Quando me despedi de Peter Pan ao final da tarde ele tinha acabado de vomitar no carro e estava murchinho que dava dó, cabeça encostada de lado, uma lágrima a querer cair do canto do olho, minha vontade irracional de agarrá-lo e embalá-lo no colo e sofrer em mim todas as dores e mal-estar com que os dentes molares o têm atormentado nos últimos dias, tanta baba que lhe deixa a pele das bochechas irritada, tanto ranho de uma constipação que teima em não passar, que se vai acumulando no estômago até sair como pode, deixando o meu amor pequenino de rastos e sem forças.
Só queria telefonar e dizer que não podia ir, que fizessem a feira sem mim, que os japoneses e libaneses e angolanos todos juntos não tinham valor comparado com o meu coração fora do peito, encolhido de preocupação e medo e culpa de "abandonar" o meu filho durante três dias. Deixá-lo alegre e bem-disposto já sería suficientemente penoso, mas despedir-me de um bebé choroso e a pedir mimo exigiu uma força extrema, engolida a seco pela certeza de que ficava bem entregue aos cuidados do melhor pai que lhe podia ter calhado em sorte.
(Mas a dor não passa...)
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