sábado, 7 de julho de 2012

Esticar a corda

Tinha falado nisto há quase um mês "não sei se este ano consigo ir à Serra no aniversário do meu pai...". O assunto ficou por aí, mas ontem de manhã ele lembrou-se (eu às vezes acho que ele não liga ao que eu digo, e depois fico surpreendida...) "sempre queres ir lá acima amanhã?". Avisei a mãe para preparar-se mas sem avisar ninguém, e esperei para ver se havia algum desenvolvimento durante a noite. Nada. Para além das dores estranhas que já ando a sentir há uns dias, nada de especial. Então arriscámos. Metemos o saco para a maternidade mais o criokit mais a mãe no carro, e fizémo-nos à estrada. Qual era a pior coisa que podia acontecer? O puto nascer na Covilhã ou em Manteigas? Também nascem bebés nas Beiras e tenho a certeza que são rijos.
Escolhemos a rota mais curta, metade dela em auto-estrada, para chegarmos o mais rapidamente possível (duas horas e meia), abrimos o portão do cemitério vazio e fiquei a conversar um pouco com o meu pai enquanto a mãe arranjava a jarra com o ramo de rosas brancas que tínhamos levado: uma por cada um de nós, mulher, filhos, noras e genro, e netos. No primeiro ano foram oito, o ano passado foram nove, este ano são doze rosas. A família está a aumentar, pai. Deixámos a mãe sozinha para ter o seu momento de instrospecção, depois respirámos fundo e fomos fazer uma visita relâmpago à família, primeiro a minha madrinha, depois a tia C. "E porque é que não avisaram, e fiquem para almoçar, e pelo menos sentem-se um pouco..." Que não, que só queríamos dar um beijinho porque tínhamos de regressar para eu ir descansar (metade verdade metade desculpa...), e que almoçávamos pelo caminho, e que para a próxima vínhamos com mais tempo (é a mesma conversa há três anos, mas que queres? Ainda não me sinto bem a ficar, tudo me traz memórias, todas as conversas vão dar a ti...).
A verdade é que tínhamos combinado encontrar-nos com um antigo colega de escola dele, que já não via há mais de dez anos. A (nossa) lagoa estava deserta (lembras-te das nossas férias, dos piqueniques, de eu quase me ter afogado ali quando tinha seis anos e de a mãe se ter atirado à água para me ir buscar, por instinto, mesmo sem saber nadar?) e a conversa parece que passou a correr, o tempo suficiente de beber um chá acompanhado de biscoitos de chocolate, um resumo dos últimos dez anos contado em pouco mais de meia hora, mas com a promessa de repetir, de nos encontramos de novo quando ele vier "cá abaixo".

 

 Depois das despedidas, subimos à Torre que mal se via envolta em nevoeiro, e onde o carro marcava uma temperatura exterior de uns estuporados 9º (em Julho!! Coitadas das pessoas que estão de férias agora, passaram um ano inteiro à espera destes dias de sol e calor, e levam com um tempo destes...).


Como eu estava a sentir-me perfeitamente bem, decidimos regressar de nacional, passando pelo Fundão. Até aí tudo bem, parámos para comprar cerejas e pêssegos, e... seguimos pela Serra da Gardunha. Ora bem, as duas horas seguintes foram um delírio para ele, e um desconforto para mim. Não me lembro de alguma vez ter visto tanta curva e contra-curva seguidas. Aquela estrada não tem rectas. Foram duas horas de movimentos ondulantes, com Peter Pan (que nas viagens de carro nunca se acalma) em desassossego absoluto. Sei que o L. adorou a estrada, e se não trouxesse uma grávida e uma foca no carro ("Então já dormiu tudo? Ía aí de boca aberta e a coçar a barriga, parecia uma foca!!..") tería aproveitado muito mais, com travagens em cima das curvas e acelerações que não fez para meu (nosso) bem. Já lhe disse que pode lá voltar, mas sozinho, que eu odiei.
Perto das oito da noite achámos que era melhor começar a procurar um sítio para jantar, e poucos minutos depois damos de caras com a entrada para o Festival Gastronómico do Maranho e Bucho. É mesmo aqui!! Deixámos o bucho para as filas intermináveis à porta dos restaurantes, e comemos sopa da pedra, bifanas e melão de Almeirim ("foi apanhado há dois dias, está uma maravilha" - estava sim senhor...) numa tenda de Confrarias, antes de fazermos a última hora e meia até chegar a casa.
Quando chegámos aos semáforos e eu já quase conseguia cheirar  o meu sofá, olho para fora e vejo fogo-de-artifício no céu (de algum casamento na quinta da ponte, concerteza). Arrancou-nos um sorriso esta forma inesperada de acabar um dia cheio (e como ele disse, "muito longo").

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