Durante a Expo98 o meu pai foi destacado para trabalhar no recinto, e naqueles meses teve acesso privilegiado a todo um mundo de cultura, conhecimento e espetáculo que a maioria das pessoas via a correr, com um bilhete de um dia ou o passe de três dias na mão. O meu pai, homem sisudo pelas voltas que a vida lhe deu e pouco dado a demonstrações de afeto, coleccionou todos os pins de todos os pavilhões e de todas as marcas que encontrou, para me dar, para eu pôr na capa negra emprestada que íria usar na minha benção das pastas nesse ano, em que acabava o bacharelato e ainda não tinha a certeza se o curso ía passar a licenciatura (passou, e eu passei mais dois anos a queimar pestanas). Não me esqueço do olhar de felicidade comovida quando me viu toda vestida de negro, com a capa cheia de pins coloridos ao ombro; o orgulho pela sua menina, a primeira pessoa da família a ter um curso superior; o sonho de vê-la chegar mais alto, mais longe.
Ontem, a remexer numa caixa cheia de botões encontrei um desses pins, e em vez de juntá-lo aos outros que estão religiosamente guardados numa caixa com as fitas verdes escritas pela família e amigos, preguei-o no casaco de ganga de Peter Pan, aquele que ele aponta e escolhe todas as manhãs antes de sair de casa ("não é exe, é o ôto").
(Queria tanto que visses como ele está crescido...)
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