A Lara nasceu no dia 30 de Junho, à meia noite e dez minutos. O parto estava previsto para dia 17 de Julho. E eu e a Paula gozávamos que ía nascer no dia do Pedro ("oh pá, isso não, assim vamos ter sempre problemas nas festas de anos dos putos!!"). A Lara, por vinte minutos, não nascia no dia de anos do meu irmão. E eu, que não precisava de nenhuma data simbólica para me lembrar do seu nascimento, fiquei a sorrir com o simbolismo.
A Lara já era amada antes de nascer, já é a minha sobrinha do coração, filha da irmã que não tive mas tenho. Por isso tem nome próprio aqui, tal como a mãe.
A Lara teve uma complicação de saúde e foi operada de urgência esta madrugada. Às quatro da manhã recebo um sms a dizer que tinha corrido bem, mas que a recuperação ía demorar. Agora soube o resto pelo fio de voz de uma mãe que está a tentar aguentar-se como eu não imagino que seja possível fazer. A Lara está em coma induzido e ligada ao ventilador, para não sentir dores. A Lara vai passar pelo menos um mês internada. Mas a Lara vai ficar bem. Foi tratada a tempo, estão a cuidar dela. Digo isto com toda a convicção e fé mas sabendo que são palavras vãs para a mãe que chegou a casa sem a filha nos braços. Que olhou para o quarto branco e cor-de-rosa vazio, à espera do calor e dos sons de uma bebé rechonchuda de três quilos e meio. Digo isto mas queria abraçá-la em silêncio porque não há palavras que justifiquem ou façam compreender esta puta desta injustiça, tento imaginar-me no lugar dela e não consigo, sinceramente não consigo conceber essa imagem de vazio e revolta, só sei que se estivesse no lugar dela queria que me deixassem em paz, não queria ver ninguém, ouvir ninguém, por isso respeito o espaço e o tempo mesmo que a minha vontade seja largar tudo e ir dar-lhe colo, só isso, colo.
Repito que vai ficar tudo bem, já nem sei se para ela ou para mim, contenho as lágrimas para aguentar as dela, e chego a casa e contemplo o meu filho com um olhar de pura adoração e agradecimento a Deus. O mesmo olhar que ela terá daqui a umas semanas, quando levar uma bebé rechonchuda de três quilos e meio para casa.
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