domingo, 30 de junho de 2013

O melhor do fim de semana (XIX)

Ontem Peter Pan bateu palminhas pela primeira vez. À frente dos avós. Ontem foi dia de família. Aliás, todo o fim de semana foi de família. À tarde a avó e a bisavó que só faltou babarem-se para cima dele. O avô também veio fazer uma visita e Peter Pan espalhou simpatia e sorrisos e gracinhas por todo o lado. É brutal a diferença que notámos no estado de espírito dele desde que veio do hospital. Desde que ficou bom de uma infecção que já andava a consumi-lo há vários dias, julgamos nós agora, porque na altura confundimos os sintomas com mais algum dente a rebentar. Mas a verdade é que andava irritadiço e não queria ir ao colo de ninguém, completamente o oposto deste bebé vivaço e alegre que ontem e hoje deixou todos ainda mais embevecidos de tão bem disposto.

Hoje baptizámos a minha sobrinha e afilhada do coração. Levantei-me às 6 e meia da manhã, arranjei-me e comecei a fazer algum barulho pela casa para ir acordando o gorducho. Nada. Nem um movimento. Abri o estore do quarto dele para deixar entrar claridade. Nada, nem um suspiro. Só passados uns minutos se espreguiçou e abriu os olhos. Custou-me tanto ter de acordá-lo. Enquanto lhe mudava a fralda ele descobriu pela primeira vez a pilinha, e assim esteve a mexer com um sorriso escaqueirado na cara (homens...). Vesti-lhe a camisa branca de linho e as calças cremes com uns suspensórios camel, da cor dos mocassins de pele comprados quando ainda chovia e parecia que o verão tinha emigrado (o que também não fez grande diferença porque quando saímos de casa um dos sapatos já ía na boca dele, e quando entrou na igreja já ía descalço).
Fomos os primeiros a chegar a casa do meu irmão, esperámos pelo fotógrafo para as habituais fotos da madrinha (eu) a vestir a menina, vestido branco com flores azul-acinzentado, um laço prateado e uma saia rodada e farfalhuda. Um pequeno gancho no cabelo com uma flor igual às do vestido, só para realçar os caracóis castanhos. Uma verdadeira princesa em miniatura.
Seguimos para a igreja e entrámos quase no fim da missa (primeira "barraca": supostamente devíamos ter assistido a tudo desde o início). Quando acabou e vi o padre a sair pela porta virei-me para o N. e sussurrei "Então o padre vai embora? Não baptiza a miúda?". Eu juro que falei baixinho, mas uma beata sentada à nossa frente voltou-se e esclareceu logo o que o Sr. Padre já vinha (segunda barraca). Voluntariei-me para ir ler uma passagem da Bíblia, o salmo 23, e quando cheguei à parte do "Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, nada temerei", só me lembrava dos filmes e de como esta frase é usada sempre nos funerais. Estava tanto calor abafado dentro da Igreja que a L. nem chorou quando lhe despejaram a água benta na cabeça, pelo contrário, soltou um suspiro de alívio e pediu mais. Para terminar em beleza, quando chegou a altura de rezarmos o Pai Nosso, Peter Pan desata a gritar como se estivesse possuído.
O almoço foi mais um convívio e um reencontro, uma das raras ocasiões felizes em que conseguimos reunir a nossa família toda (porque é que as pessoas só se juntam todas nos funerais? - e porque é que já é a segunda vez que penso nisto num dia que devia ser só feliz? Faltaste tu... só faltaste tu. Mas viste como a tua menina estava linda?), e só o facto de estarmos numa sala fresca quando lá fora marcavam perto de 40º já era motivo suficiente para nos deixarmos ficar na conversa com os primos (gostei da namorada do R....). Peter Pan tinha dormido meia hora de manhã, até chegarmos a Lisboa, e só foi vencido pelo cansaço às 5 e meia da tarde. Até lá esteve completamente em altas, ria, andava de colo em colo, palrava e soltava gritinhos de satisfação, pegou pela primeira vez num biberão com as suas mãos rechonchudas e bebeu sozinho. Achou tanta piada que acabou por beber um biberão cheio de água (metade natural, metade fresca, já vimos que ele prefere as coisas mais frias do que quentes, até o leite deixei de aquecer), coisa nunca vista. Eu fiquei histérica de tanta alegria por mais uma descoberta do meu coração.
Chegámos a casa estourados e peganhentos e a sonhar com um banho. Não descansámos nada este fim de semana. Só me apetecia ligar amanhã para o escritório e dizer que estou doente. Mas mesmo assim foi muito bom.

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