Ouvir e sentir (XLVI)

Só isto...

Evanescence e Seether
"Broken"

Gritar

Ouço a voz dele no carro, num tom imperturbável, a tentar consolar-me "deixa lá, vais ver que passa num instante..." e pergunto-lhe se não o incomoda a espera, num tom de lamúria, quando o que me apetece é gritar-lhe "mas tu não sentes nada, não mostras nada? Continuas a tua vidinha como se isto não te afectasse, como se fosse algo que se acontecer é bom, mas se não acontecer não faz muita diferença? As tuas prioridades mudaram, foi? Agora o importante é o emprego novo e o curso, é? Sou só eu que quero isto? Sou só eu que sinto isto?"

O pior...

... não foram as 3 horas na sala de espera a abarrotar de casais como nós. Não foi ver uma mulher cá fora, lavada em lágrimas, como eu já estive também ali, e saber que a compreendo tão bem. Não foi mais um exame que incluía o frio e desconfortável bico-de-pato. Não foi a descrição detalhada do processo que nos espera, medicamentos que vão custar entre 500 e 1000 €, idas a Coimbra de dois em dois dias, sempre às 8 da manhã, a punção feita com anestesia geral, outra possível biópsia para ele, a transferência de 2 ou 3 ovócitos "como preferirem", a espera angustiante de 2 semanas para saber se resultou, e em caso afirmativo, o internamento durante 1 ou 2 semanas, para "garantir um controlo apertado do início da gravidez, que não teríamos se fosse para casa". Nem sequer foi a informação de que as hipóteses de sucesso são de 30% "ou seja, em cada três mulheres que fazem o tratamento, só uma fica grávida".
O pior foi saber que só vou ser chamada daqui a 3 meses. Que vou ter de esperar até Junho ou Julho para iniciar o tratamento. Esta espera corrói-me, tira-me as forças e o alento, desespera-me.
Eu quero acreditar nos sonhos, mas já não é este ano que tenho um filho.

Sonhar (II)

Porque gosto de histórias de amor com final feliz, gosto de cavalos e de paisagens de cortar a respiração, gosto da beleza de Nicole Kidman, do sorriso do pequeno Brandon Walters e do olhar de Hugh Jackman (pronto... não é só o olhar, é tudo o resto..).

Angela Little
"By the boab tree"
Australia OST

Falta aqui qualquer coisa

A casa hoje está mais vazia. Durante uma semana tive uma peça de mobília a mais, a passear pela casa de robe e chinelos. Hoje foi embora. Mas sabe que pode voltar quando quiser.

Ouvir e sentir (XLV)

Porque me dá vontade de dançar.

Alesha Dixon
"The Boy Does Nothing"

No dia em que fiz 31 anos...

... não vi o mar mas vi o rio...



... passeei de mãos dadas com olhos de turista...


... sentei-me ao sol quente da tarde, num banco de jardim em frente aos poetas...

... recebi sorrisos da princesa, sempre bem-disposta mesmo com o nariz todo entupido...

... jantei com quem partilha comigo os momentos e sonhos e desafios dos anos...

... e acabei a noite na Casa Antiga, no abraço de sempre.


(Também fomos com o carro à oficina - o desgraçado não gostou de passar ribeiras - e levámos as bichezas ao veterinário...)

Conversas com café

- E hoje, onde é que queres ir passar a noite?
- Não sei, gostava que me surpreendesses...
- Deixa estar, assim que vires a conta da oficina ficas logo surpreendida!

Surpresa

- Esta tarde não te quero pôr a vista em cima. Vai para casa comprar uma prenda para a tua mulher.
(Um patrão que fala assim só pode ser um gajo porreiro.)

Momento (LIII)

Obrigado pelo bolo! :))

É só mais um

Podia dizer que agora é que vai ser um 31, que este ano vai ser melhor, que eu vou fazer por isso. Que vou festejar muito pelo (simples?) facto de estar viva, de ter aqueles que amo à minha volta, de ter saúde e um emprego estável (um luxo nos dias que correm). Sei que devia estar alegre, ser a rainha da festa por um dia, receber as atenções e os mimos sem sentir que são demais.
Estou agradecida por tudo o que tenho na vida, por tudo o que estes anos me têm dado, o bom e o mau, que me ensinou a dar mais valor às pequenas conquistas e momentos de felicidade. Mas não sinto a excitação que é suposto sentir, só me apetece fugir para um lugar sossegado, onde ninguém me conheça e onde só ouça o mar. Um lugar onde possa ser eu mesma neste dia, passá-lo como me apetece, de uma forma serena, sem me sentir na obrigação de me "divertir".
Porque dias destes servem para fazer balanços, para olhar para trás, para todos os passos já dados; e olhar para a frente, para o caminho que nos falta percorrer. E cada ano me custa mais essa análise, cada ano há mais coisas para pesar na balança, que nem sempre pende para o lado que eu queria.

