terça-feira, 10 de novembro de 2009

Comemorar (II)

O que nunca vira na sua frente estava agora ali: uma casa, uns filhos de que se orgulhar e que nunca iria abandonar, uma existência onde residiria a felicidade das coisas quotidianas, o café partilhado, a conversa sucolenta, o leite quente e os segredos mútuos debaixo das colchas que os abrigariam no Inverno, os passeios pelo cais ao cair da tarde, os cabelos dela a ondularem ao som da brisa, os dias de praia, azuis e amplos (...) os silêncios cómodos do entendimento, os cigarros fumegando de uma boca para a outra, a intimidade das coisas fáceis, os dias do amor."
In: A ilha de Campiro

Se tivesse de comemorar a data do meu casamento, sería hoje. O dia em que assinámos a escritura desta casa, em que pegámos nos tarecos (livros e roupas, basicamente), e começámos a jogar o segundo nível. Há 8 anos.
No sábado estava a falar sobre isso com o N. Foi a melhor decisão que tomei: sair de Lisboa. Quando aqui chegámos não havia quase nada. Um café ao fundo da rua e pouco mais. Agora tenho uma padaria em frente à porta, com pão quente até às 8 da noite. Uma florista maravilhosa que me deixa alegre só de olhar para a montra dela. Uma farmácia na esquina, talho e congelados, e o cabeleireiro com ares de bicha maluca mas casado e com filho.
De vez em quando dizemos que temos de trocar de casa, que queremos um jardim para ter um cão, mas é só conversa, nunca sequer nos dignámos procurar. Porque gostamos de morar aqui. Porque a nossa felicidade continua a ser gostar de voltar para casa. Sou feliz aqui. E sou feliz com ele aqui.

Mary Fahl
"Going Home"

3 comentários:

  1. O importante não é a localização ou tipologia da casa, mas sim a capacidade que temos de a transformar em Lar.

    ResponderEliminar
  2. A simplicidade deste post emocionou-me :)

    beijinho

    ResponderEliminar
  3. Disse, é exactamente isso que eu penso :))

    Anna^, não há receita milagrosa nem fórmula complicada :)

    ResponderEliminar