quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Momento (CXXV)

A minha peça de mobília (também conhecida por Paula) já não dorme cá em casa mas vem chamar-me às 10 da noite para fumar cigarros na escada do prédio. Enquanto as duas cadelas de olhos pedinchões nos lambem a cara, as mãos e as costas. Traz saquinhos de chá verde dos Açores e desculpa-me os silêncios da dor de pescoço que mói sem dar tréguas há dois dias. Pedi quase em pranto para me arrancarem o emplastro assassino passado uma hora de o terem aplicado (12 horas com aquilo a queimar-me a pele e a inflamar-me o sistema nervoso central sem piedade?! Prefiro as dores!), massajo a zona com gel o dobro das vezes que a farmacêutica indicou, e nada. Ela começa a falar-me em ruptura muscular e em fisioterapia. Eu penso que está cada vez mais louca. Ouço-lhe os medos sobre o futuro, e asseguro-lhe que vai correr tudo bem (corre sempre, ela é que ainda não sabe). Recordamos o último verão e fazemos planos para o próximo. Temos saudades da praia.

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