terça-feira, 9 de novembro de 2010

"É preciso chover para se ver o arco-íris"

Li esta frase pela primeira vez talvez há uns quatro anos, numa altura em que precisava de respostas, de informação, e então procurei e devorei tudo o que tinha a ver com infertilidade, tratamentos, testemunhos, tudo, tudo o que me pudesse ajudar a compreender e a preparar-me para o que aí vinha. Não ajudou grande coisa, nem a preparar-me para aquilo que cada pessoa, cada casal, experiencia de uma forma única e intransmissível, apesar de haver pontos em comum (a revolta é universal, a procura de uma justificação também), e muito menos a compreender o que não tem explicação possível, já deixei de questionar o porquê mil vezes, e voltei a fazê-lo mil e uma, para chegar sempre à mesma conclusão, que é nenhuma, que não vale a pena tentar perceber a razão de haver crianças de 10 anos a engravidar (o meu irmão contou-me isto num dia destes, e só depois de a C. lhe lançar um olhar assassino é que ele pensou que não o devia ter dito, não a mim, mas não me importei, a sério que não, é algo com que aprendi a conviver pacificamente, o que me f&%$, o que me f&$% mesmo muito ainda é tentar perceber porque é que há mulheres que são violadas e engravidam, mesmo com todos os traumas e sofrimento atroz que não posso nem quero imaginar, e engravidam quando era a última coisa que queriam que acontecesse, e eu passo duas semanas a injecções com todos os efeitos secundários que elas têm, faço uma inseminação toda bonitinha e desconfortável, venho para casa e passo o resto do dia a dormir, passo as duas semanas seguintes em pezinhos de lã, a evitar escadas e conduzir e fazer esforços, a beber muita água e a alimentar-me como deve de ser, a ter a vidinha mais calma e relaxada à face da terra, e nem assim...).
Mas não era isto que eu queria dizer, não vale a pena falar assim tanto sobre os fracassos, é como eu vejo cada tratamento falhado, um fracasso, mas também já li que devia ver isto como um período de tratamento, em que o acumulado das tentativas e o ajuste da medicação é que geram uma taxa de sucesso mais alta, é conversa bonita, sim senhor, mas quando se abre o envelope da análise e se lê o resultado que nem é Positivo ou Negativo mas sim <10.0 ou >10.0, essa m$#$& não interessa nada.
No meio disto tudo, a frase ficou-me, e hoje, no regresso de mais uma consulta (que não será a última) vi não um, mas dois arco-íris a sair de uma nuvem negra e feia (e ainda bem que - ainda - não há portagens na A23, senão eu tinha pago mais um bocado porque saí no primeiro lanço só para tirar uma foto - ranhosa, mas foi o que se arranjou).

2 comentários:

  1. Aqui neste meu cantinho,tenho torcido por ti e fico angustiada quando sinto o teu desalento...a vida é f£@%&a e nem sempre justa...mas não percas a esperança!
    Um abraço com muito mimo.

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  2. Anna^, eu acredito e agradeço, e as tuas palavras também servem para ti, para aqueles dias em que não vês melhoras ou não sabes como ajudar, o que interessa é não desistir (eu não tenho comentado, mas vejo tudo...) :)

    E isto não é desalento, só a recordação de um desalento que já aconteceu, já passou (não uma, mas duas vezes), porque o que eu queria dizer mesmo é que tinha visto dois arco-íris, o resto saiu-me de rajada :))

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