segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Com uma vénia

 Depois do dia de ontem, leio isto e só penso que é verdade, que as crianças felizes são as que não param quietas, as que têm os joelhos todos esfolados e "galos" na testa (por muito que isso me tire anos de vida).

"(...) Pois, eu antes também era assim. Sem filhos, com uma vida entre imperiais, noitadas e horas perdidas nas zaras (mentira, eu não comprava na zara, a zara é um lugar de pós-parto e de contenção, para gastar trinta em vez de cento cinquenta), enfim, com uma vida umbiguista e despreocupada de vez em quando também me lembrava de cagar umas sentenças sobre as crianças. Sobre os filhos dos meus amigos, sobre os putos que berravam na rua, sobre as crianças que eu um dia iria parir e criar com o maior dos sucessos. Ah, os meus filhos, que êxito!, esses nunca fariam uma birra, qual quê, nem cuspiriam a comida, não gritariam a um estranho, eles seriam um exemplo de educação, primor, limpeza e cordialidade. Olha, bem me fodi. Porque, olha que máximo, os putos não saem ensinados e por muito que se lhes eduque os gajos têm memória de peixe e ao minuto seguinte tem-se que se voltar a repetir tudo. Criar um filho é como falar para o boneco, literalmente. Senta-te bem, fecha a boca, olha para a frente, pede por favor, pede desculpa, agradece, dá um beijinho, não corras, não te sentes no chão, não se faz, faz isto, faz assim, faz depois, espera, não esperes, come tudo, não comas tanto, uma infinidade de ordens e mandamentos que se repetem a todas as horas, a todos os minutos, no restaurante, à frente de amigos a quem já lhes cobrámos a má educação das suas crias (Deus de facto tem um sentido de humor do caralho), no cabeleireiro, sempre e em todo o lado. E nós com sono, cansados, com ressaca, com dores de ovários, de dentes, de costas, com dias de merda no trabalho, sem pachorra e sem dinheiro para pagar uma criada interna e fugir dali para fora durante um fim de semana e fingir que ainda temos uma vida, aquela vida em que se liam livros nas férias e se dormia até ao meio dia num sábado qualquer, uma vida em que se improvisavam escapadelas românticas e jantar às onze da noite.  E isto tudo cansa, foda-se, ai se cansa. Mas é assim. Não deixamos de gostar deles, nem sequer de adorar a nossa vida, só porque temos que os educar e castigar e reprimir e dizer que assim não, explicar que estão a ser mal-criados e tudo isto para que algum dia, como por milagre, aquilo que a gente repetiu durante horas e horas assente ali no meio de cérebro e de repente deixem de gritar, cuspir e correr. Mas claro, minhas queridas, isto custa. Os gajos choram no meio da rua e nós deixamos que chorem e berrem porque não vale a pena ir ali, nhó nhó nhó, ai coitadinhas das pessoas não podem ser incomodadas. Birras são birras. E às vezes estão a fazer merda da grossa e têm que levar uma palmada no meio de restaurante todo pipi para horror do casalito de fashions que está a tomar o seu brunch às quatro da tarde e não suporta ouvir a voz de uma criança. Paciência, é do lado que melhor durmo. Prioridades. E entre as prioridades há algumas mais prioritárias que as outras, mais importantes, menos importantes e outras absolutamente cagativas. Oh Rititi, então, está negativa? Não, não estou. Estou-vos a dizer, suas inteligentes, que se lembrem disto da próxima vez que virem uma mãe a deixar o puto correr na piscina à vontade, a atirar-se de bomba, rir-se à gargalhada e curtir o bom de ser criança. Educar não é mandar o puto calar só porque vocês querem dormir a sesta. Desculpem lá, mas isso para mim é cagativo."

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