Nas férias da ama do Peter Pan tivémos de procurar uma alternativa para deixá-lo durante o dia, porque por muito que nos apetecesse ter também cinco semanas de férias seguidas, isso é um daqueles delírios a que o meu boss não ía achar muita piada. Assim, encontrámos um infantário na zona, aberto todo o ano com horário alargado (das sete da manhã às oito da noite, finalmente alguma alma inteligente que se lembrou que os pais saem do trabalho às seis da tarde, na melhor das hipóteses, por isso começar a cobrar tempo excepcional a partir das cinco e meia é só chico-espertismo e ganância), fomos ver as instalações, falar com a diretora, fazer as perguntas todas, e decidimos que sim, que o nosso pequeno tesouro ficava bem entregue. Só que durante as três semanas em que lá esteve, todos os quinze dias úteis, Peter Pan ficou a chorar de manhã, ao colo de uma educadora que me dizia "até a chorar, a gente se derrete com ele". Mas nenhuma palavra de ânimo me fazia sentir melhor, ficava atrás da porta à espera até ouvir o choro parar quando ele finalmente se distraía com os outros meninos (eram só uns minutos, mas parecia-me uma eternidade), ía trabalhar com o coração apertado (e nos primeiros dias, com uma aflição a resvalar para a náusea), e ía buscá-lo à tarde com um sentimento de culpa imenso, mesmo sabendo que era natural este período de adaptação a uma realidade diferente da que ele conhecia desde que tinha memórias.
O alívio que senti no dia em que nos despedimos das educadoras (apesar de terem sido umas queridas, e de termos a certeza que trataram dele com todo o cuidado e atenção) foi quase tanto como aquele que senti esta manhã quando vi Peter Pan abrir os braços para ir para o colo da ama. Choramingou uns segundos quando a porta se fechou e deixou de me ver, mas foram mesmo só uns segundos, até eu ouvir os seus passos a ir para ao pé dos outros meninos. Mais tarde a ama mandou-me mensagem para me descansar, ele estava feliz da vida, lembrava-se do nome dos amiguinhos todos e não esqueceu as rotinas "quando chamei para a bolacha, foi o primeiro a correr para a cozinha e a sentar-se no chão, à espera".
* Ou ver a vida a voltar ao seu ritmo
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