terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Encerrar o assunto

Tenho de escrever isto para ver se consigo arrumá-lo a um canto, pelo menos durante os próximos meses, foi isso que a médica me disse (não para escrever, claro, mas para pôr de lado, pensar noutras coisas, blá blá blá). Foi só quando ouvi da boca dela a frase sacramental "Você ainda é nova, se já tivesse 40 anos eu não sugeria uma pausa, mas você tem tempo." é que me caiu a ficha e consegui ordenar o pensamento e pôr por palavras este medo da passagem do tempo. EU NÃO QUERO SER UMA MÃE COM 40 ANOS. Eu comecei a pensar em ter filhos aos 25. Queria ser uma mãe jovem, descontraída, com alegria para dar ao filho, com tempo e paciência para brincar com ele, deixá-lo sentar-se nas costas do sofá, encavalitado nas minhas costas, a "pentear-me" o cabelo durante horas, como a minha mãe fazia connosco. Uma mãe de ténis, que vai com os filhos para a discoteca e fica no bar a beber copos, sem os envergonhar na pista. Vou fazer isso com 60 anos, é? Toda a gente me diz que eu ainda sou nova, mas já ando a ouvir isso há mais de 5 anos. E estou na mesma. E o tempo vai passando. Até quando é que me vão considerar "nova"?
E não me venham com merdas, não é a mesma coisa ser mãe aos 20 ou aos 40. Não é a mesma coisa pensar em engravidar aos 30, ir ao médico, fazer tudo como deve de ser, ficar grávida naturalmente passados dois ou três meses,  ter uma gravidez normalíssima, sem stresses, e ter essa benção imensa sem esforço, sem pensar muito nisso. Eu vivo com esta realidade todos os dias. Vejo-a a crescer numa barriga redonda, lindíssima, da grávida mais bonita que alguma vez conheci, a minha colega de escritório. Fico maravilhada a olhar para a barriga dela. Foi tão fácil. Como devia ser sempre. Eu não vou ser assim. Mesmo que por obra divina eu engravidasse naturalmente (ou por obra médica, pelos vistos nem duma maneira nem da outra) , tenho medo que não ser capaz de levar as coisas com tanta leveza. A descontração perdeu-se. Um filho que consiga ter será sempre um tesouro insubstituível, fruto de um esforço sobrehumano, e a tendência será para protegê-lo em demasia, e morrer de pânico só de pensar que alguma mal lhe possa acontecer. Tenho medo de me preocupar exageradamente, andar sempre stressada, não saber aproveitar o meu bebé sem estar sempre a pensar se estou a fazer alguma coisa mal, sem estar sempre a culpar-me por (todas, tantas) falhas que vou cometer. E eu não queria ser assim. Ser tanto assim.

7 comentários:

  1. Tenho que te responder a isto com calma. Esta's a dizer muitos disparates que nunca vao acontecer contigo, nao com o teu espirito.

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  2. Fico sempre speechless quando escreves sobre isto...

    *hug*

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  3. Dondoca, eu conheço-me. Posso estar a exagerar, mas sei que já não sou a mesma pessoa que era há 5 anos, e muito menos a que serei daqui a outros 5. Perdi muita da alegria neste caminho de espinhos.

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    Obrigado

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  4. Rosita,

    Em primeiro lugar, acredita em ti e olha para dentro de ti. Procura-te...

    Tu sabes onde moro, por isso, quando quiseres vem até ao centro, conhecer a minha/nossa história sobre a V....
    Quem sabe, fiques mais serena :D

    Um abraço amigo

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  5. Dejalo, obrigado pelas tuas palavras e pelo convite. Mais do que ninguém, saberás do que falo (o medo da perda, nem consigo imaginar) e como a benção de vida que tens ao colo mudou a tua vida.

    Um abraço apertado

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  6. É costume dizer-se que pimenta no cú dos outros,para mim é refresco...por isso fico queda e muda no meu canto.Por mais que imagine a dor e a tristeza que sentes,nunca a vou "saber" realmente.
    Deixo-te uma abraço com muito carinho,um beijo cheio de ternura e um sorriso de alento.

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