sábado, 2 de agosto de 2014

O casamento da minha melhor amiga

Comecei a trabalhar com quinze anos, a servir à mesa num restaurante. Sábados, domingos, feriados, férias, passagens de ano e dias de Natal. Durante mais de seis anos. Foi assim que paguei as roupas e o tabaco, a carta de condução e as noitadas de copos e discoteca, o curso superior e o meu primeiro carro. E todos os anos, a partir de Maio até ao final de Setembro, servíamos casamentos naquele espaço. Pelo menos um por fim-de-semana (chegaram a ser três). Vi de tudo o que se possa imaginar, desde a noiva ainda bêbada da noite anterior até ao casal que convidou só vinte pessoas e passaram o jantar todo em silêncio como se estivessem num velório. Talvez por isso a minha ideia de casamento foi sendo desmistificada e quando chegou "a minha vez" não lhe dei assim tanta importância. E também por isso recuso quase todos os convites para ir a casamentos de outros. A sério, qual o sentido de ir ao casamento de um primo que não vejo há mais de cinco anos? Só porque é da família? Não me lixem, não tenho paciência, já vi demasiados, é sempre mais do mesmo...
Mas depois há amigos que são mais do que família. Que vimos crescer nos últimos dez anos. Que nos conhecem melhor do que qualquer primo. Com quem partilhámos lágrimas de tristeza e gargalhadas de pura parvoíce. Foi a nós que ela contou que ía sair com ele pela primeira vez. Foi à nossa mesa, entre garrafas de vinho e fatias de pão e queijo, que fomos acalmando medos de (mais uma) desilusão e dando palavras de incentivo para que não fechasse a porta ao Amor, o tal em que ela já não acreditava. A Paula é a irmã que não tive, o porto seguro onde sei que posso voltar sempre que precisar, a alegria contagiante que equilibra a minha reserva natural em "abrir-me" com os outros. O casamento dela era sagrado, nem que fosse no Burkina Faso ou na Islândia. Não perdia este dia por nada do mundo.
E aqui faltam-me as palavras, porque como li há dias "a felicidade não é nada inspiradora", e tudo o que eu disser vai soar a cliché apesar de ser a mais sincera das verdades: a noiva estava deslumbrante e ninguém diría que o vestido (e as meias cor de pele com a barra branca, que não encontrávamos em lado nenhum e eu jurava que não existiam) foi comprado pela net, e o noivo era das pessoas mais comovidas, e basta ver a forma como ele olha para ela, um misto de carinho e paixão, para saber que aquilo é amor verdadeiro, é a felicidade de quem acredita que encontrou a mulher da sua vida. A cerimónia no estádio  e o copo-de-água foram simples e elegantes, tal como eles queriam, com apontamentos cheios de simbolismo, como os balões brancos e azuis que foram largados ao vento quando eles disseram o "Sim", a coreografia que as amigas da noiva ensaiaram já para o final da noite, ou o quadro que o noivo ofereceu ao pai, entre lágrimas de orgulho e admiração. Só Peter Pan não colaborou, fez uma birra imensa porque queria um balão, e na altura de entregar a bola das alianças... não quis ir sozinho.
Mesmo para nós foi um dia único e especial, padrinhos de casamento pela primeira (e talvez única) vez, pudémos partilhar este momento de felicidade de uma das pessoas que nos é mais querida, a família que escolhemos e acarinhamos e a quem desejamos o mesmo que queremos para nós: que sejam felizes para sempre.







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