Tinha tudo a postos para arrancarmos assim que ele chegasse do trabalho, foi só carregar o jipe com doces, bolo e garrafas de vinho e espumante e ir devagar, porque continuo a ter um medo irracional de viajar de carro nesta altura do ano, ninguém devia morrer nesta época festiva, muito menos devido a estúpidos acidentes rodoviários, é uma memória triste que perdura no tempo, uma marca gravada a ferros que não deixa que o Natal seja vivido na sua plenitude, uma perda que se sente todos os anos (sei do que falo, no dia 21 de Dezembro fez 20 anos que a minha tia faleceu).
Chegámos a casa da mãe ao final da tarde, debaixo de chuva interminável, e depois de um beijo rápido à avó e ao D. enfiado no quarto a jogar com um amigo, seguimos para a esplanada da taberna da Ti Maria, onde o resto do pessoal está desde as 4 da tarde: o N., a C. gravidíssima, o meu primo F. e a namorada (porra, eu andei com aquele puto ao colo, agora tem barba...).
À hora do jantar rumámos a casa, entrámos de rompante com uma algazarra descomunal, atacámos as travessas de arroz doce que cobriam a mesa da cozinha e encharcámos os sonhos de abóbora com todo o açucar e canela que apanhámos a jeito, enquanto ele vai à socapa abrir a porta da sala onde as duas cadelas estavam fechadas (e sossegadas), só para vê-las a fugir pela casa para não serem agarradas e abanadas sem piedade pelos putos tresloucados, como acontecia há 15 anos atrás na casa da minha avó.
Cada um sai para se juntar à sua família na mesa da Consoada, o F. com o pai e o irmão, o N. em casa dos sogros, ficamos só nós os dois com a mãe e a avó, bacalhau à lagareiro como o meu pai fazia, e uma garrafa de vinho tinto que pôs a minha mãe a rir mais do que a conta.
Regressámos a nossa casa às 2 da manhã, sempre debaixo de chuva intensa, com o carro mais carregado do que antes, mas com o coração sereno e apaziguado.
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