Glen Hansard e Marketa Irglova
"When Your Mind's Made Up"
Once OST

E todos estes anos...

"(...) a vida continuou a florescer e a fenecer, entre esperanças e sonhos sempre temperados por uma realidade que raramente cumpria tudo o que desejava."

In: O Império dos Pardais

Haja combustível!

Na terra da avó... (II)

... já cheira a Primavera...

Ouvir e sentir (XLIV)

Depois de receber o queijinho fui ver o filme.

Glen Hansard e Marketa Irglova
"Falling Slowly"
Once OST

Desdramatizar

- Esta noite sonhei que me tinhas deixado.
- Tinha-te deixado onde?

(é por estas e por outras que eu não te deixo)

Ouvir e sentir (XLIII)

Descaradamente roubado à mãe que eu sonho ser.

Hollywood, Mon Amour
"Eye Of The Tiger"

Dejá vu

Já tinha saudades destes jantares, de ficar a ouvi-los em conversas que não fazem sentido para mais ninguém, de observar os gestos descontraídos de quem está em casa, de sentir as gargalhadas da Paula a encherem a cozinha, entre duas garrafas de Pêra-Grave e pedaços de pão com queijo e marmelada.
O F. deve ter ficado a pensar que somos completamente passados... é melhor ir-se habituando... que isto só tende a piorar...

Saturação

Cada vez tenho menos paciência para isto: sou a única mulher numa sala de espera cheia de vendedores engravatados, daqueles que eu abomino.
O meu casaco amarelo-torrado destoa no meio dos fatos cinzentos e azuis-escuros, o meu moleskine destoa no meio dos telemóveis e portáteis no colo, o meu silêncio destoa no meio das conversas de circunstância da treta que me ferem os ouvidos e me fazem desejar estar numa horta a regar couves.

Até quando?

Ouço as gargalhadas dele na sala, a ver o "Bolt", enquanto eu acabo de traduzir e resumir um estudo de 77 páginas (espanhol).
Digo para mim própria que é só desta vez, que não volto a trazer trabalho para casa, que não volto a conspurcar a minha paz e aconchego, que não volto a contaminar este espaço com um stress que não é o meu.

Merecer

Não foi a interpretação comovente de Will Smith (que eu passei a respeitar completamente desde "Pursuit of Happiness"), nem a história (já um pouco batida) de um homem que perde tudo o que importava e procura uma forma de redenção.
O que me ficou deste filme foi a ideia do merecer, a ideia de um ser humano bom, e como reconhecê-lo, e como confiar nele. O que me prendeu a este filme foi a ideia de conceder uma segunda oportunidade, uma nova vida, ajudando com um critério mais apertado: não só porque precisa, mas porque fez por ser digno dessa ajuda, de forma inconsciente, sem o saber.
Como distinguir essa bondade genuína? No meio de tantos, porquê aqueles seis? O que os distinguiu?
O que os fez merecer?

Angelo Milli
"The Field"
Seven Pounds OST

Momento (LII)

.... estrategicamente colocadas no banco do pendura.

Mimos

Hoje não recebi rosas vermelhas, nem nenhum Swatch com florzinhas, nem nenhum urso de peluche agarrado a um coração vermelho (graças a Deus, que já não há pachorra para isso, e o espaço nos armários faz falta para guardar sapatos e não peluches... mas às rosas não dizia que não... adiante...).
Mas recebi um prémio, o meu primeiro prémio aqui no blog, que me deixou muito orgulhosa porque se lembrou de mim, e porque apesar de todas as neuras e dúvidas existenciais, acho que até sou bem resolvida (nada baralhada e distraída como diz o outro).

Faz parte da coisa escolher outras mulheres (que eu considere bem resolvidas, de preferência), distribuir o selo e avisá-las. Eu prefiro mandar-lhes sorrisos, abraços, carinhos, mimos, festinhas no cabelo, gargalhadas e agradecimentos.

Amor é...

... oferecer-lhe algo que sei que ele vai adorar (mesmo que me vá fazer passar algumas vergonhas).

