Estávamos nós a preparar-nos para ir ao supermercado buscar almoço quando recebemos um telefonema do B. para irmos fazer um churrasco para o quintal dele. Não pensámos duas vezes. Passámos noites infinitas naquele quintal, conversas até às tantas da manhã, pizzas no forno de pedra de 500 kgs que foi arrastado por uma mota, caracóis, sardinhadas, peixeiradas e milhentos churrascos e outros tantos barris de cerveja e garrafas de vinho. Isto há três namoradas do B. atrás, quando ele ainda nem sonhava em ter os três filhos que agora brincam livres no meio da terra, quando nós ainda não pensávamos em ter filhos nem em tudo o que teríamos de passar para finalmente conseguir concretizar este sonho que agora ri louco de satisfação a andar de baloiço, lindo tão lindo que dói.
E ver-nos agora assim, os mesmos amigos mas com as vidas tão mudadas, deixa-me com um sorriso um pouco nostálgico. Porque há muitos anos atrás, quando trabalhava como empregada de mesa num restaurante para pagar a carta de condução e a faculdade e todos os pequenos luxos que fui querendo desde os 15 anos, lembro-me de ver os grandes grupos de amigos com os seus filhos que iam almoçar juntos ao sábado ou ao domingo, e pensar que um dia queria ser assim. Como me vejo hoje sentada a esta mesa de madeira à sombra, em frente a um prato cheio de salada com pimentos assados e salmão.
Não ficámos o resto da tarde porque tinha combinado ir a um pequeno desfile de moda infantil de uma colega que está agora a lançar-se no mundo dos laçarotes e das camisolas com golas mimosas (é só nestas alturas que penso que, se tivesse uma menina - ou quando tiver uma menina - ía ser uma autêntica barbie nas minhas mãos...). Levei Peter Pan comigo, vestido com uma t-shirt da marca, mas acabou por não desfilar como estava previsto, porque passou o tempo todo a dormir e só acordou com as palmas finais (e assim se perdeu um potencial talento internacional...).
Mas o convite para voltar e jantar estava feito, e depois de dar banho ao pequeno buda, vestir-lhe o pijama e dar-lhe a sopa e a fruta, voltámos para casa deles. Ainda tinha uma réstia de esperança que Peter Pan adormecesse antes de lá chegarmos, mas nada feito. Aguentou-se sentado à mesa connosco até às 10 da noite, a chupar bocadinhos de massa como gente grande, levou uns calduços do pequeno J. antes do L. lhe arregalar os olhos (como que a dizer "eu sei que és pequeno mas ninguém bate no meu filho!!") e acabou por adormecer no meu colo, exausto de um dia agitado e tão diferente da rotina calma que gostamos de cumprir.
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