quinta-feira, 12 de junho de 2014

Atiçar a chama

Tenho saudades de estar grávida. De ter uma barriga redonda e sentir-me a mulher mais bonita do mundo.
Tenho saudades de pegar a medo em três quilos de gente e sentir o cheiro inconfundível de bebé de leite. Porque os meus braços ficam cada dia mais pequenos para envolver os treze quilos de gente que pede "cóio".
Tenho saudades de ouvir os barulhinhos e miados gemidos dos primeiros dias de vida. Porque o meu amor pequenino (será sempre o meu amor pequenino...) tem voz grossa e já não se cala um segundo, refila e faz queixinhas e pede o que quer numa linguagem que ganha novas palavras a cada dia, cada vez mais específicas, cada vez mais perfeitas.
Tenho saudades de ver as expressões faciais de um ser que parece que aterrou de repente noutro planeta, e para quem tudo é novo e fascinante e assustador. De vê-lo a tentar fixar o olhar, a descobrir as mãos e os pés, os sons e a luzes.
Tenho saudades de sentir uma mão minúscula a agarrar-me o dedo com força, porque agora as mãos papudas do meu filho servem para dar palmadas e espalhar comida pelo chão.
Até agora, tenho vivido cada fase de crescimento e desenvolvimento de Peter Pan com um deslumbramento assombrado e orgulhoso, e vê-lo crescer assim, saudável e bem-disposto, é a maior benção que podería ter pedido. Tenho aproveitado cada nova descoberta e cada nova habilidade, dou por mim parada às vezes só a observá-lo, a ver como se move, para onde olha, do que gosta.
Mas já tenho saudades de começar tudo de novo.


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