Momento (LI)

"(...) cinco vivências no etéreo universo dos Sonhos:

o Tempo, enquanto percurso para o momento perfeito;
o Movimento, enquanto libertação no ensaiar do primeiro passo;
a Luxúria, enquanto extâse na antecipação do proibido;
o Pesadelo, enquanto abismo em que se fundem auto-limitações;
e a Celebração, enquanto festa de um despertar para o sortilégio da vida."

Visions - O Espírito dos Sonhos

Momento (L)

Jantar com a R. (e mais 1000 pessoas, pelo menos), num ambiente onde todas as tapeçarias e tecidos, todos os lustres e espelhos e a montra da Louis Vuitton transpiram luxo e beleza.

Depois do jantar, ficar pelo bar a bebericar um Moscatel, enquanto misturamos conversa de trabalho com técnicas caseiras de fazer vinho.

Ossos do ofício (III)

À minha frente os chocolates Avianense e a Pastelaria do Castelo, mais à frente a Adega de Borba e o mega-stand dos Açores, exageradamente decorado com arranjos de flores magníficas e mesas cheias de queijos regionais, enquanto o ar é invadido pelo cheiro hipnotizante de pastéis de nata acabados de sair do forno.
Entre provas de doces caseiros ou de vinhos (que começam às 9 da manhã e duram o dia todo), este não é um sítio para quem está de dieta.

E as próximas três noites...

... vão ser passadas aqui.


(como ele diz: há grandes vidas, há...)

Os próximos três dias...

... vão ser passados aqui.

Fazer mato (II)

Mesmo com "pneus de ir aos morangos", já deu para ver coelhos a saltitar à nossa frente.

Ternura (III)

Ele diz duas palavras num tom de voz mais alto enquanto brinca com a I. e a princesa assusta-se e começa a choramingar com birra de sono.
Pego nela ao colo e encosto o corpo pequenino e quente ao meu peito, como tantas vezes sonhei fazer com um filho meu. Sinto o calor que emana do pijama cor de rosa, e começo a sentir a cabeça dela a pender pesadamente no meu ombro, enquanto os dedos em miniatura brincam com os meus cabelos (puxar sería o termo mais adequado).
Quando vejo as pestanas a fecharem-se sem resistência, vou deitá-la e aconchego-lhe a manta junto à bochecha, como ela gosta. E fico a vê-la ainda a esfregar os olhos, enquanto estremeço de frio.

Cuidado com o quê?

Conversas no carro (III)

- Agora tenho de ter cuidado para não pôr gasolina em vez de gasóleo. Espero não me esquecer.
- Só te peço uma coisa: se isso acontecer, não ponhas o carro a trabalhar... se reparares a tempo... se não reparares também não faz mal, porque ele dá o berro logo a seguir. Ou então vais às bombas só à tarde.
- Porquê?
- Podes estar menos distraída ou baralhada.
- Mas eu não sou distraída e baralhada!
- De manhã ou o dia todo?

Conversas no carro (II)

- F$%&%$, não gosto nada de fazer isto, se tivesse dinheiro ficava com todos os carros que já tive. Parece que vou levar uma vaca para o matadouro.

Conversas ao jantar (XVII)

A propósito de um cliente dele que vai começar a fazer concorrência à "minha" empresa:
- Tu é que podias ir trabalhar para lá.
- É simples, da próxima vez que lá fores, diz-lhes que a tua namorada trabalha...
- Mulher. Namorada não, mulher! F#$%$#, andei tanto tempo para me habituar, não estragues tudo agora!!
E eu abraço-o e digo que seremos sempre namorados.

Ouvir e sentir (XLII)

Katy Perry
"Thinking of you"

Private (V)

Não inventes. Deixa-te estar mas é sossegadita. Depois apanhas mais uma desilusão e andas aí a chorar pelos cantos. E tu não queres isso, pois não?
Então fica quieta. Não penses.
Não sonhes.

Impulso

Inexplicavelmente agarrados ao meu saco de compras vieram três pacotes de bolachas com pepitas de chocolate, um pacote de mini Oreos, um pacote de mini croissants e meio queijo curado.
Eu devo andar carente.

Um domingo perfeito

Levantar ao meio dia, "almoçar" lasanha às 4 da tarde, arrastar-me pela casa em pijama enquanto vejo a chuva a cair lá fora sem descanso, e afundar-me no sofá a ver "The Women".

KT Tunstall
"Someday Soon"
The Women OST