quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Com uma vénia (IV)

"(...) é fácil haver amor numa tempestade e fácil haver numa altura de grande felicidade. O que me parece mais verosímil , e verdadeiro teste do trigo e do joio, é descobrir o amor na rotina, no dia-a-dia, na modorra do passar do tempo igual.
Amar alguém descobre-se na discussão do saco do lixo que nunca é esvaziado. Na eterna luta com o rolo de papel higiénico que não é substituido. Na companhia que se faz ao outro quando passa a ferro. Amar alguém de verdade descobre-se nos pequenos nadas que preenchem a maior parte dos nossos dias.
Eu amo quem me dá a mão numa tempestade. Sou grata por isso. Quero-o ao meu lado.
Eu amo quem me faz feliz e saborear o algodão doce das nuvens. Sinto-me especial por isso. Quero-o ao meu lado.
Esse é um amor fácil. Mas, felizmente e infelizmente respectivamente, esses estados são passageiros.
Eu quero amar e quem me ame num dia nublado. Sem história. Igual a milhares deles. Quero amar quem me traz uma bola de berlim com creme extra quando tenho TPM. Quero que me amem quando ando a resmungar que há pregos e parafusos por todo o lado porque se não arrumo, ninguém arruma.
Não há felicidade extravazante em pregos e parafusos e também não há tempestades na TPM, mas pode haver amor. O amor que nasce e floresce apesar de não haver tempestades nem estrelas nos olhinhos. O amor que nasce de mãos dadas a olhar para uma parede depois de uma discussão sobre papel higiénico. (...)"

1 comentário: