja boa quando é feita para 300 pessoas), a tempo de ainda ver chegar os últimos jipes (a reboque), e de termos preferido (e com toda a razão) um chá e um filme ao karaoke, posso afirmar com convicção que prefiro lama do que pó (e a seguir é areia...).
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