Centenas e centenas de bicicletas (perdi a conta às vezes que ía sendo atropelada, e não deve ser nada agradável, que a maioria delas é velha e ferrugenta...), as coffe-shops de onde exala um aroma a ganza que até assusta, as casas flutuantes com os seus alpendres bem decorados, com direito a nº de porta e vasos à entrada, os prédios de janelas amplas (sem cortinas, a seduzir os olhares alheios).
Os holandeses são descontraídos e giros, giros mesmo, no sentido vale-a-pena-olhar-segunda-vez. As raparigas e mulheres que passam velozes nas suas bicicletas são muito bonitas, com um ar descontraído mas cuidado e cheias de estilo. Ficou-me uma frase que li numa reportagem da Rotas & Destinos (a minha consulta obrigatória antes de cada viagem): "São um povo de piratas (...) todos se estão nas tintas para o que vais fazer a seguir... desde que não te atravesses à frente da bicicleta ou digas mal do Ajax.". Enchem as esplanadas e a relva dos parques públicos ao mínimo raio de sol no horizonte, e é um deleite ficar a observá-los, distrair as vistas sentada numa esplanada com um copo de cerveja na mão (cara, aqui o preço das bebidas é disparatado, 4 euros por uma imperial ou por um café e uma água...)
A cidade é fácil de perceber, até para um ser desprovido de sentido de orientação como eu, tudo parece estar a um passo de distância, e os canais e edifícios estreitos e baixos (raramente têm mais de 3 andares) dão-lhe um charme distinto.
As janelas altas e propositadamente despidas de cortinas ou estores são um convite escandaloso e irrecusável ao lado voyerista de cada um. Ainda por cima fazem questão de demonstrar o bom gosto que têm também na decoração, com vislumbres de um cadeirão de pele, um lustre no tecto, ou uma estante a abarrotar de livros, que me deixavam sempre a imaginar como seríam as pessoas que habitavam aquele lugar. Provavelmente um jovem casal multi-racial, com um filho pequeno cuja beleza foi enriquecida pela mistura de genes dos pais (vi vários nas ruas, aliás, as ruas eram uma mistura alegre mas pacífica de pessoas de todas as raças e idades). O mesmo bom gosto que se espelhava em cada montra, fosse uma mercearia de produtos gourmet, uma lojinha de antiguidades ou um armazém de souvenires com vacas penduradas no tecto.
Passamos em frente à Mellow Yellow (uma das primeiras, senão a primeira coffe-shop) e o cheiro que sai daquela porta era o suficiente para me deixar nas nuvens se tivesse ficado por ali mais 10 minutos, isto depois de andarmos hora e meia à procura de hotel, por causa da feira está tudo cheio (mania de ir sem reservas antecipadas...). Finalmente lá conseguimos dois hotéis na mesma rua de um bairro residencial junto à fábrica da Heineken (tão sossegado que tinha crianças a brincar despreocupadamente no meio da estrada), cada um com 1 quarto vago. Escolho o que tem um aspecto mais actual e legalise, mas não deixa de ser um hotel antigo, com as suas escadas íngremes (os degraus não tinham largura suficiente para colocar o pé todo...) e corredores apertados, e não me safo de um quarto minúsculo no último andar, sem casa de banho privada (o wc era a meio do corredor, o chuveiro era no andar de baixo!!) onde a cama ocupava metade do espaço encostada a 3 das 4 paredes do cubículo (e isto não sou eu a exagerar...). Tinha a regalia de poder estar deitada com o nariz colado ao vidro da janela, a espreitar indiscretamente o movimento lá em baixo, e a vida dos habitantes das janelas do prédio em frente. Mas acho que nunca dormi tão bem num quarto de hotel (o Lusitano não conta para esta votação, está num campeonato diferente, tipo Liga de Honra).
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