quarta-feira, 29 de julho de 2015

Momento (CCXI)

No primeiro dia de escola nova, Peter Pan chegou confiante de mão dada comigo, mas quando percebeu que eu não ía ficar com ele ali, desatou num pranto, agarrado primeiro às minhas pernas, depois ao meu pescoço, quando o peguei ao colo para ser eu a entregá-lo ao colo da educadora. Saí pela porta com os gritos dele a ecoarem-me nas têmporas "Mamã!! Mamã!". Sentei-me no carro a sentir-me miserável e sem reação para dar à chave e arrancar. Quando fomos (pai e mãe) buscá-lo à tarde, Peter Pan (que passou o dia sereno e a brincar com as outras crianças) abraçou-nos e fez-nos festas na cara e fixou-nos com o olhar, como se nos dissesse "afinal voltaram!!"

No segundo dia de escola nova, Peter Pan, depois de vários minutos de negociação, só aceitou sair do carro se eu o levasse ao colo até à porta de entrada. Aí, coloquei-o no chão, e ele sentou-se amuado de costas voltadas para mim. Esperei que olhasse para mim de novo para lhe dizer adeus (não fugi às escondidas, quero que ele me veja a ir embora, com a certeza que vou sempre voltar), peguei nele ao colo e entreguei-o ao colo da educadora. Começou a chorar mas não se agarrou ao meu pescoço, e quando cheguei à porta de entrada e parei para ouvir, já não senti o choro dele. Durante o dia fui sendo descansada nos telefonemas "ele está bem, nem parece um menino em adaptação, ele é muito desenvolvido a nível emocional, está muito calmo e nem sequer usa a chucha como segurança..."

Hoje, no terceiro dia de escola nova, Peter Pan chegou à porta de entrada e largou a minha mão. Entrou na sala dele decidido e sem olhar para trás, aproximou-se de cada uma das três educadoras para receber um beijinho, com um sorriso tímido e envergonhado. E eu fiquei à porta, olhos esbugalhados e rasos de lágrimas, mão na boca num espanto incontido. Olhou à volta à procura da cara conhecida do F., o amiguinho que já conhecia da ama, e tive de o chamar para me dar um beijinho de despedida. Ajoelhei-me no chão e olhei-o nos olhos, repeti-lhe que ía trabalhar, mas que voltava para buscá-lo à tarde, "eu volto sempre, meu amor". Ele acenou que sim com a cabeça e virou-me as costas, seguro e sereno, e eu fugi pela primeira vez, não por ele, mas para as educadoras não me verem a chorar de pura comoção e alívio por sabê-lo bem e confiante. Por sabê-lo feliz.

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