sábado, 14 de agosto de 2010

Dia longo

Isto de acordar de madrugada tem as suas vantagens (poucas, mas tem). Vi o mais impressionante nascer do sol enquanto atravessava a ponte, o céu a incendiar-se de rosas, roxos e laranjas e as sombras da outra ponte a espalharem-se pela água (e eu a lembrar-me da célebre frase "a fotografia memorável é sempre aquela que não tirámos"...).
Abracei a MJ e rezei para que aguente mais este embate num ano que para ela será sempre recordado como maldito. Não disse nada. Nem que "foi melhor assim, já estava a sofrer muito", "nem força, agora tens de pensar nos teus filhos" nem "se precisares de alguma coisa, eu estou aqui para ti". Tudo verdade. Tudo inútil numa altura destas, aprendi da pior forma. Abracei-a, afaguei-lhe as mãos, olhei-a nos olhos, ouvi-a. Ela compreendeu.
Regressei a casa a puxar pelo DJ mais do que ele está habituado, banho rápido e almoço a correr porque o pessoal tinha combinado uma ida à Feira Medieval de Aljubarrota. Desta vez fomos todos, C. e C., V. e C., V. e R., e assim que a coisa começou - com um carro a deslizar suavemente para o meio da estrada (chama-se "poupar o travão de mão") - eu soube que ía ser do melhor.
E foi. Com cerveja fresca e muita conversa. Música ambiente e trajes coloridos. Cheiros de porco no espeto ou de cristais com óleos para a casa. Ruas engalanadas e pessoas bem-dispostas e prestáveis.






Eles agarraram-se como lapas à barraquinha do faqueiro (não sei se é assim que se chama, mas se faz facas, deve ser faqueiro...), e passados dez minutos já andavam lá dentro, de avental vestido, a controlar o fogo na forja e a bater ferro (eu sei que não é ferro, é aço...). Passaram a tarde toda nisto, entre rodadas de canecas de barro (coitado do faqueiro, ao final do dia os olhinhos dele não enganavam ninguém...) e ganas de fazer algo que se parecesse minimamente com uma faca.

Nós? Passeámos sem pressa. Espreitámos as barraquinhas todas. Sentámo-nos em toros de madeira com fardos de palha a servir de mesa de apoio, a falar sobre tudo o que nenhum gajo quer ouvir (e nem foi preciso falar mal deles), fizémos tatuagens de henna só pela piada, dissertámos sobre os filhos que nenhuma de nós tem, numa conversa que devia ter ficado gravada para nos ser atirada à cara daqui a uns anos (podemos não cometer os mesmos erros, mas vamos cometer outros tantos, de certeza).



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