sexta-feira, 3 de junho de 2011

Registar

Esta coisa serve também para registar datas. A minha memória não é lá grande espingarda. Noto isso agora, que a Tota está a morrer e eu tento lembrar-me qual o momento exacto em que a minha mãe levou para casa a cadela tresloucada que foi a companhia dela (e do meu pai) nos últimos 14 (ou 16?) anos. Não me lembro. Estava convencida que tinha sido quando eu saí para vir morar aqui (há 10 anos). Mas o meu irmão garante que ela já estava connosco quando eu andava na faculdade, e saltava alucinada para a minha cama quando ouvia o som do plástico do pacote de bolachas, e não saía de cima dos papéis que eu espalhava para estudar enquanto não lhe desse uma. Como é que me pude esquecer disso?!
Sempre foi motivo de comentários trocistas entre nós o facto de a minha mãe nunca nos ter deixado ter cães, mas ter ido buscar a "bicha maluca" assim que eu saí de casa. Para lhe fazer companhia. Para falar com ela e dar-lhe os mimos que os dois filhos já crescidos não estavam interessados em receber (idade da rambóia, era o que era…). Contas feitas, a Tota faz parte da nossa família praticamente desde que eu fui morar com a avó e entrei no 10º ano. 
Quando se mudaram as duas para cá, disse na brincadeira que “a bicha já deve anos ao criador, já passou o prazo de validade”. E nos últimos dias tenho dito o mesmo, num tom mais sério e apaziguador “mãe, ela não pode viver para sempre, sabes isso…”. Sabe, claro que sabe. Mas isso não diminuiu o desgosto de perder (mais uma) companheira de vida. Dizem que se pode ver o carácter de uma pessoa pela forma como trata os animais. A minha mãe traz a Tota à rua 3 vezes ao dia, e de todas elas, sobe e desce as escadas até ao 3º andar com a cadela ao colo, para não a cansar. E demolha a ração em leite até ficar mole, para não lhe doerem os dentes já fragilizados. E fala com ela como se fosse uma pessoa, conversas completas que a bicha ouve atentamente. Não conheço cadela que tenha sido (e ainda é) tão mimada e acarinhada.
É o único cão que tive. Que a minha família teve. 

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