Quando tinha praí doze ou treze anos, fomos os três (a mãe, eu e o N.) passar o dia a casa de uma tia para ficar de olho no pintor que lá andava a pintar as paredes, enquanto ela ía trabalhar. O N. andava a correr pela casa toda e de repente raspou com o joelho nos ferrolhos de uma lata de tinta. Raspou não, cortou o joelho até se ver o osso. E nessa altura, enquanto gritava pela minha mãe, ajoelhei-me à frente dele e enrolei-lhe um pano à volta da perna, sem sequer pensar na quantidade de sangue e carne cortada que estava a ver. Não me lembro de ter ficado mal disposta nem à beira do desmaio, reagi sem pensar, acho que é a isto que se chama uma descarga de adrenalina, no momento certo fazemos o que tem de ser feito e pronto.
Uns anos mais tarde, na Serra, o N. (realmente, o meu irmão é uma enciclopédia de desastres caseiros...) lembrou-se de ir cortar presunto com uma faca novinha em folha (e bem afiada...). Resultado, um corte num dedo que lhe deixou um bocado pendurado, quase a cair. Também nessa altura não me lembro de ter tido nenhuma tontura ou náusea. (Ainda há aquela história de ele ter ficado com um dente de outro puto espetado na testa, a jogar futebol, os dois a tentar chegar de cabeça à bola, mas por alma de quem é que o outro ía de boca aberta?...)
Acabei de fazer um corte num dedo, nada de especial mas arrancou uma lasca de carne, sangue a escorrer sem parar, pressionar com força e enrolar em gaze (algodão não, que depois agarra-se à ferida e para arrancar é um martírio - palavra de N.) esperar um pouco e tirar para ver como está. Voltar a ver o sangue a escorrer e começar a ficar nervosa, "mas isto não pára porquê?", o L. a despejar-me água oxigenada para cima do dedo "isto não arde nada" (camelo, hás-de pagá-las...) e a enrolar mais gaze, eu a olhar para o lavatório raiado de vermelho vivo e a começar a ver tudo desfocado, uma náusea, sentar-me para não cair, respirar fundo para não desmaiar.
(Estou feita uma mariquinhas...)
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